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Audiência com o Presidente Eleito Marcelo Rebelo de Sousa
Audiência com o Presidente Eleito Marcelo Rebelo de Sousa
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PRESIDENTE da REPÚBLICA

INTERVENÇÕES

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Discurso do Presidente da República na Assembleia Geral da COTEC
Culturgest, Lisboa, 15 de Maio de 2006

Senhor Presidente e Senhores Membros da Direcção da Associação Empresarial para a Inovação (COTEC),
Senhores Empresários,

Constitui para mim um motivo de grande satisfação presidir à Assembleia Geral da COTEC no triénio que agora se inicia, substituindo o Dr. Jorge Sampaio, meu antecessor na Presidência da República, a quem presto a minha homenagem pela visão demonstrada no impulso e acompanhamento prestado a esta Associação Empresarial.

Tenho seguido com atenção e expectativa o trabalho desenvolvido pela COTEC, agindo para que a inovação seja assumida como uma prioridade cada vez mais evidente nas nossas empresas e contribuindo para que o País possa vencer os desafios da competitividade num mundo cada vez mais global.

A acção da COTEC na promoção do investimento privado em Investigação e Desenvolvimento é da maior importância. Também neste domínio, cabe às empresas um papel de liderança e não uma mera complementaridade das políticas públicas.

O investimento em I&D e a inovação nos produtos e nos processos são essenciais para dar impulso a um modelo de crescimento económico equilibrado e duradouro, que permita alcançar os desejados níveis de competitividade empresarial, de emprego e de bem estar da população portuguesa.

O desenvolvimento e a modernização do País dependem do reforço da capacidade inovadora e empreendedora das nossas empresas e da difusão do conhecimento produzido em Portugal. Dependem também da nossa capacidade de apreender e incorporar o que noutros países se vai fazendo no sentido da modernidade.

Tem havido progressos sensíveis em Portugal no domínio da inovação. Quer no sector privado, quer no sector público, são muitos os casos de adaptação com êxito às novas tecnologias, de melhoria dos métodos de trabalho e de introdução de novos produtos no mercado.

Mas a perda de competitividade em vários sectores produtivos mostra que é forçoso andar mais depressa. Sei que podemos fazê-lo. A vossa ajuda, Senhores membros da COTEC, é importante para generalizar na sociedade portuguesa uma atitude de abertura à inovação.

Não podemos conformar-nos com a mediania, com as rotinas que escondem a falta de ambição para progredir.

Não basta sobreviver. É preciso vencer, marcar um lugar que projecte o País e inscreva as nossas capacidades num mundo que é extremamente exigente e penaliza quem resiste à mudança.

A inovação é a chave do sucesso.

Sabemos que para haver inovação é preciso estimular a curiosidade e o espírito crítico.

É preciso dar oportunidade à ousadia e ao risco, de modo a que o gosto pelo êxito supere o medo do fracasso.

Arriscar, romper com práticas esgotadas, valorizar os talentos e os recursos, é isso que faz a competitividade.

O País precisa de um enquadramento favorável à disseminação do conhecimento, das tecnologias e das melhores práticas, que permita às empresas ser parte activa da inovação e beneficiar dos seus frutos.

É neste domínio que ganham especial relevo os esforços da COTEC para promover uma maior aproximação entre os que sabem e os que precisam de saber, entre as empresas e os centros de conhecimento científico e tecnológico, dando lugar a um ambiente empresarial atento à inovação e desperto para as suas potencialidades.

Pouco interessam as empresas que se limitam a explorar oportunidades de momento ou o lucro imediato, mas que não perspectivam o futuro num quadro dinâmico e de ajustamento permanente.

Inovar e usufruir da inovação implica uma visão aberta, espírito de iniciativa, sentido de oportunidade, competência para mobilizar talentos e equipas, conquistar mercados cada vez mais exigentes.

Tudo isto temos que ser capazes de fazer num mundo que é cada vez mais global e onde impera uma concorrência agressiva.

Se não o fizermos, seguramente alguém, aqui perto ou no outro lado do mundo, o fará por nós.

O empreendedorismo não nasce de geração espontânea. Deve ser incutido, cultivado e incentivado. É, por isso, indispensável que haja formação para o empreendedorismo. Nas escolas, institutos e universidades, nas associações empresariais.

Lembro que o Conselho Europeu de Lisboa, em 2000, definiu o espírito empresarial como uma das competências básicas que devem ser proporcionadas pelo sistema educativo e pela aprendizagem ao longo da vida.

Esta é uma das mudanças mais importantes que temos de introduzir no nosso País: apostar na formação como vector decisivo do desenvolvimento.

Não só através de um ensino de qualidade e atento à preparação dos jovens para a vida activa, mas também de uma formação ao longo da vida, impulsionadora de saberes e aptidões adquiridos com a experiência profissional.

