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José João Rodrigues, Portugal
Cláudia Vicente, Moçambique
Senhor Ministro da Educação e Cultura, Dr. Aires Ali,
Magnífico Reitor da Universidade Mondlane,
Magnífico Reitor da Universidade Pedagógica
Felicito calorosamente os Magníficos Reitores da Universidade Mondlane e da Universidade Pedagógica, bem como o Instituto Camões, pela organização conjunta deste Colóquio.
Quero ainda saudar todos os participantes neste encontro. Estou certo de que a relevância do tema em discussão, a qualidade e diversidade dos oradores e o objectivo comum que a todos aqui juntou é uma garantia de êxito desta grande iniciativa cultural.
A realização de um encontro entre escritores, intelectuais e artistas dos países de língua oficial portuguesa, para debater o alcance e a projecção deste elo que nos une, resulta de um imperativo de cidadania. É, por isso, com particular satisfação que estou aqui, hoje, a inaugurar este Colóquio, no âmbito da minha Visita de Estado a Moçambique.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Nos nossos dias, reconhece-se que as fontes de riqueza de um país não são apenas os seus recursos naturais ou a sua capacidade produtiva. De facto, o desenvolvimento assenta em muitos outros factores, cuja imaterialidade tem, no entanto, dificultado a percepção da sua real importância. Neste contexto, a língua merece especial destaque, não só enquanto elemento de comunicação, mas também como veículo de progresso.
Pelo facto de ser uma língua comum a diferentes países e culturas, a língua portuguesa tem um valor intrínseco acrescido. É um elemento de união, mas também um espelho da diversidade cultural dos distintos percursos históricos no nosso nascimento e crescimento, enquanto nações soberanas e independentes.
Por livre escolha dos povos, o português é hoje a língua oficial de vários Estados africanos, assim como de Timor-Leste. Com estes países, e com Portugal e o Brasil, fomos capazes de criar um vasto espaço, onde dialogamos com Camões ou Pessoa, com Craveirinha e Pepetela, com Drummond de Andrade, Baltazar Lopes ou Alda Espírito Santo.
A estes poderíamos acrescentar muitas e muitas dezenas de novos escritores e poetas, de artistas plásticos e pintores, que afirmam a língua portuguesa nos vários quadrantes da cultura, enriquecendo a sua matriz com as tonalidades próprias da sua diversidade cultural e territorial.
Com mais de 220 milhões de falantes nativos, o português é a quinta língua mais falada no mundo e a terceira mais falada no mundo ocidental, além de possuir estatuto oficial, desde logo na União Europeia, no Mercosul e na União Africana. É ainda largamente falado nas numerosas comunidades de emigrantes espalhadas em todo o mundo. Existem hoje dezenas de línguas crioulas de base portuguesa.
Perante um tão vasto mundo e um património tão grandioso, é muito grande a nossa responsabilidade como agentes políticos, económicos, sociais e culturais. A salvaguarda da língua portuguesa constitui uma obrigação colectiva.
O facto de uma língua ser partilhada por muitos milhões de pessoas, à escala planetária, é algo que todos devemos aproveitar. Desde logo, por um dever de memória e de fidelidade às raízes. Mas também como forma de afirmarmos a nossa presença e a nossa capacidade estratégica de intervenção à escala internacional.
O conceito de «língua global» significa que um determinado idioma ocupa uma posição privilegiada num grande número de países e que essa posição pode determinar que muitos outros lhe atribuam um lugar de relevo, fomentando o seu ensino como língua estrangeira. Quanto melhor cultivarmos o uso da nossa língua mais respeitados seremos no mundo e maior será o reconhecimento do valor universal da lusofonia.
No mundo globalizado dos nossos dias, a língua deve ser valorizada como uma vantagem competitiva, um traço distintivo que singulariza os que a utilizam e os que a conhecem, num tempo cada vez mais marcado pela uniformização e pela padronização das culturas.
É, assim, tempo de reflectirmos sobre a melhor estratégia para valorizar esta riqueza que possuímos, assumindo o potencial que a língua portuguesa representa para os povos que a utilizam como língua materna, como segunda língua, ou como primeira língua estrangeira.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Através da compreensão comum de um idioma, as distâncias encurtam-se, as fronteiras atenuam-se e as relações entre as pessoas tornam-se mais fluidas.
A língua é, também, uma ferramenta de combate às desigualdades sociais, um meio de comunicação nas relações comerciais e representa, ainda, a primeira condição para se conseguir uma via aberta para a mobilidade das pessoas.
Dar-lhe impulso e dinâmica é uma responsabilidade de todos os países que têm interesse numa maior projecção da língua comum. Devem, por isso, procurar que tenha presença em todos os meios que hoje reflectem a interacção e o conhecimento, incluindo o meio digital.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Todos sabemos que a língua portuguesa tem belas palavras. Mas, por mais belas que sejam, é tempo de passarmos das palavras aos actos. Para a defesa da palavra, a palavra não basta. São precisas realizações concretas, iniciativas palpáveis, para que, no plano interno de cada um dos países em que é língua materna ou língua oficial, se promova eficazmente o conhecimento e o domínio correcto do português falado e escrito.
Um dos pontos altos da visita que efectuei a Moçambique em 1989, na qualidade de Primeiro-Ministro, foi a entrega de uma biblioteca jurídica ao Ministro da Justiça e de algumas dezenas de milhares de livros ao então Ministro da Cultura de Moçambique e meu bom amigo aqui presente, Luis Bernardo Honwana, no âmbito do projecto de criação de um Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa, Fundo esse que é hoje gerido, com um profissionalismo a que quero prestar homenagem, pelo Magnífico Reitor da Universidade Politécnica, Professor Doutor Lourenço da Costa Rosário.
É com enorme satisfação que constato o contributo, para o acesso à informação, ciência e cultura veiculadas em língua portuguesa, que este projecto tem proporcionado ao grande público.
Foi uma iniciativa concreta que a CPLP estendeu a todos os países de expressão portuguesa. Como disse, a língua faz-se de palavras, mas defende-se com actos concretos.
Actos concretos que necessitam, muitas vezes, de uma concertação entre Estados que partilham um interesse comum. É o caso da utilização da nossa língua nas organizações internacionais a que pertencemos.
Temos aqui um desafio que corresponde a um interesse estratégico conjunto e cujo resultado depende de acções concretas que só terão sucesso se a nossa actuação for concertada. Abracemo-lo, pois, com entusiasmo e persistência.
A realização deste encontro é, ela própria, um desses momentos de concretização da palavra. Por isso, saúdo mais uma vez esta iniciativa e desejo-vos um dia de trabalho produtivo.
Muito obrigado.
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