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INTERVENÇÕES

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Intervenção do Presidente da República na Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim
Biblioteca da Universidade de Estudos Estrangeiros, Pequim, República Popular da China, 16 de maio de 2014

É, para mim, uma grande honra ser recebido na Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim. Gostaria, por isso, de agradecer o estimável convite que me foi dirigido pelo Reitor Peng Long.

Esta foi a primeira universidade de Estudos Estrangeiros na China e cedo foi aqui marcada a importância do conhecimento de outras línguas e culturas. Tem sido aliás uma tradição desta Academia a formação de Embaixadores chineses. Mais recentemente, tem desempenhado um papel dinamizador na divulgação de Portugal na China.

Sendo economista de formação, sou português de coração. É, por isso, com muito orgulho e emoção que vos venho falar do meu país. O cenário não podia ser mais apropriado para o efeito: a magnífica biblioteca desta prestigiada universidade. Acredito firmemente que é na educação e no conhecimento que assenta o futuro de qualquer nação. Quero hoje dar-vos a conhecer Portugal um pouco melhor.

Portugal, que tantos novos mundos deu ao Mundo, é um país sobre o qual nem sempre a informação publicada é a mais correta e fidedigna.

Portugal tem oito séculos de uma História que, em muitos momentos, se confundiu com a História mundial.

Portugal foi pioneiro da globalização, aproximando e dando a conhecer culturas, tanto a Ocidente como a Oriente. O dicionário de português e chinês de 1580, cujo fac-símile tive a honra de oferecer ao Magnífico Reitor, é disso uma prova.

Outros vestígios desse impacto estão hoje reconhecidos pela UNESCO. Existem 24 bens de origem portuguesa – construídos fora do território nacional – classificados como Património da Humanidade. Esta presença estende-se a três continentes: América, África e Ásia, incluindo a China, com o centro histórico de Macau.

A UNESCO classificou ainda o Fado como Património Imaterial da Humanidade, reconhecendo a importância desta manifestação cultural portuguesa e a nossa língua.

Durante séculos, o português serviu de lingua franca em África e na Ásia. Hoje, a língua portuguesa é língua oficial de cerca de 250 milhões de pessoas, em oito países em quatro continentes. O português é um dos idiomas em maior expansão no mundo. É também a língua mais falado no hemisfério sul e uma das mais utilizadas na Internet e, sobretudo, nas redes sociais. Paralelamente, é língua oficial de várias organizações internacionais, incluindo a União Europeia, a União Africana e a Comunidade Ibero-Americana.

É, pois, sem surpresa, embora com muita satisfação, que constato o interesse que a língua portuguesa suscita na China e o elevadíssimo nível de empregabilidade que o conhecimento da língua portuguesa garante.

Uma característica que os portugueses, ao longo desta História secular, sempre souberam manter foi o desejo de progresso. Somos hoje, por isso, um país que não vive na nostalgia do passado, mas que encara o futuro com confiança e ambição.

Nos últimos três anos, Portugal, como talvez saibam, atravessou um período muito exigente. A resposta foi coletiva e dada com enorme sentido de responsabilidade. Portugal realizou um grande esforço no sentido do equilíbrio das contas públicas e da concretização de reformas estruturais, visando o aumento da competitividade da economia. Os resultados têm-se revelado muito positivos, e o país continua a apostar firmemente na edificação de uma economia saudável, dinâmica, competitiva, e cada vez mais integrada na economia global.

A economia portuguesa é uma economia aberta, com um ambiente de negócios favorável à iniciativa empresarial e ao investimento estrangeiro. Tem empresas em excelentes condições de estabelecer parcerias com empresas chinesas para a entrada em mercados terceiros, em África ou América Latina. O País dispõe, além disso, quer de recursos humanos quer de infraestruturas físicas e tecnológicas de grande qualidade.

Nos últimos anos, Portugal foi destino de avultados investimentos estrangeiros, designadamente chineses. Ao mesmo tempo, a balança externa alcançou um superavit, com um assinalável crescimento das exportações. As nossas empresas souberam diversificar mercados e apostar na diferenciação, assente na qualidade e na inovação, incorporando novas dimensões de valor.

A privilegiada localização geográfica de Portugal é outra das suas vantagens competitivas. A dimensão do mar português faz da nossa zona económica exclusiva a maior da União Europeia. O seu peso geoestratégico advém ainda do facto de ser um ponto de confluência entre três continentes e de contar com relações particularmente boas com África, o Mediterrâneo e as Américas.

Com o alargamento do Canal do Panamá e a importância do porto de águas profundas que o País tem em Sines, Portugal assumirá, por sua vez, uma nova centralidade, aproximando-se da Ásia.

Nos últimos anos, temos vindo a alcançar novos patamares de competitividade em diversas áreas científicas e tecnológicas, muitas delas com alcance global. O cartão pré-pago para os telemóveis e o sistema automático de portagens nasceram em Portugal. A aposta nas novas tecnologias de informação tornou Portugal líder europeu na disponibilização e qualidade de serviços públicos online.

Ao nível das estruturas de ciência e inovação, Portugal dispõe hoje de centros de excelência em áreas de grande potencial de crescimento, como a nanotecnologia, as telecomunicações móveis, as ciências médicas ou a biotecnologia. Nelas trabalham portugueses formados pelas nossas universidades e muitos cidadãos estrangeiros que escolhem Portugal para prosseguir a sua investigação.

A produção científica em Portugal encontra-se inserida nas mais prestigiadas redes de conhecimento globais. A cooperação entre as universidades portuguesas e estrangeiras é hoje muito intensa, incluindo com as universidades chinesas. Faço-me acompanhar, nesta Visita de Estado à China, por Reitores das universidades portuguesas.

