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PRESIDENTE da REPÚBLICA

INTERVENÇÕES

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Discurso do Presidente da República na Homenagem ao Fado e seus protagonistas no âmbito da inscrição pela UNESCO na lista do Património Cultural Imaterial da Humanidade
Palácio de Belém, 2 de Dezembro de 2011

Muito boa tarde a todos.

É com muita satisfação que presto esta homenagem ao Fado e aos seus protagonistas aqui no Palácio de Belém, depois de ser conhecida a decisão da UNESCO de integrar o Fado na sua Lista Representativa de Património Cultural Imaterial da Humanidade.

Apoiei esta candidatura desde o seu início, à qual concedi o Alto Patrocínio. Em Junho de 2010 recebi a Comissão responsável pela candidatura e recordo bem o entusiasmo com que me falaram do processo e das garantias de que, com a base de trabalho e o rigor com que tudo foi preparado, dificilmente esta candidatura não seria bem sucedida.

O Fado é talvez a mais significativa forma de expressão artística em Portugal, aquela que mais nos identifica internacionalmente e aquela que melhor define a alma do nosso povo.

Ficou muito claro desta candidatura, e através do estudo e da pesquisa que a rodearam, que o Fado é tudo menos simples: tem muitas tonalidades, muitos segredos, muitos recantos, tantos como as ruas e becos de Alfama ou da Mouraria.

Esta candidatura estimulou, de uma forma nunca antes conseguida, o estudo do Fado e o conhecimento mais profundo sobre a nossa canção. Felicito, pois, a Comissão de Candidatura e a Comissão Científica pelo importante trabalho que levou a cabo.

As suas origens remontam ao século XIX mas, segundo muitos investigadores, os seus antecedentes são ainda mais recuados no tempo.

É verdade que hoje o Fado é reconhecido e estimado pelos portugueses e por todos os que o ouvem além-fronteiras, mas nem sempre assim foi.

Tempos houve em que o Fado era apenas associado a uma vida boémia que continha em si retratos de uma Lisboa pouco recomendável.

Mas isso foi mudando e, a pouco e pouco, o fado regenerou a sua imagem, poetas ilustres compuseram muitas das letras de maior êxito e transformou-se num cartão de visita, não só da cidade de Lisboa, mas de todo o Portugal.

Num período em que as grandes salas de espectáculos não se abriam para os fadistas, era nas casas de Fado, um pouco por toda a Lisboa, que os amantes de Fado e os turistas podiam ouvir algumas das melhores e mais significativas vozes do Fado de sempre.

Alfredo Marceneiro, Carlos Ramos, Maria Amélia Proença, Berta Cardoso, Maria Teresa de Noronha, Hermínia Silva, Fernando Farinha, Fernando Maurício, Lucília do Carmo, são alguns dos nomes grandes da História do Fado.

E é claro que seria impossível falar do Fado sem dar um destaque muito especial à grande Amália Rodrigues que escolheu os melhores músicos, os melhores compositores e os melhores poetas de Portugal para os cantar com a sua voz e a sua interpretação únicas, marcando para sempre o Fado e continuando a inspirar gerações de fadistas. Foi ela que espalhou o Fado pelo mundo fora.

O Fado, como tudo o que tem uma qualidade intrínseca, resistiu às modas e ao tempo e pudemos, ao longo de décadas, ser surpreendidos pela qualidade dos fadistas que mantiveram viva a canção de Lisboa: João Ferreira-Rosa, Teresa Tarouca, Carlos do Carmo, Beatriz da Conceição, Maria da Fé, a Celeste Rodrigues, o João Braga, vozes que ainda hoje temos o privilégio de poder ouvir ao vivo.

Neste percurso do Fado, as Casas de Fado tiveram um papel fundamental nas décadas de 70 e 80 quando, por razões mais ou menos ideológicas, o público se afastou um pouco do Fado.

Eram poucos os que na altura se dedicavam a uma carreira exclusiva no Fado e menos ainda os que, como a Mísia, resolveram aventurar-se além-fronteiras e procuraram mantê-lo nos palcos de todo o mundo.

Felizmente, os tempos hoje são bem diferentes! Há toda uma nova geração de fadistas que trouxe um fôlego e uma vitalidade ao Fado como imagino que nunca se tenha visto.

São muitos os concertos em Portugal e no estrangeiro e são imensas as solicitações dos nossos fadistas.

A Mariza, embaixadora da candidatura é disso exemplo, como são exemplo a Katia Guerreiro, a Ana Moura, a Cristina Branco, a Raquel Tavares, a Carminho, o António Zambujo, o Camané, o Ricardo Ribeiro e todos os que estão hoje aqui presentes.

Esta nova geração foi essencial para o reconhecimento do fado como Património da Humanidade. Foi ela que, no País e no estrangeiro, alargou e consolidou o espaço de adesão ao fado, tornando-o numa marca portuguesa internacionalmente reconhecida.

E não são só os fadistas, são também os músicos que os acompanham cujo virtuosismo é demonstrado em cada espectáculo, são os compositores e os poetas que continuam a criar excelentes melodias e poemas onde sempre se espelha a alma portuguesa e a riqueza e intensidade das suas emoções.

Queria, por fim, agradecer a todos a vossa presença. Esta sala em que nos encontramos chama-se Sala dos Embaixadores. E esta informação tem toda a pertinência porque todos os que aqui estão hoje, e todos aqueles que não puderam estar presentes, são embaixadores de Portugal, da nossa cultura, da nossa língua e, em suma, da nossa identidade. Constituem a nossa Selecção Nacional do Fado, para a qual todos estão convocados!

Todos os que aqui estão são responsáveis pela vitória desta candidatura porque todos têm, ao longo das suas vidas e das suas carreiras, contribuído para tornar o fado numa melodia universal.

Muito obrigado a todos.

© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016

Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.

Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.