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INTERVENÇÕES

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Intervenção do Presidente da República na Inauguração do Museu do Neo-Realismo
Vila Franca de Xira, 20 de Outubro de 2007

Senhora Ministra da Cultura,
Senhora Presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira,
Senhor Presidente da Assembleia Municipal,
Senhoras e Senhores,

Quero felicitar o município de Vila Franca de Xira, na pessoa da Senhora Presidente da Câmara, assim como todos aqueles que colaboraram e se empenharam na realização do museu do Neo-Realismo.

Ao construir este edifício, criando um espaço condigno para a investigação e a divulgação do saber, o município de Vila Franca de Xira demonstra não só a atenção e o cuidado que lhe merece o património cultural, como põe à disposição de todos os interessados um conjunto de equipamentos modernos, que vão certamente permitir um conhecimento mais alargado de um período essencial da nossa história recente.
O museu do Neo-Realismo não é apenas uma homenagem a uma corrente literária de há mais de 50 anos.

Pela riqueza da documentação aqui depositada, pela ambição do seu programa de actividades, o museu representa uma verdadeira homenagem à cultura portuguesa do século XX.

Estou certo de que a sua projecção irá estender-se muito para lá dos limites geográficos desta cidade e beneficiar todos os investigadores ou simples curiosos que, na Universidade ou fora dela, em Portugal ou no estrangeiro, se interessam pelo Neo-Realismo.

O sonho daqueles que há quase vinte anos lançaram as bases de um centro de estudos sobre o Neo-Realismo está, finalmente, realizado. A partir de hoje, este belo edifício desenhado por Alcino Soutinho, um dos mais prestigiados arquitectos portugueses da actualidade, está aberto a todos quantos quiserem conhecer aquele que foi, certamente, um dos mais polémicos e, por isso mesmo, um dos mais vivos movimentos literários e artísticos do nosso século XX.

Há boas razões para considerarmos Vila Franca de Xira um local apropriado para este museu, pese embora a dimensão nacional que teve o Neo-Realismo.

Foi aqui que nasceu e viveu Alves Redol, um dos nomes que mais se identifica com o movimento e que é autor do livro Gaibéus, considerado pelos estudiosos o primeiro romance neo-realista português.

Aqui bem perto, em Alhandra, viveu e escreveu Soeiro Pereira Gomes, outro dos escritores mais conhecidos do Neo-Realismo.

Nesta região, o associativismo com fins culturais, sociais e políticos teve sempre um enorme dinamismo, criando um público particularmente atento a escritores como os neo-realistas, que fizeram do comprometimento com os mais desfavorecidos uma bandeira da sua produção literária.

Aqui, como em todo o Ribatejo e em outras zonas do País que foram durante décadas castigadas com a pobreza mais extrema, os neo-realistas encontraram matéria abundante para os seus romances, a sua poesia, o seu teatro ou a sua pintura.

Poderá, porventura, discutir-se o valor de uma ou outra dessas obras.

Podem e devem, inclusive, discutir-se as opções ideológicas que nelas se reflectem.

Mas é inegável que das fileiras do Neo-Realismo saíram alguns dos mais significativos valores literários e artísticos do século XX.

Um Carlos de Oliveira, um Manuel da Fonseca ou um Fernando Namora, para só falar dos mais conhecidos, continuam a merecer justificadamente a admiração de muitos leitores.

Um Júlio Pomar ou um Lima de Freitas, artistas que no início da sua actividade pertenceram ao movimento neo-realista, serão sempre figuras maiores no universo da nossa pintura.

É também inegável, e não menos importante, que em muitas obras do Neo-Realismo, pela sua autenticidade, podemos aperceber-nos do que era, nesse tempo, a pobreza de tantas famílias. O seu inconformismo era simplesmente a aspiração de viver com dignidade.

O Neo-Realismo, com todos os debates que suscitou, com todas as publicações e outras iniciativas que dinamizou, é hoje tema obrigatório para quem queira conhecer o que foi a história da vida intelectual, social e política do século passado.

Senhoras e Senhores,

Uma palavra de apreço é devida aos familiares de Alves Redol, Orlando da Costa e Mário Sacramento pelo seu contributo para o enriquecimento do museu através da doação, hoje realizada, dos respectivos espólios.

Renovo os meus parabéns à cidade de Vila Franca de Xira e faço votos para que o Museu do Neo-Realismo, inspirado nos valores da liberdade e da solidariedade que nortearam tantos manuscritos que estão aqui à sua guarda, seja um verdadeiro pólo dinamizador da nossa actividade cultural e cívica.

Muito obrigado.

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Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.

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