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PRESIDENTE da REPÚBLICA

INTERVENÇÕES

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Discurso do Presidente da República na Cerimónia de Encerramento do VI Encontro COTEC Europa
Porto, 7 de Outubro de 2010

Permitam-me que comece por saudar a escolha da cidade do Porto e deste emblemático espaço da Casa da Música para acolher os trabalhos do 6º Encontro COTEC Europa sobre inovação e criatividade empresarial.

O Porto, cidade reconhecida pelo seu património arquitectónico e histórico de dimensão universal, é também uma cidade que se destaca pelo espírito empreendedor das suas gentes e, mais ainda, pela projecção internacional dos seus criadores – arquitectos, designers, investigadores, artistas.

É com um sentimento de profunda amizade que saúdo e agradeço a presença, que muito nos honra, de Sua Majestade D. Juan Carlos e do Senhor Presidente da República de Itália, Giorgio Napolitano.

Gostaria também de dirigir um especial agradecimento à Senhora Comissária Máire Geoghegan-Quinn, que aceitou o convite para participar neste Encontro e que nos deu uma oportuna perspectiva sobre as recentes propostas da Comissão Europeia em matéria de Investigação e Inovação.

Apesar de todos os progressos realizados, persiste na Europa o chamado “paradoxo da inovação”, já identificado em 1995, no “Livro Verde sobre a Inovação”. Traduz-se, como era então apontado pela Comissão Europeia, na menor capacidade da Europa em transformar os resultados da investigação tecnológica e o conhecimento em inovação e vantagens competitivas.

Aproximar, cada vez mais, a investigação do mercado é o caminho para atenuar esta debilidade.

Há muito tempo – mais precisamente, em 1989 -, expressei a ideia de que muitos dos produtos e serviços que se afirmariam no mercado, num horizonte de quatro ou cinco anos, não tinham ainda existência no momento, teriam que ser “inventados”. Já então se anunciava a tendência para a aceleração tecnológica dos mercados, que se tornou manifesta no encurtamento dos ciclos de inovação de produtos e serviços, hoje medidos em meses e, em alguns casos, em semanas.

Essa capacidade “inventiva”, essa capacidade para antecipar os contornos do futuro, passou a ser a grande marca diferenciadora das empresas.

Hoje em dia, não é certamente novidade a ideia de que a inovação tecnológica e o conhecimento constituam factores-chave de competitividade empresarial.

Já as implicações dos efeitos da aceleração tecnológica e da integração económica mundial se encontram ainda longe de estar interiorizadas no comportamento de muitas empresas e no discurso dos seus líderes. Muito pode ainda ser feito, de igual modo, no desenho das políticas públicas nesta matéria.

Afirmar a Europa e as suas empresas no quadro competitivo global exige, desde logo, uma particular atenção a dois elementos de mudança estrutural: primeiro, a nova natureza dos sistemas de inovação empresarial; segundo, a chamada “demografia” das unidades de pequena e média dimensão, ou seja, o seu ciclo de nascimento, crescimento e regeneração.

A inovação é, cada vez mais, resultado de sistemas abertos, cuja dinâmica ocorre em redes de conhecimento e competências à escala planetária, exteriores, em muitos casos, às próprias empresas.

Também, por isso, e cada vez mais, os novos modelos de inovação estão associados à presença no mercado global.

Entrar ou não na escala global é, sem dúvida, um dilema que se coloca a muitas das nossas empresas.

A questão central que se coloca é a seguinte: podem as empresas fazer crescer o seu negócio sem “Pensar e Agir Global”, em termos não apenas dos seus clientes, mas também dos seus fornecedores, parceiros, concorrentes e financiadores?

O facto é que é nos chamados “mercados globais de inovação” que se afirmam as tecnologias de vanguarda, que acabam por ser adoptadas pelos utilizadores finais.

E, por outro lado, é a presença no mercado global que permite às empresas atingir dimensão relevante na actividade de exportação. Estar no mercado global é contrariar a concentração, sempre arriscada, num número limitado de destinos de negócio.

O mercado planetário abre espaço a um crescimento mais rápido e menos volátil e propicia importantes ganhos de produtividade. Mais do que acrescentar volume, trata-se de adicionar valor.

Sucede, porém, que os entraves ao comércio no espaço global têm maior impacto nas PMEs do que nas empresas de grande dimensão.
As pequenas e médias empresas dispõem de recursos limitados e possuem menor capacidade para absorver riscos, sobretudo quando operam em mercados altamente concorrenciais. E, como sabemos, nas nossas economias, quase todas as empresas são PMEs.

O novo quadro de iniciativas comunitárias de investigação e inovação agora anunciado pode trazer às nossas PMEs um terreno mais propício de acesso ao mercado global. A experiência conquistada através da participação nestes programas europeus poderá impulsionar as empresas a trilhar novos caminhos.

A COTEC Europa deve, por isso, continuar a encorajar e a acompanhar as empresas, sobretudo, no seu esforço de participação directa em programas transnacionais de investigação e desenvolvimento.

Recordo que a Comissão Europeia, designadamente na pessoa do seu Presidente, se mostrou disponível para trabalhar com as organizações COTEC. A presença, neste Encontro, da Comissária responsável pela Investigação, Inovação e Ciência é mais um sinal dessa abertura.

As unidades de pequena e média dimensão, expoentes, muitas vezes, de flexibilidade e de fluidez criativa, são as forças em que assenta a regeneração dos nossos sectores produtivos e a criação de novas indústrias.

Senhoras e Senhores,

Há vinte anos, nasceu a ideia fundadora da COTEC. Por mérito da iniciativa de um grupo de empresários espanhóis, apoiados por Sua Majestade o Rei D. Juan Carlos. Uma ideia que afirma a tecnologia e o conhecimento como as forças transformadoras da economia e das sociedades. Uma ideia que tem inspirado uma agenda de mudança nas nossas economias e nos nossos empresários e gestores.

O conceito da COTEC Europa, desde o primeiro encontro em Roma, em 2005, está alicerçado na ideia da concertação, na ideia de uma visão comum da Inovação no plano europeu.

A Europa não deve nem pode dispensar a contribuição dos países do Sul no quadro do denominado “Espaço Europeu da Ciência e Inovação”. Do nosso lado, a concertação de posições reforçará e afirmará os nossos interesses comuns nesta matéria.

Os nossos países atravessam momentos de grande exigência. Enfrentamos desafios económicos e sociais que requerem reformas profundas e urgentes, a serem realizadas num contexto particularmente difícil.

Conseguir um crescimento económico mais robusto e saudável e, ao mesmo tempo, criar emprego qualificado são as nossas metas prioritárias. São propósitos que exigem novas soluções tecnológicas, vontade empreendedora, mas também o reforço de uma cultura de responsabilidade.

A participação dos empresários e a relevância dos temas aqui tratados são a prova de que, apesar das crises que teimam em persistir, a força da inovação empresarial está bem viva.

A COTEC Europa tem-se afirmado como um espaço de cooperação e também como um fórum de transformação e de realização do futuro. Do futuro que desejamos, assumindo as nossas responsabilidades comuns na sua construção.

Estou certo de que este 6º Encontro dará uma contribuição proveitosa e inspiradora para fazer frente aos desafios com que os nossos três países se deparam. Estamos confiantes e determinados a consegui-lo.

Muito obrigado aos organizadores e a todos os participantes.

© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016

Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.

Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.