Desde o início do meu primeiro mandato que tenho dedicado especial atenção ao papel desempenhado pelos empresários nas comunidades portuguesas dispersas por todo o Mundo. Sou testemunha do vosso esforço e do vosso mérito e é, por isso, com muito gosto que me associo a este Congresso.
Portugal e a Europa enfrentam um período singularmente complexo. Um período em que é fundamental que se corrijam os desequilíbrios financeiros e que se encontrem novos caminhos para se restabelecer, tão rápido quanto possível, o crescimento económico e a criação de emprego.
Um período em que a União Europeia tem de aprofundar os mecanismos de solidariedade e de coesão entre os Estados-membros e, simultaneamente, ter uma clara noção estratégica do seu posicionamento numa economia cada vez mais global, interdependente, e em que novos polos, mercados e atores internacionais conquistam uma influência cada vez maior.
É neste contexto que devemos valorizar o extraordinário potencial que constitui a nossa Diáspora de muitos milhões de portugueses e lusodescendentes espalhados pelos cinco continentes e os mais de 250 milhões de falantes da língua portuguesa em todo o Mundo.
Como poderemos fazê-lo?
Portugal deve assumir e tirar proveito da sua posição estratégica central como porta da Europa para o Atlântico Norte e para o Atlântico Sul. Uma posição que se traduz numa verdadeira oportunidade para os empreendedores de muitas das comunidades portuguesas acederem ao mercado único europeu, um mercado com 500 milhões de consumidores dotados de elevado poder de compra. Mas que é, também, uma posição privilegiada para, a partir de Portugal, se explorarem as oportunidades que surgem fora da Europa, no espaço lusófono e em outros mercados.
Para alcançar esse desígnio, é imperioso que Portugal continue a desenvolver um esforço sério e consistente de promoção das suas exportações e de atração de investimento, no quadro de um vasto processo de transformação estrutural da nossa economia, que aposte na valorização da iniciativa empresarial, na internacionalização, e que inclua a inovação e a criatividade como elementos decisivos da competitividade externa.
Posto isto, é fundamental que os portugueses da Diáspora possam ser os primeiros embaixadores e porta-vozes da imagem de Portugal no Mundo.
O nosso País é, hoje, uma democracia estável e consolidada, que nas últimas três décadas investiu em infraestruturas que podem e devem ser rendibilizadas, que pretende fazer da crise uma oportunidade para sanear, de uma vez por todas, a sua situação financeira, e para introduzir reformas que garantam a competitividade da sua economia.
Um País que dispõe de recursos e potencialidades extraordinárias, quer em setores estratégicos como a floresta, a economia do mar, o turismo de qualidade e as tecnologias de informação e comunicação, quer em setores tradicionais que conquistaram uma marca de renovação e de inovação, como o calçado, a cortiça, o mobiliário e o vinho, além de uma nova geração, altamente qualificada, de empresários dinâmicos e criativos.
Estou certo de que Portugal pode contar com os empreendedores da Diáspora para divulgar as suas belezas naturais, a riqueza da sua história quase milenar e do seu património cultural e para afirmar o valor económico da nossa língua. E, igualmente, para lembrar que Portugal é um destino de investimento atrativo e uma fonte de produtos de alta qualidade, que merecem ser conhecidos e divulgados.
Importa, por sua vez, que Portugal saiba valorizar os portugueses residentes no estrangeiro como um exemplo de sucesso, de empreendedorismo e de integração em diferentes sociedades e culturas.
Os portugueses são reconhecidos nos países de acolhimento como dos melhores no trabalho e no mundo dos negócios. É por isso crucial que as autoridades e a administração pública portuguesas, a todos os níveis, correspondam com abertura, eficácia e transparência às suas solicitações de informação e aos seus projetos de investimento.
É urgente fazer do investimento privado, tal como já acontece com as exportações, uma força impulsionadora da recuperação económica, em particular o investimento indispensável ao reforço da capacidade instalada para a produção de bens que concorrem com a produção estrangeira. Acresce o facto de a recuperação económica ser hoje um fator decisivo da credibilidade externa do País.
Por outro lado, é necessário que os empresários das comunidades portuguesas e lusofonia saibam trabalhar em rede, cooperando entre si, associando-se, também, a empresários estabelecidos em Portugal. Só assim cada um poderá realizar o máximo das suas potencialidades, aproveitando os recursos, as experiências e o talento de todos.
Neste contexto, promover o encontro regular, em Portugal, dos portugueses que, no exterior, venceram na vida como empreendedores, alargando esse encontro a empresários lusófonos que podem vir a investir em Portugal ou preferir marcas e produtos portugueses nos países onde estão estabelecidos, é uma iniciativa cuja importância merece ser salientada.
Foi precisamente com o intuito de fortalecer os laços entre Portugal e os empresários e empreendedores das comunidades portuguesas que promovi o lançamento, em 2007, da atribuição, pela COTEC, do Prémio “Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa”, que este ano irá ter a sua quinta edição. Este Prémio tem dado a conhecer aos Portugueses os extraordinários percursos de vida de compatriotas que se afirmaram nas mais exigentes sociedades por todo o Mundo. Gostaria, por isso, de renovar o meu convite aos empreendedores da Diáspora para que participem nas próximas edições do Prémio.
Antes de terminar, queria deixar-vos uma última palavra. A forma como Portugal está a cumprir o Programa de Ajustamento estabelecido com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional tem sido objeto de avaliações muito positivas. Os cidadãos portugueses estão a fazer um esforço notável no sentido de restabelecer o equilíbrio financeiro do nosso País. Ainda há poucas semanas foi alcançado um importante acordo de concertação social, entre Governo, sindicatos e associações patronais, o que é bem revelador do empenho e do sentido de responsabilidade que atravessam a sociedade portuguesa.
Conto convosco para que possam ser testemunhas de primeira linha e para que transmitam, com confiança, a mensagem de que Portugal está a cumprir os seus compromissos internacionais e a realizar reformas destinadas a melhorar o funcionamento da sua economia e a retomar uma rota de crescimento sustentável.
Aos organizadores e participantes neste Congresso, o meu agradecimento pela vossa iniciativa, pela vossa presença e pelo vosso contributo para a afirmação de Portugal no Mundo.
Muito obrigado.
© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016
Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.
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