Magníficos Reitores da Universidade de Coimbra, Aveiro e Beira Interior,
Senhor Presidente do Conselho Empresarial do Centro,
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Termina hoje, aqui, na Universidade de Coimbra, a 1ª Jornada do Roteiro para a Ciência que percorri, nos últimos dois dias, em torno das Biociências e da Biotecnologia.
Esta Universidade, à qual Portugal muito deve, tem prestado meritórios serviços à comunidade e pelas suas salas de aula e laboratórios passaram muitos vultos da cultura, da ciência e da economia portuguesas.
Congratulo-me com a realização do Curso de Empreendedorismo de Base Tecnológica, a cujo encerramento me associo com muito gosto, e felicito vivamente as entidades promotoras.
Este Curso trata do tema certo e trata-o de forma correcta.
Portugal precisa de mais empreendedorismo, de mais inovação de base científico-tecnológica e de maior cooperação entre todos os sectores dinâmicos da sociedade. Ora, este Curso tem o mérito de, simultaneamente, disseminar o espírito e as competências do empreendedorismo, basear-se num elevado número de tecnologias e resultar de uma parceria entre três Universidades e uma associação empresarial.
Senhoras e senhores,
Portugal enfrenta grandes desafios de competitividade à escala global.
A globalização abre-nos grandes oportunidades – aumento da eficiência económica, progresso tecnológico, investimento, mercados financeiros desenvolvidos e recursos humanos mais qualificados. Mas não nos enganemos. A globalização produz vencedores mas também vencidos.
A resposta aos desafios de competição global, numa era em que a integração dos mercados, as trocas comerciais e os movimentos de capitais são mais intensos do que nunca, não pode passar pelo trabalho intensivo, pela mão de obra barata e pelos produtos de baixo valor tecnológico.
A única resposta que nos fará vencedores na competição global radica na aposta na qualificação das pessoas, no desenvolvimento de uma nova carteira de actividades e de produtos de forte conteúdo tecnológico, na investigação científica, na disseminação das tecnologias de informação e na inovação empresarial.
A Ciência é, em simultâneo, um fim em si mesmo – porque o Conhecimento não pode deixar de ser uma ambição suprema do Homem – mas também um requisito indispensável à competitividade das empresas e ao desenvolvimento económico e social dos países.
Desde o final da década de 80 que Portugal tem vindo a fazer um esforço significativo de investimento público em I&D, de apoio à formação avançada de recursos humanos e de constituição de equipas de investigação.
Apesar desse esforço, o desempenho nacional, quando comparado com outros Estados-membros da União Europeia, é ainda insuficiente, tanto ao nível da qualificação dos portugueses, como dos padrões de investigação e de inovação.
Algumas avaliações apressadas remetem-nos para o tradicional problema do financiamento do Estado à Investigação e Desenvolvimento. Ora, a leitura atenta dos estudos da União Europeia e da OCDE mostram-nos uma outra realidade. Mais do que de um baixo nível de investimento em I&D, a raiz dos nossos problemas nasce principalmente da ineficiência desse investimento e do desequilíbrio da sua composição (preponderantemente público, com baixo investimento privado).
É verdade que precisamos de fazer mais em matéria de Investigação e Desenvolvimento mas, sobretudo, temos de fazer melhor.
Muito do que seremos, nas próximas décadas, enquanto povo e enquanto nação, dependerá do esforço que fizermos na área da ciência e do conhecimento e da nossa capacidade em traduzirmos os resultados da investigação em valor económico e social.
Congratulo-me com o facto desta orientação ter vindo a ganhar um reconhecimento crescente em Portugal
Não há, de facto, margem para hesitações. Precisamos de um ambiente mais competitivo na Investigação, capaz de reconhecer o mérito, a excelência e a capacidade de aplicar conhecimento.
Precisamos de maior cooperação entre o mundo académico e o tecido empresarial, de modo a explorar o valor comercial dos bons resultados da Investigação.
Precisamos de massa crítica nas unidades de I&D, indispensável à internacionalização do nosso sistema científico.
Precisamos de mais investigadores e de mais pessoas envolvidas nas actividades da economia do conhecimento. Precisamos de apostar numa maior participação em redes internacionais e de fomentar a mobilidade dos investigadores.
Insisto. Como noutras áreas da nossa sociedade, Portugal evoluiu muito em matéria de Investigação e Desenvolvimento, mas temos que fazer mais e melhor.
Portugal tem potencial na área da Ciência. Temos cientistas de elevadíssima qualidade e de prestígio internacional, temos instituições consideradas de excelência na investigação e temos algumas bem sucedidas parcerias Universidade-Empresa, de que resultaram inovação e reforço da competitividade.
Mas nem o mero sublinhar do nosso potencial nem a retórica das virtualidades da sociedade do conhecimento são suficientes, por si só, para sermos bem sucedidos no mundo globalizado dos nossos dias. É necessário vontade, determinação e talento na concretização desse potencial. É preciso passar à acção.
