É com grande prazer que me associo às comemorações do centenário do Instituto Superior Técnico, uma instituição que deixou uma marca profunda na formação de sucessivas gerações de engenheiros e que deu um inestimável contributo para o desenvolvimento de Portugal e para o progresso das condições de vida dos portugueses.
Em todas as áreas de ensino em que se afirma, desde a Engenharia, Ciência e Tecnologia até, mais recentemente, à Arquitectura, tem deixado um sinal distintivo da qualidade do seu ensino e da exigência como forma de cultura.
No Instituto Superior Técnico se formaram grandes homens da engenharia que, em Portugal e um pouco por todo o mundo, ergueram obras que mudaram a vida dos povos e o desenho das cidades e territórios.
E é também aqui que, hoje, se avança em áreas dos mais recentes domínios do conhecimento, como a nanotecnologia, a computação e as biotecnologias.
Estamos num tempo em que a exploração científica avança em domínios antes apenas aflorados pela intuição, em que o progresso conduz a transformações de tal forma rápidas que colocam sérios desafios de adaptação às sociedades e em que os novos e complexos problemas que emergem na economia global colocam acrescidas exigências à ciência e à sua aplicação.
Antever o modo como a espécie humana vai reagir às tensões que se irão seguramente multiplicar e acumular ao longo deste século é uma tarefa que desafia a imaginação e a inteligência, por muito desenvolvimento tecnológico que possa haver.
É neste contexto que o IST celebra os seus 100 anos, orgulhando-se do seu passado e projectando-se no futuro, num enlace que o inscreve, sem qualquer dúvida, no quadro da plena modernidade. Por isso confiamos que terá uma forte participação nas respostas de que o País precisa.
Não é tanto o passado que hoje aqui se celebra, mas um caminho, um longo, persistente e bem sucedido caminho, que atravessou os ventos da História, que enfrentou os sobressaltos da sociedade e que soube agir perante as perplexidades que as encruzilhadas do desenvolvimento tantas vezes, e tão duramente, suscitaram.
O IST tem essa marca no seu “código genético”, a preservação da sua identidade como instituição de ensino e de investigação científica pioneira nas áreas da engenharia, um símbolo de prestígio e de qualidade que projectou o nome da instituição muito além-fronteiras.
Nos seus campos de acção, estruturou o conhecimento, rasgou horizontes e foi buscar competências e talentos, tendo sido também uma das primeiras instituições de ensino superior a enviar os seus docentes para programas de doutoramento e de altas qualificações em universidades de renome internacional.
A abertura do Instituto Superior Técnico ao Mundo e a importância crescente das actividades de internacionalização são bem ilustradas com a presença, nesta cerimónia, de muitos convidados de instituições internacionais, que cumprimento calorosamente.
Está na sua matriz fundadora essa abertura ao exterior e essa vontade de absorver e difundir o que se pode aprender com os melhores.
Os seus primeiros docentes foram, aliás, professores das maiores escolas de engenharia da época, chamados a Portugal para fundar a escola de engenharia nos moldes mais modernos que então se podia ambicionar.
Essa visão fundadora marcou para sempre a identidade desta instituição.
Esta é uma escola a respeito da qual se pode afirmar que mudou a vida de muitos jovens. Ser “aluno do Técnico” ou ser “professor no IST” constituía um verdadeiro cartão de apresentação, que trazia tanto de prestígio como de responsabilidade.
Entrar para o IST era uma glória a que aspiraram muitos jovens ao longo do século. Era um objectivo que merecia todos os sacrifícios.
Muitos jovens de origens humildes conseguiram, no entanto, ver franqueadas as portas do IST pelo seu mérito, sendo que muitos deles vieram a ter um papel de grande relevo em diferentes áreas da vida nacional.
Um elemento interessante e bem revelador da ampla formação que aqui era ministrada reside no facto de muitos dos engenheiros do Técnico terem desenvolvido a sua actividade profissional no campo da política, com particular destaque para a educação, mas também nas áreas empresariais e da economia.
Esta capacidade multifacetada corresponde à mais ambiciosa noção de educação e formação, que inclui não apenas a aquisição de conhecimentos técnicos e científicos, mas também o desenvolvimento de capacidades de relacionamento, de sentido crítico, de interesse pela aprendizagem e de uma curiosidade permanente.
A nível nacional, o IST está associado a todas as grandes obras que rasgaram os caminhos da modernidade no último século, como o exibe a exposição que integra estas comemorações.
