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INTERVENÇÕES

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Intervenção do Presidente da República Portuguesa no Conselho Municipal de Maputo
Maputo, 24 de Março de 2008

Senhor Presidente do Conselho Municipal e meu caro amigo, Dr. Eneias Comiche,
Senhora Presidente da Assembleia Municipal,
Senhores Vice-Presidentes da Assembleia Municipal,
Senhores Vereadores,
Distintos Convidados,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Não posso esconder a emoção com que recebo as chaves da cidade de Maputo. Trata-se de uma distinção que muito me honra e comove, como também comove a minha Mulher, porque Moçambique e, em particular, a sua capital, são lugares a que a nossa memória pessoal e familiar se encontra profundamente ligada. Maputo faz parte da nossa própria vida.

Em cumprimento do serviço militar obrigatório, permaneci em Moçambique durante dois anos. Quando chegou a notícia da minha mobilização para África, eu e a minha Mulher decidimos casar. Onze dias depois, embarcávamos no navio Infante D. Henrique, com destino a Moçambique. O dinheiro que a minha mulher tinha poupado como professora de liceu permitiu-lhe comprar um bilhete na 1ª classe do navio onde eu, como alferes miliciano, tinha direito a viajar.

Aportámos a esta cidade em 16 de Novembro de 1963 e aqui passámos dois anos felizes. O nome da nossa filha surgiu da predilecção que minha Mulher e eu tínhamos por uma rua cheia de jacarandás, que descia em direcção ao mar, numa explosão floral que nos deixava extasiados. Chamava-se, então, Rua Princesa Patrícia.

Como escrevi na minha Autobiografia, «a descoberta da África Oriental foi fascinante». «Comprei um automóvel Renault Dauphine, em segunda mão, por vinte e dois contos, façanha conseguida com um empréstimo do Montepio Geral e uma certa dose de audácia económica… Mas a juventude é por natureza confiante, havia um continente novo a descobrir e a pé não podia ser…».

Estas palavras, que deixei escritas, explicam, julgo, a profunda emoção com que hoje recebo as chaves da cidade de Maputo. Trata-se, naturalmente, de uma distinção conferida ao Presidente da República Portuguesa, mas há ocasiões no percurso de um homem em que a vida pública e a vida pessoal se entrelaçam e confundem. Aquele que hoje recebe a chave de Maputo é também o jovem alferes recém-casado que, há muitos anos, teve a ousadia de, com poucos recursos, comprar um automóvel para conhecer uma terra que logo o fascinou.

Moçambique é hoje uma nação livre e soberana. Maputo é uma cidade muito diferente daquela que conheci na primeira vez que aqui me desloquei. Mas a emoção com que aqui estou mantém-se intacta, nesta cidade que ocupa um lugar central na geografia dos meus afectos. Na beleza das ruas, no calor das pessoas, nos odores e nos sabores intensos, Maputo mantém-se igual a si própria.

De igual modo, África mantém o fascínio dos seus mistérios. Para se deixar descobrir, África exige, antes de mais, que a respeitemos. Aqui, a Natureza prossegue majestosamente o seu caminho, nem sempre generoso para com os homens. A vastidão dos territórios é uma lição de humildade para a ambição desmedida dos seres humanos. A cada passo, África e o seu passado milenar recordam-nos que mais não somos do que uma pequena partícula no Universo, uma poeira efémera na imensa superfície do nosso planeta. África é um ensinamento de humanidade.

Gostaria que os meus compatriotas partilhassem a experiência da descoberta destes lugares, que aqui viessem em busca da beleza e das imensas potencialidades que Moçambique encerra. Maputo representa, sem dúvida, uma das melhores portas de acesso a este país de futuro, de oportunidades imensas para os que tiveram a audácia de as descobrir. A mesma audácia com que, há algumas décadas atrás, um casal muito jovem viajou pela África Oriental, num automóvel comprado com a ajuda confiante de uma instituição bancária.

Foi, como disse, uma ousadia própria da juventude. Mas é com esse mesmo espírito de aventura e risco que Moçambique tem de ser descoberto nos nossos dias. Desenganem-se aqueles que julgam que poderão conhecer ou prosperar neste país sem audácia, nem ousadia. África é uma lição de humildade, mas também uma interpelação de coragem.

Senhor Presidente e meu caro amigo,

Não quero concluir esta intervenção sem prestar homenagem ao empenho que o executivo a que Vossa Excelência preside tem colocado na reabilitação e rejuvenescimento desta cidade, ao mesmo tempo que acarinha a sua memória, reconhecendo nela o garante da sua identidade própria.

Ao conceder-me esta distinção, a Câmara Municipal de Maputo homenageia Portugal, na pessoa do seu Chefe de Estado. Em nome de Portugal e dos Portugueses, muito obrigado. Mas também em meu nome pessoal e, se me é permitido, no de minha Mulher, agradeço, profundamente sensibilizado, o vosso gesto. Um gesto que encerra, ainda, um significado muito particular, por envolver, na figura do Presidente do Conselho Municipal, o melhor que sempre encontrei em Moçambique: bons e leais amigos.

© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016

Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.

Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.