Bem-vindo à página ARQUIVO 2006-2016 da Presidência da República Portuguesa

Nota à navegação com tecnologias de apoio

Nesta página encontra 2 elementos auxiliares de navegação: motor de busca (tecla de atalho 1) | Saltar para o conteúdo (tecla de atalho 2)
Visita ao Hospital das Forças Armadas
Visita ao Hospital das Forças Armadas
Lisboa, 19 de janeiro de 2016 ler mais: Visita ao Hospital das Forças Armadas

INTERVENÇÕES

Clique aqui para diminuir o tamanho do texto| Clique aqui para aumentar o tamanho do texto
Discurso do Presidente da República na Sessão de Encerramento da Semana Global do Empreendedorismo e do evento “Silicon Valley comes to Lisbon”
Lisboa, 18 de Novembro de 2011

Foi com especial satisfação que aceitei o convite para estar hoje aqui, no encerramento da Semana Global do Empreendedorismo e da iniciativa Silicon Valley Comes to Lisbon, neste espaço académico da Faculdade de Ciências e na presença de uma tão numerosa audiência, a qual se estende para lá deste anfiteatro, já que esta sessão está a ser acompanhada em todo o país através da internet. É caso para afirmar que Silicon Valley comes to Portugal.

Foi precisamente na abertura desta Semana Global do Empreendedorismo que estive em Silicon Valley, na etapa final da minha visita aos EUA. Mas estar convosco hoje, aqui diante de tantos jovens, muitos já empreendedores com negócios próprios, é particularmente estimulante.

A Semana Global do Empreendedorismo é uma iniciativa a que me tenho associado e dado o meu apoio desde que teve início em Portugal. Trata-se de uma iniciativa em rede, de expressão mundial, que visa despertar, estimular e mobilizar, sobretudo junto das gerações mais jovens, o espírito empreendedor, a criatividade e a capacidade de inovar. Qualidades essenciais para vencer no mundo contemporâneo.

Estive em Silicon Valley com o objectivo de reforçar a imagem de Portugal como um país que atingiu progressos significativos nos últimos anos e que se propõe manter essa trajectória, não obstante as exigências e os riscos do programa de ajustamento acordado com as instâncias internacionais.

Também foi meu propósito deixar sementes em diversas áreas, sementes essas que, estou convencido, podem gerar frutos num futuro próximo.

Primeiro, a oportunidade de criação de programas de mobilidade de estudantes entre a universidade de Stanford e as universidades portuguesas.

Segundo, o acesso a redes de investidores de capital de risco que não só operam a nível local mas também globalmente. No pequeno-almoço de trabalho que mantive com cerca de duas dezenas de responsáveis das maiores empresas de capital de risco com sede em Silicon Valley, foi evidente o interesse pelo papel de Portugal, numa perspectiva global de investimento em empresas inovadoras.

Por último, tive ocasião de aferir a utilidade dos aceleradores de crescimento empresarial que por lá operam, de que é exemplo o “Plug and Play Tech Center”. Trata-se de plataformas de enorme utilidade para a exploração de ideias de negócio das empresas, bem como para o acesso às redes de inovação associadas com Silicon Valley.

Silicon Valley tem uma dimensão crítica de recursos e uma cultura que lhe conferem uma singularidade excepcional. É difícil replicar noutro lugar as condições ímpares que existem nesta região e o círculo virtuoso de startups, de talento e de financiamento que fez o sucesso em Silicon Valley.

Mais do que imitar o que é certamente um sistema de inovação único, o nosso caminho deverá ser o de erguer pontes entre as melhores instituições científicas portuguesas e americanas, e entre os empreendedores mais talentosos dos dois países, para que as suas ideias possam chegar a Silicon Valley. E também para que o espírito e a cultura de Silicon Valley possam contagiar positivamente as nossas instituições de inovação e os nossos empreendedores, a fim de criarmos o nosso próprio círculo virtuoso de inovação.

Se Silicon Valley não pode ser copiado, tal como uma obra de arte excepcional, podemos no entanto inspirarmo-nos no que distingue esta região como a mais inovadora do mundo, e identificar os factores que poderão ser incorporados nos nossos próprios modelos de desenvolvimento.

Nesta minha visita a Silicon Valley, retive três desafios que a economia portuguesa terá que enfrentar para ganhar um novo estatuto e maior visibilidade externa, a médio prazo, como uma plataforma de desenvolvimento tecnológico e empreendedorismo de nível mundial.

