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Discurso do Presidente da República na Sessão Solene Comemorativa do Centenário da Universidade do Porto
Porto, 22 de Março de 2011

Se todas as cidades são lugares com alma, o espírito do Porto tem uma feição que se destaca no todo nacional. Diz-se que as gentes do Norte são muito orgulhosas da sua terra. Têm razões para isso. As pedras seculares desta cidade, cujo Centro Histórico mereceu ser considerado como Património Mundial pela Unesco, testemunham o que de melhor existe entre os Portugueses: a lealdade fraterna, o respeito pela palavra dada, o amor à verdade e à liberdade.

Não por acaso, quando tomei posse como Presidente da República, em 2006, logo decidi que as comemorações do Dia de Portugal deveriam ter lugar nesta cidade. Agora, no início deste novo mandato, foi precisamente o Porto que elegi como destino da minha primeira deslocação.

Porque ao Porto deve Portugal páginas luminosas da sua História de muitos séculos e porque completa hoje 100 anos uma das suas maiores riquezas: a sua Universidade, verdadeiro centro de transmissão de saberes, de espírito académico, de investigação científica e fonte de desenvolvimento do tecido social e empresarial do nosso País.

É com muito orgulho que me associo a esta sessão solene comemorativa do centenário da constituição formal da Universidade do Porto. Uma Universidade cujas origens remontam ao século XVIII, ao reinado de D. José, que soube enfrentar as vagas alterosas da História e do Tempo e que é hoje a maior e uma das mais prestigiadas instituições de ensino e investigação científica de Portugal, com pleno reconhecimento no panorama europeu e internacional.

Num momento em que a aceleração da História nos deixa, uma vez mais, inseguros e perplexos perante o abalar das anteriores certezas e os desafios do futuro, como pudemos avaliar na palestra aqui proferida pelo Professor Eduardo Lourenço, são instituições como esta que podem liderar a capacidade de compreender as realidades que nos cercam e de voltar a olhar o Mundo com a ambição e a ousadia à altura dos nossos pergaminhos históricos.

Trata-se, vale a pena destacá-lo, de uma instituição capaz de atrair, em cada ano, não só os melhores alunos portugueses candidatos ao ensino superior, mas também milhares de estudantes estrangeiros, que aqui vêm frequentar o Erasmus ou outros programas de formação.

Sei que, neste ano lectivo, esse número ultrapassa os 2700 estudantes, de 57 países. Considero da maior importância o dinamismo deste intercâmbio estudantil, em que Portugal tem sabido marcar a sua presença e que constitui já um valioso activo da nossa sociedade.

Intercâmbio que ocorre numa fase da vida que se pode considerar fundadora da vida adulta, em que se constroem e afirmam laços e influências que passam a integrar as referências do futuro, criando uma rede de enorme valor social e económico, cujas potencialidades nos cabe aproveitar e impulsionar.

A Universidade do Porto honra também sobremaneira os seus valores fundacionais quando interage com o tecido empresarial e propicia a inovação, ou quando abre as suas portas à sociedade para que conheça os seus projectos, num modelo de cooperação que se traduz num claro benefício para o País.

Qualidade e diversidade de oferta, divulgação do conhecimento, exigência nos objectivos, estímulo ao mérito, são estas as marcas de uma instituição de sucesso e as referências perenes que explicam a forte impressão digital de uma vida centenária na sociedade portuguesa, em campos tão diferentes do ensino e da investigação científica como a medicina, as engenharias, as letras e as artes, a economia ou a arquitectura.

Poderemos, pois, afirmar, sem receio, que uma instituição que superou, com mestria e em posição de liderança, os obstáculos do século passado, está preparada para enfrentar as mudanças com que o novo século nos confronta.

Mudanças que ganharam um ritmo impressionante. Basta ver como, há apenas uma década, tudo era tão diferente; basta ver como as gerações que agora chegam à universidade já nem se lembram do escudo, já não imaginam comunicar ou pesquisar sem recorrer às redes sociais ou às tecnologias de informação, já não viram uma Europa com fronteiras e nem sabem bem o que eram os mercados segmentados.

