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VÍDEOS

Discurso do Presidente da República na Câmara Municipal de Ponta Delgada

Ponta Delgada, São Miguel


Senhora Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada
Senhor Presidente da Assembleia Municipal
Minhas Senhoras e meus Senhores,

Quero, antes de mais, agradecer à Câmara Municipal de Ponta Delgada, na pessoa da sua Presidente, o convite que me dirigiu para participar nesta sessão solene.

Quero também agradecer o facto de este Município ter decidido oferecer-me a sua Chave de Ouro. Trata-se certamente de um sinal de distinção relativamente ao Presidente da República, que, nessa qualidade, pela primeira vez se desloca a esta Região Autónoma. Ao receber esta alta distinção, saúdo muito calorosamente a população de Ponta Delgada e de toda a ilha de São Miguel.

Graças aos investimentos realizados e ao esforço das suas gentes, Ponta Delgada tem sofrido uma modernização que não podemos deixar de registar.

Por toda a parte, são visíveis os sinais de desenvolvimento e progresso, que fazem com que Ponta Delgada seja actualmente uma terra que se distingue pela riqueza do seu património cultural, pela sua abertura ao mundo, pela diversidade da sua oferta turística e pela qualidade dos seus equipamentos públicos.

A satisfação pelo progresso de Ponta Delgada é tanto maior quanto verificamos que a modernização do Município e o desenvolvimento da ilha de São Miguel não afectaram os equilíbrios que fazem destas terras um dos mais deslumbrantes lugares de Portugal, com paisagens de emocionante beleza, onde o mar e a terra se encontram.

É, assim, com o maior gosto e a maior honra que recebo esta alta distinção e que me encontro nos Paços do Concelho do município de Ponta Delgada, cidade desde o ano de 1546, por alvará régio de D. João III.

Um historial tão antigo e uma genealogia tão ilustre são elementos que interpelam e responsabilizam todos os que aqui se dirigem. Obrigam-nos a meditar sobre a presença multissecular dos Açores na nossa História.

Aqui sempre se projectou, de um modo tão singular, a vocação atlântica de Portugal. Os Açores foram e são uma plataforma entre continentes, a ponte de união de dois mundos, o espaço privilegiado de realização do europeísmo atlântico. Esta é uma terra de confluências e de encontros.

Desde logo, de encontro entre a Europa e o Novo Mundo, que a diáspora açoriana tão bem espelha. Mas também de encontro entre o Continente e as suas regiões insulares, que pela sua posição geográfica detêm particularidades que devem ser respeitadas. E devem ser respeitadas por dois motivos: em primeiro lugar, porque correspondem ao pulsar e ao sentir legítimos das populações deste arquipélago; e, em segundo lugar, porque tais particularidades, ao contrário do que por vezes se supõe, são elas próprias enriquecedoras do todo nacional.

É este contributo para a diversidade de Portugal que, nesta ocasião, quero sublinhar e exaltar. A açorianidade, modo de ser específico dos habitantes destas ilhas, traço peculiar da cultura e do perfil das populações deste arquipélago, é uma característica que devemos preservar como parte integrante do nosso património comum e do nosso passado multissecular.

Não é fácil descrever a personalidade dos Açores e das suas gentes. Desde logo, porque o arquipélago agrega no seu seio um conjunto de ilhas que possuem, cada uma delas, traços peculiares e inconfundíveis no seu atlantismo e na sua insularidade.

O respeito pela identidade da Região Autónoma dos Açores e das diversas ilhas que a compõem é uma tarefa não isenta de dificuldades e tensões. Mas também é próprio da personalidade açoriana saber ultrapassar os problemas com determinação e inteligência.

Provavelmente, são os poetas e os homens de letras os que melhor sabem captar o sentido profundo da alma açoriana.

Recordo a frase de Vitorino Nemésio, quando se dizia «feito mais de mar do que de terra». O mar, horizonte contínuo e omnipresente destas ilhas, constitui, porventura, o elemento que melhor caracteriza as gentes açorianas. Este é um povo que «nasceu no mar/Veio-lhe o sangue do sal», nas palavras de João de Melo.

Desta cidade de Ponta Delgada, que é mar e terra, que é sangue e sal, e desta deslumbrante Ilha de São Miguel, exorto todos os açorianos, das autoridades públicas aos cidadãos, passando pelas organizações da sociedade civil, a redescobrirem o valor estratégico dos oceanos.

Muito obrigado.


09.10.2007
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