A essas obras e à visão de futuro que as caracteriza estão ligados grandes nomes desta casa e do País, de que destaco Alfredo Bensaúde e Duarte Pacheco, a quem a História reservou um lugar privilegiado.
Importa também salientar a abertura que o IST tem sabido concretizar em relação ao mundo empresarial e à sociedade, promovendo a cultura empreendedora que deve ser parte integrante do nosso ensino superior.
Portugal precisa que o ritmo e a intensidade da interacção entre as universidades e as empresas e das transferências do saber, bem como a cooperação internacional, continuem a crescer, tornando-se uma cultura adquirida e permanente. Só assim será possível aplicar o conhecimento e explorar o valor comercial dos avanços registados em I&D.
De facto, está há muito ultrapassada a ideia da separação entre os cientistas e os cidadãos. A cultura científica é hoje uma questão fundamental para as sociedades democráticas, uma vez que os cidadãos são cada vez mais chamados a participar em decisões nas quais os conhecimentos científicos e técnicos estão intrinsecamente envolvidos.
Veja-se as discussões públicas sobre a oportunidade, as vantagens e os custos da construção de uma ponte, de um TGV, de uma central eléctrica ou mesmo das opções arquitectónicas para determinados locais. Ou os debates acesos que envolvem questões ambientais, matérias de biotecnologia ou as dúvidas e temores sobre os progressos surpreendentes das tecnologias de informação.
Senhoras e Senhores,
Quero, nesta ocasião, dirigir uma palavra muito especial aos jovens que escolheram esta instituição, a um tempo centenária e símbolo do futuro, para fazer a sua formação superior.
Sejam quais forem as dificuldades que venham a sentir, há um valor que nunca deixará de vos acompanhar e de vos servir: o valor inestimável do que aqui aprenderam e da maior capacidade de aprender, de fazer diferente, de olhar a realidade com os olhos e os conhecimentos de quem sabe agir perante ela.
Um curso superior é muito, mas é, sobretudo, um ponto de partida; não é um fim que, uma vez alcançado, fará o milagre da realização pessoal e profissional. O retorno dependerá da vossa capacidade de abrir caminhos no futuro, tal como fizeram as gerações de engenheiros, cientistas e arquitectos que vos precederam nesta casa que hoje é vossa.
A competição à escala global só poderá acentuar-se. Chegam hoje ao mercado milhões de novos diplomados, não só da Europa mas da China, da Índia ou do Brasil, por exemplo, e muito do trabalho de investigação científico ao mais alto nível tem hoje lugar nesses países.
Não são só os sistemas de ensino que têm que responder a estas mutações. São os próprios alunos que têm de estar bem conscientes de que este é um espaço em que se desenrola uma nova e feroz competição. Há muito que deixou de haver lugares à espera para quem sai das universidades, mesmo para os melhores.
Uma forte preparação técnica, aliada a uma inteligência criativa, motivação para a acção e gosto pela iniciativa são, mais do que nunca, componentes essenciais para conquistar o vosso lugar no mundo.
Sei que estão conscientes disso, e sei que o IST poderá, um dia, orgulhar-se de vós, tal como hoje se orgulha de milhares dos seus antigos alunos, que tanto brilho deram, no passado e no presente, ao nome da instituição.
Uma instituição que celebra 100 anos sabe o valor do tempo. Sabe que não há tempo a perder, sob pena de nos perdermos no tempo.
Só os que acertam o seu passo com o tempo podem projectar-se no futuro e, aí, marcar o seu lugar. Como sempre fez, e, estou certo, continuará a fazer, no futuro, o Instituto Superior Técnico.
Foi em reconhecimento público do trabalho e do mérito evidenciados ao longo de um século ao serviço da educação e do desenvolvimento de Portugal que decidi agraciar o Instituto Superior Técnico com o título de Membro Honorário da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, cujas insígnias terei o gosto de entregar ao seu Presidente, Prof. Cruz Serra.
Faço-o com um sentido pleno de justiça e confirmando a elevada exigência e expectativa que esta condecoração traduz para quem a recebe. Fica, certamente, muito bem entregue.
A todos os que, de uma forma ou de outra, integram esta honrosa instituição, bem como a todos os que, com o seu esforço, inteligência, saber e dedicação, contribuíram para a transformar no que é hoje o Técnico, os meus sinceros parabéns.
Obrigado
© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016
Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.
Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.