Senhor Ministro da Defesa Nacional,
Senhor Presidente da Câmara de Chaves,
Senhor Chefe de Estado-Maior do Exército,
Senhor Coronel Comandante do Regimento de Infantaria 19,
Militares,
Senhoras e Senhores,
Nesta que é a minha primeira visita a Chaves como Presidente da República, quero começar por dirigir uma calorosa saudação a toda a população do concelho. Não esqueço a forma amiga como sempre fui recebido pelos flavienses no exercício de outras funções. Guardo viva na memória a minha última passagem por Chaves, no início de 2006.
Hoje, ao comemorarmos os duzentos anos da reconquista de Chaves evocamos um feito militar que é, ao mesmo tempo, um acto patriótico e um gesto de sacrifício pela liberdade.
Os grandes acontecimentos da História Militar são comemorados porque representam momentos de mobilização colectiva, em que às Forças Armadas se junta o apoio dos cidadãos, na defesa da integridade do território ou dos valores que sedimentam a comunidade nacional. No caso da reconquista de Chaves, a união de esforços entre militares e populares foi decisiva para a vitória, constituindo um valioso contributo para o insucesso dos exércitos invasores.
Não é exagero dizer-se que 25 de Março de 1809 foi o prenúncio da derrota das tropas francesas. À coragem dos transmontanos e ao patriotismo das nossas Forças Armadas se deve um feito que, dois séculos volvidos, deve ser comemorado.
Como tenho dito em diversas ocasiões, só faz sentido exaltar o passado se nele for possível descobrir um sentido de futuro. No caso do bicentenário da reconquista de Chaves, este sentido de futuro é uma evidência.
Lideradas por um grande transmontano, o general Francisco da Silveira, as nossas forças souberam honrar Portugal, enfrentando com grande valentia e coragem os poderosos exércitos napoleónicos. Como tantas vezes sucedeu ao longo da nossa História, o sucesso não estava garantido à partida. Pelo contrário, a máquina de guerra comandada pelo marechal Soult constituía um inimigo temível, dotado de meios que, se acaso a confrontação tivesse sido directa e frontal, possivelmente teria ganho.
O engenho dos nossos militares residiu precisamente na opção por uma conduta militar marcada pela argúcia e pela inteligência: observar e flagelar o invasor aquém fronteira; acompanhar, em pressão continuada, a sua marcha pela Várzea de Chaves; permitir que a invasão progredisse em direcção a Braga/Porto e, enfim, reconquistar Chaves, a base de ligação francesa à Galiza, e cortar a linha de comunicações.
A arte militar que permitiu este feito de armas enobreceu os «Fronteiros de Chaves», à época o Regimento de Infantaria 12, do qual o Regimento de Infantaria 19 é legítimo herdeiro e cujo patriotismo está bem vincado na sua divisa «Sempre Excelentes e Valorosos».
Esta foi também a divisa de todos os flavienses que lutaram pela liberdade da sua terra. Há duzentos anos, os que aqui enfrentaram o invasor estrangeiro foram «Sempre Excelentes e Valorosos».
Tenho a certeza que esses valores não se perderam e, como há dois séculos atrás, os cidadãos de Chaves serão «sempre excelentes e valorosos». Os nossos antepassados mostraram-nos como é possível vencer as adversidades e conquistar a vitória em momentos difíceis. Temos de ser dignos do seu exemplo. Temos de estar à altura do seu espírito de sacrifício e da sua vontade de vencer. Temos de honrar o seu amor à Pátria.
Há precisamente duzentos anos, reconquistávamos o Forte de São Francisco. Não esqueçamos que essa reconquista foi feita, em larga medida, com o apoio do povo, uma vez que o general Silveira dispunha de apenas algumas centenas de tropas regulares. Não tinha milhares de soldados nem possuía as armas modernas do seu adversário.
Mas trazia consigo algo de muito superior: o amor à Pátria que fez unir o povo e as forças armadas, que fez com que todos sentissem que aquela era a hora de apoiar os militares em combate.
Comemoramos, pois, o reconhecimento que todos devemos às nossas Forças Armadas. Comemoramos a inteligência e o engenho daqueles que foram capazes de derrotar um inimigo aparentemente mais forte. Comemoramos a tenacidade e a coragem demonstradas pelos transmontanos que há duzentos anos lutaram pela liberdade e independência de Portugal.
A vitória de Chaves foi uma lição de patriotismo e de portugalidade. Com a minha presença, no dia de hoje, pretendo justamente dizer a todos que temos de estar à altura dos nossos antepassados. Em nome de Portugal, em nome daqueles que nos precederam e em nome das gerações vindouras, o nosso tempo também é um tempo de exigência e de luta. Do mesmo modo como vencemos há duzentos anos, também hoje seremos capazes de vencer.
Obrigado.
© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016
Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.
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