Nesta Elvas “mui nobre e leal” que, em 1513, o Rei D. Manuel elevou a cidade como “acrescentamento de honra” e em “louvor e memória” dos “grandes e muitos serviços” recebidos das suas gentes, comemoramos hoje Portugal, a sua história, a sua língua e o seu povo.
Celebramos a singularidade de Elvas.
Como escreveu José Hermano Saraiva, “Hoje, Elvas não é nem fortaleza fronteiriça, nem alfândega, nem sede episcopal. Mas a sua enorme e recortada cintura de fossos, as escarpas, os revelins e os baluartes dão-lhe uma sedução de joia antiga”.
O Aqueduto da Amoreira, com as suas oito centenas de arcos, marca a memória de quantos, ao longo dos anos, por ele passaram.
Olhando a Norte através dos seus arcos, surge, alcandorado na sua verdejante colina semeada de oliveiras, o Forte da Graça, obra ímpar da arquitetura militar de Setecentos, que domina as paisagens em redor.
As imponentes portas de armas da Cidade, as suas muralhas seiscentistas, as torres e os arcos das suas igrejas e a alvura das suas casas são testemunho de uma gesta heroica, intimamente ligada ao destino de Portugal.
Dentro, recebem-nos os Elvenses, acostumados pelos séculos às agruras dos tempos difíceis, que custearam a construção da maior parte destes gloriosos monumentos e que veem hoje saudado o esforço dos seus antepassados com o reconhecimento internacional da sua cidade.
Porta alentejana de Portugal, grande urbe fronteiriça, Elvas é uma presença constante nas páginas da nossa história, um reduto militar essencial à manutenção da independência do nosso País.
“Chave, defennça e escudo
Sou do Reyno Luzitano
Freyo sou do Castelhano
Elvas sou e digo tudo”
Assim escreveu o poeta seiscentista António Serrão de Castro.
A preciosa “Chave do Reino” foi-se fortificando até se tornar no imenso reduto que conhecemos, quase inexpugnável.
A importante vitória alcançada em 1659, durante a Guerra da Restauração, na famosa Batalha das Linhas de Elvas, cujo terreiro foi recentemente qualificado como Património Nacional, constituiu uma vitória tática e estratégica que, ao demonstrar a capacidade de defesa do nosso País, potenciou apoios externos, determinantes para a manutenção da nossa independência.
Nem só de guerra vivem, contudo, os séculos de Elvas. Aqui também se selou paz e se celebraram importantes alianças dinásticas.
Reuniram-se Cortes no reinado de D. Pedro, em 1361, num tempo em que se reorganizava o país, olhando o futuro com renovado entusiasmo.
Hoje, quando se assinalam 500 anos da elevação a cidade e comemorando também a elevação a Património da Humanidade, regressam a Elvas as celebrações nacionais, com as comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
É um encontro com a história, mas é também um encontro com o futuro.
Aos municípios cumpre hoje e cada vez mais olhar pelo desenvolvimento económico dos concelhos e, desta forma, pelo bem-estar e progresso das populações.
A aposta da Câmara Municipal de Elvas na requalificação urbana, a dignificação dos espaços públicos e, sobretudo, a recuperação do riquíssimo património histórico da cidade merecem ser sublinhadas. São elementos essenciais de uma visão de conjunto que permite abrir novas portas para o futuro.
O reconhecimento de Elvas como Património da Humanidade pela UNESCO, em junho de 2012, foi um passo importante na afirmação turística e cultural da cidade e da região e deve constituir também um estímulo para o futuro e um exemplo para outras vilas e cidades do nosso país.
É a prova de que o esforço, o planeamento e a ação concertada são recompensados.
Saúdo os responsáveis pela candidatura de Elvas a Património da Humanidade pelo sucesso alcançado. Saúdo igualmente todos os historiadores e etnógrafos que, ao longo das últimas décadas, estudaram esta cidade e contribuíram para que crescesse o orgulho pela sua memória.
Senhor Presidente da Câmara Municipal,
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Elvenses,
No Cancioneiro de Elvas, joia manuscrita do século XVI e uma das mais importantes fontes de música do Renascimento Português, encontram-se cantigas e poemas que nos contam um pouco do Portugal de então. Há nesses poemas sentimentos que soam hoje estranhamente familiares.
As gentes de Elvas habituaram-se a olhar atentamente os horizontes em busca de perigo. Souberam resistir corajosamente a todas as dificuldades; coragem que traz hoje ecos da capacidade que os Portugueses têm demonstrado nos últimos anos.
Nesta hora que Portugal atravessa, Elvas convoca-nos a olharmos para a nossa História e a reconhecermos que os momentos difíceis não são inéditos, mas que, nas horas decisivas, os Portugueses souberam unir-se para defender os grandes desígnios nacionais.
Esta é uma hora decisiva. Portugal vive um momento em que não podemos vacilar na determinação de vencer e de alcançar um futuro melhor.
É importante estarmos muito conscientes das dificuldades, do drama que o desemprego representa nas vidas de milhares dos nossos cidadãos e dos momentos árduos atravessados por muitas famílias.
Mas não esqueçamos que aquilo que Portugal sempre teve, muito bem representado por esta nobre e leal Cidade de Elvas, foi uma capacidade para, mesmo nos momentos cruciais, enfrentar e vencer as adversidades.
Tal como nas Cortes de D. Pedro se organizou em Elvas o futuro do país, e tal como, na Batalha das Linhas de Elvas soubemos reafirmar a nossa soberania, cumpre-nos hoje, em Elvas, assumir com força e com esperança que temos pela frente um desígnio comum, de que não queremos desistir. Esse desígnio é Portugal.
Obrigado.
© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016
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