Mudanças profundas de carácter social mas também tecnológico, geopolítico, ambiental, demográfico e científico.

A única resposta segura a todas estas transformações é a procura da excelência, é a capacidade de competir e de integrar o grupo dos melhores.

O aumento substancial do acesso dos jovens aos diferentes graus de ensino e a qualificação crescente da população está a desencadear, nas economias emergentes e nos países em desenvolvimento, um novo panorama político e social. O mesmo se passa, de resto, nas outras regiões, obrigadas a competir em escalões cada vez mais exigentes.

Se dúvidas houvesse, só este facto daria uma resposta inequívoca à importância crescente da qualificação dos jovens e ao prosseguimento de estudos ao longo da vida.

Mas, neste incessante movimento, não podemos perder de vista os objectivos que, em última análise, justificam esta dinâmica: tentar construir uma sociedade melhor, valorizar as pessoas, aumentar a qualidade de vida, combater as injustiças e desigualdades.

Paradoxalmente, porque vivemos melhor do que há cem anos, somos mais exigentes, o que tende a aumentar o grau de insatisfação. E esse processo é particularmente nítido nos jovens mais qualificados, impacientes por concretizar os sonhos em que eles próprios e as suas famílias investiram, e frustrados, muitos deles, pelo tardar da sua plena realização.

Sucede, porém, que isso não deve levar os jovens a baixar os braços e, muito menos, a desistir de se qualificarem. Pelo contrário, mais cedo ou mais tarde, hão-de confirmar que o único investimento garantido é o que aporta conhecimento, competências e capacidade de olhar o Mundo numa perspectiva dinâmica e multicultural. E, nesse campo, o mundo global é cada vez mais exigente.

Além disso, para viver em liberdade é preciso poder escolher em liberdade e essa escolha implica ter conhecimento e ser capaz de avaliar as opções que se colocam e as que mais interessam a cada um. Ora, a ignorância ou a falta de cultura nunca são bons conselheiros. Quanto mais robusto for o saber e o desenvolvimento intelectual, tanto maior será a capacidade de fazer escolhas esclarecidas, que propiciem, de facto, a construção de um mundo melhor.

A Universidade é, por excelência, o meio onde se deve desenhar a resposta a estas expectativas, uma resposta capaz de formar cidadãos livres, participantes e cientes da importância das suas escolhas.

É certo que todo este esforço para a obtenção de resultados de elevado nível exige recursos adequados e envolve uma necessária autonomia de decisão. A carência de recursos ou a sua imprevisibilidade podem provocar um atraso difícil de recuperar num contexto de acesa concorrência a nível global. Esse é um risco que deve ser muito bem medido nas suas consequências colectivas.

Sendo iniludíveis, os imperativos de contenção e rigor no dispêndio de fundos públicos não devem fazer perigar nem o acesso dos mais carenciados ao ensino superior, nem as condições mínimas para a manutenção de um corpo docente e científico qualificado e mobilizado.

Servir o País. Essa é a essência do patriotismo republicano, que levou à fundação das universidades hoje centenárias, e é esse o espírito com que devemos continuar a olhar o futuro.

Como Presidente da República, quero manifestar o meu enorme orgulho no modo como a Universidade do Porto tem servido o País, crescendo e afirmando-se como uma instituição de referência ao longo de um século.

Decidi, por isso, agraciar a Universidade do Porto com o título de Membro Honorário da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, condecoração que visa distinguir as instituições de carácter científico, cujas insígnias terei o gosto de entregar ao Magnífico Reitor desta Universidade. Faço-o com um sentido muito vivo de que, ao recebê-la, a Universidade do Porto confirmará o prestígio e os critérios de elevada exigência desta distinção.

Felicito a Universidade e todos os que nela trabalharam e estudaram ao longo deste século.

Não queria terminar sem vos dizer, muito simplesmente, que Portugal se revê no muito que fizeram no passado, confia no vosso contributo para o presente e, por isso, com fundada esperança, conta convosco no futuro.

Muito obrigado.

© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016

Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.

Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.