Uma boa forma de concretizar o nosso potencial passa, também, por dar visibilidade aos bons exemplos e replicá-los.
É o que pretendo fazer com o Roteiro para a Ciência.
Neste Roteiro para a Ciência tenho cinco objectivos principais:
Em primeiro lugar, valorizar o papel dos cientistas na abertura das novas vias do conhecimento, na concretização dos objectivos de desenvolvimento sustentável e na afirmação internacional do nosso País.
As mulheres e os homens da Ciência, aqueles que enveredaram por uma vida de muito estudo e de luta diária para romper as fronteiras do conhecimento, são cruciais ao futuro do nosso País e merecem reconhecimento público.
Portugal precisa de conhecer melhor os seus cientistas, de valorizar o seu papel e de estimar os serviços que prestam à comunidade. Essa é, aliás, a melhor forma de promover a cultura científica e de convocar as novas gerações para o sonho de descobrir, de inventar e de inovar. Precisamos de fazer despontar novas e muitas vocações para as actividades de investigação e de desenvolvimento.
Em segundo lugar, com este Roteiro quero mostrar alguns bons exemplos. Exemplos que devem ser conhecidos cá dentro e lá fora. Exemplos que merecem ser replicados.
Exemplos de um Portugal moderno e inteligente, que acredita que pode ser vencedor na era da globalização.
Exemplos de cooperação entre Universidades, Instituições de Investigação e Desenvolvimento e Empresas, tanto no desenho dos projectos de investigação, como na plena exploração e partilha dos seus resultados.
Exemplos de participação em redes e de transferência do conhecimento.
Exemplos de constituição de massa crítica, contrária a uma entorpecedora fragmentação.
Exemplos de empresas tradicionais que se tornaram mais competitivas à medida que deixaram penetrar a inovação de base tecnológica.
Exemplos de novas empresas de base tecnológica criadas a partir de projectos de investigação científica.
Exemplos de boa gestão da propriedade intelectual, de angariação de capital de risco e de comercialização eficiente.
Em terceiro lugar, com este Roteiro pretendo contribuir para reforçar a nova atitude em torno da investigação e desenvolvimento que se desenha em Portugal. Mais do que aleatoriedade ou voluntarismo, o país precisa de apostar no investimento privado em I&D, de assegurar a reprodutividade do investimento público e de ser eficiente no acesso a fontes internacionais e comunitárias de financiamento directo.
Por cada novo euro investido em I&D, temos de ser capazes de publicar mais artigos científicos, de registar mais patentes, de celebrar novos contratos de transferência de conhecimento, de criar novos produtos e novas empresas de base tecnológica.
Em quarto lugar, com este Roteiro para a Ciência quero convocar a cultura empreendedora. Num mundo globalizado, é preciso arriscar, pôr de parte o comodismo e o medo, abraçar a mudança, olhada pelo prisma das oportunidades, e ousar, inovando e empreendendo.
Quero incentivar os cientistas a integrarem, no desenho da sua investigação, as necessidades das empresas e, até, a criarem as suas próprias empresas. Quero incentivar os empresários a desenvolverem uma cultura de maior permeabilidade aos bons resultados da investigação científica.
Acredito na nova geração de empreendedores que procuram basear no Conhecimento a sua vantagem competitiva. Homens e mulheres que estudam, que lutam, que têm ambição e que acreditam em si próprios e no País. Homens e mulheres que pensam global e agem global.
Por último, neste Roteiro pretendo dar visibilidade a alguns nichos de investigação, de desenvolvimento e de inovação num quadro de valorização dos recursos humanos, de criação de emprego e de competitividade da nossa economia.
Portugal pode tirar mais partido das suas vantagens comparativas, das apostas na formação e no apetrechamento tecnológico que realizou nalgumas áreas. Temos, em alguns sectores, condições para consolidar regiões de conhecimento e de oportunidade.
Esse é precisamente o caso das Biociências e da Biotecnologia, tema que escolhi para esta primeira jornada do Roteiro para a Ciência.
As Biociências e a Biotecnologia constituem uma área que representa a nova vaga da economia baseada no conhecimento, com aplicações que são fundamentais para a melhoria da qualidade de vida das populações em matéria alimentar, ambiental e de saúde. Por outro lado, configuram significativas oportunidades económicas, podendo mesmo falar-se do surgimento de uma nova economia a nível mundial – a bio-economia.
Ora, esta é precisamente uma das áreas relativamente às quais Portugal tem potencial para se desenvolver.
Dispomos de um número elevado de unidades de investigação de qualidade, de graduados e pós-graduados com competências específicas e de laboratórios e equipamentos apropriados.
Senhoras e senhores
Termino felicitando, na pessoa dos Magníficos Reitores das Universidades de Coimbra, Aveiro e Beira Interior e do Presidente do Conselho Empresarial do Centro, os promotores do Curso de Empreendedorismo de Base Tecnológica.
Desejo, aos alunos presentes, as maiores felicidades na aplicação prática das noções de empreendedorismo que aqui aprenderam.
© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016
Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.
Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.