É com muita satisfação que me associo à inauguração do Centro de Estudos Natália Correia, uma das personalidades mais carismáticas que nasceram aqui nos Açores e marcaram com o seu talento, quer a cultura, quer a vida política portuguesa no século XX.
A abertura deste Centro representa, antes de mais, um novo e importante equipamento cultural para o município de Ponta Delgada, um espaço que albergará parte importante do espólio da poetisa, e onde a sua obra vai ser, a partir de agora, objecto de investigação e debate.
Estou, no entanto, certo de que todos aqueles que a conheceram pessoalmente, assim como aqueles que veneram a sua memória e apreciam a sua obra, poderão rever-se nesta homenagem de Ponta Delgada à poetisa, à activista política, à deputada e à oradora, que tantas vezes inflamou o Parlamento da República com as suas polémicas intervenções.
Natália Correia foi, de facto, uma figura invulgar, não apenas pelo génio literário, mas também pelo vigor e a coragem com que defendeu as suas opiniões, e pelo empenho que sempre colocou na defesa das causas por que lutava.
Como escritora, a sua obra foi, desde muito cedo, acolhida elogiosamente, tanto no meio literário, como junto do grande público.
A pujança da sua imaginação não deixava ninguém indiferente. Escrevia versos e contos, peças de teatro e romances. Mas, fosse qual fosse o género, a exuberância do seu estilo fazia sempre lembrar a natureza vulcânica das ilhas dos Açores, o berço a que verdadeiramente nunca deixou de estar ligada.
Era assim o seu modo de escrever, entusiasmado e exuberante. Era também assim o seu modo de intervir, como deputada ou como simples cidadã apaixonada pelo seu País, esse Portugal que em vez de Pátria ela gostava de visionar como sua Mátria, tão grande era o afecto que por ele sentia.
Já antes do 25 de Abril, o inconformismo e a coragem de que sempre deu provas tinham-na levado a participar activamente em diversos movimentos cívicos, na defesa da liberdade e dos direitos humanos.
Uma vez restabelecida a democracia, longe de se acomodar, voltou de novo à primeira linha do combate e lutou pela liberdade de expressão, pelos direitos das mulheres, pela defesa do património e dos valores culturais.
Em boa verdade, nunca foi apenas uma poetisa, alheia ao que se passava à sua volta ou aos problemas do seu tempo. Pelo contrário, foi sempre uma cidadã empenhada, a viver intensamente os problemas do País e a lutar com determinação e denodo por aquilo em que acreditava.
Dotada de uma forte personalidade, Natália Correia deixou marcas indeléveis em todos aqueles que privaram com ela, ou que tiveram oportunidade de a escutar, quer na televisão, quer no Parlamento, quer nas famosas tertúlias que animou e que eram frequentadas, logo a seguir à Revolução, por militares e políticos dos mais diversos quadrantes, mas onde era ela invariavelmente o centro das atenções.
É a esta grande figura nacional, a esta escritora e a esta cidadã, que estamos a prestar homenagem, porventura a mais justa homenagem que se pode prestar a um autor.
A partir de hoje, na freguesia em que nasceu, há 88 anos, Natália Correia, fica aberta uma casa, um centro onde os interessados poderão entrar e dialogar com aquilo que dela nos resta e que permanecerá vivo pelos tempos fora: a sua obra e o seu legado intelectual.
Faço votos para que seja um centro criativo e dinâmico, um centro que honre, de facto, o nome que hoje lhe damos e a personalidade a quem é dedicado.
© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016
Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.
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