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Visita ao Centro de Formação  Profissional de Setúbal,  no âmbito da 6ª jornada do Roteiro para uma Economia Dinâmica dedicada à Educação e Formação Profissional
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PRESIDENTE da REPÚBLICA

INTERVENÇÕES

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Intervenção do Presidente da República Portuguesa por ocasião do banquete oferecido em honra do Presidente da Federação da Rússia
Palácio da Ajuda, 25 de Outubro de 2007

Senhor Presidente da Federação da Rússia, Excelência
Excelentíssimas Autoridades
Ilustres convidados
Senhoras e Senhores

É com grande prazer que acolho Vossa Excelência, Senhor Presidente, nesta sua visita a Portugal, que prosseguirá amanhã, em Mafra, com a realização da Cimeira entre a União Europeia e a Rússia.

Separados pela distância que a geografia impõe, delimitando os confins de um continente que partilham, os nossos países mantêm contactos de muitos séculos, especialmente a partir do estabelecimento de relações diplomáticas, em 1779. A História dessas relações nada nos diz sobre conflitos sérios, ou desavenças de monta.

Conta-nos, até, episódios a que a distância do tempo empresta hoje alguma dimensão pitoresca, como o importante papel da Rússia na mediação entre Portugal e a China a propósito da diocese portuguesa de Pequim, ou ainda a história do nosso primeiro Cônsul em São Petersburgo, José Pedro Celestino Velho, a que os russos chamavam Ossip Velho e que o Czar Paulo I faria um dia Barão, empreendedor e curioso de tudo, exemplo do que o português pode ter de melhor.

A Ossip Velho, chamemos-lhe então assim, e à sua família, se ficou a dever o primeiro contacto do Czar Alexandre I com Alexandre Puschkin, o qual viria a incluir Camões entre aqueles a quem dedica o seu poema “Ao amigo poeta” e a quem ficámos a dever a tradução para russo da obra “Recordações”, de Tomás António de Gonzaga.

Isto, para além dessa figura enorme de médico e iluminista que foi Ribeiro Sanches, médico de Catarina II, que a Academia das Ciências de São Petersburgo viria a distinguir com o título de membro honorífico.

Senhor Presidente,

Ultrapassado o interregno que as tensões próprias da Guerra Fria nos trouxe, soubemos reatar com o melhor das nossas tradições e retomar a via do entendimento e da cooperação.

Tive a honra de, na qualidade de Primeiro-Ministro, ter assinado, em 1994, em Moscovo, o Tratado de Amizade e Cooperação entre a Rússia e Portugal, com base no qual se tem consolidado a nossa relação recente. Guardo gratas recordações daquela que foi a primeira visita oficial de um Primeiro-Ministro português à Rússia e também a primeira deslocação oficial de um Chefe de Governo da União Europeia depois da assinatura, em Corfu, do Acordo de Cooperação e Parceria entre a Rússia e a União Europeia.

Permitam-me ainda que recorde a visita que Vossa Excelência realizou a Portugal, em 2004, a qual constituiu outro marco no reforço de um relacionamento que abrange hoje os domínios mais diversos.

O mercado russo suscita hoje um interesse crescente para os exportadores portugueses, realidade bem reflectida no importante número de empresários aqui presentes. Alguns deles integraram a Missão Empresarial que acaba de regressar de Moscovo. Espero que a esta iniciativa se sigam outras, que contribuam para promover o nosso relacionamento comercial, bem como parcerias entre os nossos empresários e o fluxo de investimento entre os dois países.

A recente assinatura de um Acordo no domínio do Turismo permitirá aos nossos agentes turísticos, estou certo, explorar uma outra área de grande potencial. Um potencial que nos cumpre aproveitar e que se estende a vários outros domínios, como o da cooperação técnica e científica.

Mas o bom relacionamento entre Estados exige um conhecimento das suas realidades, cultura e História. A excelente exposição da Colecção do Museu Hermitage que acabamos de inaugurar, resultado da cooperação entre organismos culturais dos dois países, é um exemplo eloquente do que pode e deve ser feito nesse sentido.

Portugal conta hoje com uma importante comunidade russa, no geral bem integrada e que contribui, com o seu esforço e inteligência para o progresso do nosso país e para o reforço das nossas relações. Graças à presença dessa comunidade e ao facto de ser um idioma que outras comunidades dominam, o russo é hoje uma das línguas estrangeiras mais conhecidas no nosso país. Por outro lado, quero salientar e agradecer a forma como as Universidades e as instituições académicas russas têm acolhido e incentivado o ensino da língua portuguesa

Senhor Presidente,

Vossa Excelência representa uma Nação que constitui de há muito um ponto de referência nas relações internacionais, tendo contribuído frequentemente para determinar o rumo da História.

Uma nação cuja grandeza se não define somente pela imensidão geográfica, pela riqueza dos recursos, pelo poderio militar, pelo dinamismo económico, ou pelo seu legado histórico, mas também pelas suas inúmeras figuras e obras, que são parte integrante do património cultural da humanidade.

Esta grande nação, a Rússia, é vizinha e parceiro fundamental da União Europeia, a que Portugal preside este semestre, pela terceira vez. O que ocorre na Rússia afectar-nos-á sempre de forma particularmente próxima e o mesmo se passa com a Rússia, relativamente ao que ocorre na União Europeia.

A União Europeia partilha com a Rússia o desejo de um mundo onde impere a paz, a estabilidade e o desenvolvimento económico e social. E Vossa Excelência, Senhor Presidente, tem por diversas vezes sublinhado a importância que, como a União Europeia, a Rússia atribui aos valores em que assenta a democracia e a economia de mercado.

Quando a realidade é esta só o diálogo responde ao nosso melhor interesse. Sobretudo quando são múltiplos os desafios com que o mundo de hoje nos confronta e que nenhum de nós pode ganhar sozinho. No entanto, para que o diálogo aconteça e produza resultados é preciso que assente nas bases sólidas que só a confiança e o respeito mútuo permitem construir, o que implica necessariamente um esforço conjunto.

Agir em conjunto em matérias e áreas onde há convergência. Procurar soluções, pelo reforço da confiança e pelo diálogo, quando se verificam divergências. Este deve ser o mote do relacionamento entre parceiros estratégicos, entre espaços vizinhos e complementares, entre actores internacionais responsáveis.

Faço votos para que a Cimeira de Mafra contribua para consolidar a relação entre a União Europeia e a Rússia, cimentando a cooperação onde ela já exista, identificando novas áreas onde ela se possa afirmar e abrindo caminho à procura de soluções, onde as dificuldades ainda persistam.

Senhor Presidente,

Portugal está apostado em desenvolver as suas relações bilaterais com a Rússia e em promover a consolidação de uma relação de confiança que permita dar corpo a uma parceria dinâmica e voltada para o futuro, entre a União Europeia e a Rússia. Estou certo que a sua visita constituirá um importante contributo nesse sentido.

Peço a todos que se juntem a mim num brinde à saúde do Presidente Vladimir Putin, à prosperidade do Povo amigo da Rússia e ao reforço das relações entre os nossos dois países e entre a União Europeia e a Rússia.

© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016

Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.

Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.