O nosso país tem vindo a afirmar-se internacionalmente pela qualidade dos seus investigadores, pela excelência da sua produção científica e pela sua integração plena nas redes científicas globais mais representativas e prestigiadas. Mas este potencial científico só poderá ser transformado em inovações de sucesso pela força dos empreendedores, e na medida da sua proximidade à academia.

Um dos segredos do sucesso de Stanford e do Silicon Valley assenta, precisamente, numa ligação profunda e virtuosa entre a academia, os empreendedores e a aplicação do conhecimento científico e do desenvolvimento tecnológico à criação de inovações de sucesso mundial.

O segundo desafio prende-se com os traços que distinguem um empreendedor do resto dos agentes económicos. O fascínio pela aventura e pelo risco parece ser um elemento fundamental. O espírito, a curiosidade pela descoberta é, possivelmente, outro. A auto-confiança para seguir um caminho de liberdade e independência pessoal será, ainda, outro factor essencial. Mas uma qualidade ainda mais imprescindível, especialmente para nós portugueses, é a coragem de aprender com a experiência e com os erros. Numa sociedade aberta à inovação, o fracasso não pode constituir um estigma pessoal e social, mas antes uma verdadeira oportunidade de aprendizagem.

Estes são, sem dúvida, traços determinantes do perfil dos empreendedores, não só de Silicon Valley, mas de todos os que atingem, mais cedo ou mais tarde, grandes realizações.

Em terceiro lugar, trata-se de acarinhar e celebrar publicamente o mérito dos nossos empreendedores e a importância das suas iniciativas. Por um lado, pelo reconhecimento de que a sua opção profissional é de elevada exigência, sacrifício, envolvendo risco pessoal e muitas vezes familiar. E, por outro, porque a sua contribuição para a criação de emprego e de riqueza colectiva será cada vez mais incontornável para sustentar o bem-estar social que desejamos.

Portugal tem sido um dos países que, nas últimas décadas, mais tem evoluído, quer na União Europeia quer no conjunto dos países da OCDE, nos indicadores que medem o progresso na capacidade de inovar, com taxas de crescimento muito superiores à média europeia.

Temos que prosseguir neste caminho e de posicionar o nosso país, até ao fim da presente década, no grupo dos países mais inovadores da Europa. A nossa ligação cultural e linguística com os mercados de grande crescimento da América do Sul ou da África confere-nos uma centralidade geográfica que observadores mais atentos já reconheceram, mas que muitos, em Portugal, têm ainda dificuldade em identificar como uma clara vantagem competitiva.

Portugal encontra, aliás, outra enorme vantagem na sua diáspora, o que mais uma vez tive oportunidade de confirmar, agora, na Califórnia. Infelizmente, e ao contrário de outros países com as mesmas características que Portugal, as nossas empresas e os nossos empreendedores têm feito pouco uso deste recurso, ainda quase inexplorado. Como tenho afirmado por diversas vezes, mobilizar as redes dos portugueses no exterior é activar uma vantagem competitiva na entrada em novos mercados ou na consolidação dos existentes. Trata-se, curiosamente, de um tema que faz a capa da revista “Economist” desta semana.

Sabemos que não há atalhos nem acasos na emergência de uma economia inovadora e criativa, aberta à exploração de novas ideias e novas tecnologias. Só uma visão de longo prazo e uma aposta persistente na qualificação dos recursos humanos, na atracção do talento, no reforço das infraestruturas científicas e na cultura de produção e aplicação prática do conhecimento permitirão colher os frutos esperados. The Road to Start-up Portugal é muito exigente, mas é possível. Este é o caminho que devemos continuar a trilhar.

Por muito difícil e incerto que pareça este caminho, peço-vos que não se deixem desanimar nem se resignem com as notícias desfavoráveis vindas do exterior ou com as dificuldades do País. Na economia do conhecimento, o crescimento económico e a criação de emprego são resultado, em grande parte, da contribuição dinâmica de milhares de pequenas empresas inovadoras. Certamente que umas terão sucesso, e outras nem tanto. Mas essa incerteza é parte intrínseca das oportunidades de um Mundo em profunda reconfiguração.

Deixem-se pois contaminar pelo exemplo e pela cultura de Silicon Valley, cujos valores foram amplamente promovidos nesta feliz iniciativa.

Obrigado.

© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016

Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.

Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.