Portugal tem vindo a apostar fortemente na qualificação dos recursos humanos. Nos últimos vinte anos, o número de diplomados quintuplicou.

Mais recentemente, o país registou um dos maiores crescimentos a nível europeu no número de novos doutorados. Como vos disse há pouco, acredito no valor fundamental da educação como via para o progresso. Por isso, acredito num futuro ambicioso para o meu país.

No estrangeiro, os quadros portugueses são reconhecidos e procurados. Tenho tido ocasião de o comprovar pelo mundo fora. Há dois dias, em Xangai, num encontro que mantive com a nova comunidade portuguesa, encontrei muitos jovens quadros, talentosos e empreendedores que aí vivem e trabalham com sucesso.

Vários portugueses têm sido chamados a desempenhar altos cargos em instituições internacionais. O atual Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados ou o Presidente da Comissão Europeia são portugueses, o que é significativo do prestígio que o país granjeia.

Desde a sua adesão à União Europeia, Portugal tem assumido um papel muito ativo no aprofundamento do projeto europeu, a mais ambiciosa experiência de integração da história. O exemplo mais recente desse protagonismo foi a assinatura, em Lisboa, do Tratado com o nome da nossa capital. Foi membro fundador da zona Euro, componente central da integração europeia, a par com o mercado único europeu de cerca de 500 milhões de consumidores. Portugal acredita na Europa unida.

No plano externo, Portugal define-se ainda pelo especial relacionamento que mantém com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. As relações de amizade que Portugal construiu com os novos países emergidos da descolonização portuguesa na década de 70 do século passado são motivo de orgulho.

A fundação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, em 1996, juntando, ainda, o Brasil e, mais tarde, Timor-Leste, foi a confirmação de que esta era uma comunidade de afetos, unida por uma língua, por uma História e por valores comuns, que desejava assumir o compromisso formal de aprofundar a cooperação entre os seus membros.

Na América Latina, Portugal mantém, para além da especial relação com o Brasil, uma dinâmica de contactos frequente no quadro da Comunidade Ibero-Americana. Mais recentemente, a aproximação de Portugal à Aliança do Pacífico, como país observador, é reveladora do interesse com que encaramos esta região.

No Atlântico Norte, as relações com os Estados Unidos e com o Canadá são antigas e de grande proximidade. Ainda no passado mês de março visitei estes dois países, nossos parceiros na Aliança Atlântica, onde vive e trabalha uma importante e dinâmica comunidade portuguesa.

No palco multilateral por excelência – as Nações Unidas –, Portugal é reconhecido pela sua capacidade para alcançar consensos e construir pontes entre países e culturas. Este cariz de universalidade reúne um capital de simpatia que terá sido, muito provavelmente, uma das chaves do sucesso das nossas candidaturas ao Conselho de Segurança.

Hoje, regresso à China. Os primeiros contactos entre os nossos povos remontam há cinco séculos. O fascínio que a China provocou nos portugueses foi imediato. Os relatos de uma civilização sofisticada e única chegaram a Portugal por diversos relatos e documentação, provocando curiosidade e animação. Dela consta referência no grande épico português, Os Lusíadas, de Luís de Camões.

Creio que Portugal e a China têm sabido valorizar, numa lógica de presente e de futuro, os profundos e multisseculares laços de amizade e de cooperação que nos unem. Constatei-o durante os meus mandatos como Primeiro-Ministro e, também agora, como Presidente da República de Portugal.

Este é um ano particularmente feliz, pois comemoram-se os 35 anos do restabelecimento das relações diplomáticas luso-chinesas e o 15º aniversário da Região Administrativa Especial de Macau, símbolo maior da nossa amizade. A negociação exemplar que Portugal e a China souberam levar a cabo, com confiança e respeito mútuos, culminou com a Declaração Conjunta, que, em representação de Portugal, tive a honra de assinar na presença do grande líder Deng Xiaoping.

Hoje, os nossos dois países procuram explorar plenamente o enorme potencial que a Parceria Estratégica luso-chinesa encerra, em benefício dos dois povos. Foi neste espírito que tive a honra de receber em Portugal a Visita de Estado do Presidente Hu Jintao. Portugal conta com a China, e a China sabe que conta com Portugal, tanto de um ponto de vista bilateral, como nos contextos internacionais em que, ambos os países se inserem.

O que vos vim desvendar sobre o Portugal de hoje traça os contornos de um país que se define, afinal, por uma continuidade: a abertura ao Mundo e a busca do conhecimento. Os Descobrimentos Portugueses, que deixaram marcas pelos quatro cantos do planeta, assentaram no desenvolvimento da ciência e de técnicas de vanguarda e estiveram na génese da economia global dos nossos dias.

No passado, os meus antepassados foram impelidos a expandir o conhecimento através da viagem. Hoje, é ainda a força do conhecimento que continua a mover-nos, com uma ambição em que as universidades assumem um papel fundamental.

O poeta português Miguel Torga escreveu:

“E abre-se em mim a força deste abraço
Que abarca o mundo!”

Esta é hoje, como sempre foi, o sentimento e a atitude dos portugueses.

Está, pois, também nas vossas mãos, estimados alunos e professores, o reforço dos laços que unem Portugal e a China.

Na comitiva que me acompanha, encontram-se instituições de ensino superior e de investigação portuguesas. O interesse revelado pela comunidade académica portuguesa é também um claro indício de que o aprofundamento das relações entre Portugal e a China continuará a dar frutos duradouros ao nível do conhecimento, da Academia e do mundo empresarial.

Muito obrigado.
Xié, xié

© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016

Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.

Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.