A preparação de profissionais para um bom desempenho no mercado global implica versatilidade e competências desenhadas desde muito cedo, aptas a ser desenvolvidas em ambientes agressivos e exigentes.

As Universidades têm aqui uma responsabilidade especial. Como escolas de formação superior, mas também como elementos de ligação ao mundo empresarial e às necessidades do mercado.

O problema da governação das nossas universidades tem que ser enfrentado, para que elas possam desempenhar o papel activo que lhes cabe no processo de desenvolvimento do País, nesta fase em que o conhecimento e a produção de saberes ocupam um lugar chave.

Quero deixar aqui uma palavra de reconhecimento ao esforço que tem vindo a ser desenvolvido por muitas Pequenas e Médias Empresas para se integrarem no mercado global. Estas empresas, pela sua dimensão, têm por vezes dificuldade em suportar os custos da inovação, quer no que respeita à rentabilização do conhecimento que elas próprias são capazes de produzir, quer no que respeita ao acesso ao conhecimento produzido no exterior.

E, no entanto, importa sublinhar que uma parte significativa da inovação, traduzida em novos produtos, em novas formas de agir, produzir ou organizar, tem origem em empresas jovens ou pequenas. Maior flexibilidade, rapidez nas decisões ou maior abertura ao risco podem constituir factores diferenciadores da capacidade de competir.

Temos que estimular os pequenos e médios empresários que, com a indispensável dose de optimismo e ambição, encaram as dificuldades como oportunidades para melhorar, olham como possível o que aos outros parece difícil ou insuperável, e são portadores de uma confiança acrescida nas suas capacidades para evoluir, para se adaptar e para vencer.

Muitos empresários portugueses já entenderam que o melhor apoio de que dispõem começa em si próprios, na sua atitude perante os problemas e os desafios.

A COTEC é uma prova dessa realidade. Agregando as maiores empresas nacionais privadas e promovendo uma rede de pequenas e médias empresas inovadoras, funciona como um pólo dinamizador da cultura de inovação e fonte de progresso.


Senhores Empresários,

O grande desafio que Portugal enfrenta, tal como outros países europeus, é o da competitividade à escala global.

A economia é cada vez mais global e está a mudar a um ritmo sem precedentes. Os desenvolvimentos tecnológicos reduziram dramaticamente o tempo e os custos de transacções a longa distância e criaram um mundo sem fronteiras nos domínios logístico, financeiro e da informação e comunicações.

A concorrência à escala global, com o alargamento da União Europeia aos países do leste europeu e a emergência de países como a China ou a Índia na cena do comércio internacional, tornaram patente a vulnerabilidade do modelo tradicional de crescimento económico português.

Nos últimos anos, temos vindo a assistir a uma erosão da capacidade exportadora das empresas portuguesas, a uma perda de quotas de mercado, a uma deterioração dos termos de troca e a um baixo nível de investimento orientado para a produção de bens que concorrem com a produção estrangeira.

Acresce que a adesão de Portugal à moeda única trouxe benefícios extraordinários, mas a adaptação aos choques económicos deixou de poder ser feita com base nos instrumentos tradicionais de política económica, passando a exigir respostas estruturais, de maior impacto na sociedade mas com resultados menos imediatos.

O novo tempo da economia mundial em que vivemos não deve ser olhado só pelo lado das dificuldades e incertezas. A imprevisibilidade resultante das mudanças e da velocidade a que ocorrem é um factor comum a todas as economias.

A globalização constitui para Portugal, tal como para os outros países, um quadro de exigências mas também de oportunidades sem precedentes.

Para retomar o processo de convergência com os níveis médios de bem-estar europeus e atingir, de novo, uma taxa de crescimento compatível com as legítimas ambições dos Portugueses, há que acompanhar as transformações exigidas pela competitividade e pelo ritmo a que se produzem as mudanças.

É sabido que Portugal mantém uma oferta demasiado sustentada em baixas qualificações e num uso intensivo do trabalho e de recursos naturais; com insuficiente diferenciação a nível dos produtos e dos factores críticos de competitividade; e com um défice de incorporação tecnológica na sua produção e nas suas exportações.

A vontade de mudar esta realidade tem que ser parte integrante da estratégia das empresas portuguesas e do pensamento dos nossos investidores, parceiros sociais e agentes políticos.

É preciso que o conhecido conceito de Pensar Global e de Agir Local penetre mais efectivamente na economia portuguesa. Eu diria mesmo que, na situação em que o País se encontra, o lema deve ser Pensar Global e Agir Global.

As empresas têm de alargar o seu campo de acção; pensar em novos mercados e em novas formas de interagir com a realidade mais vasta em que o País agora se insere; têm de orientar a produção para bens de maior intensidade tecnológica e de procura mais dinâmica.

Temos já muitos casos de sucesso, mas precisamos de muitos mais. É importante a cooperação e a partilha de informação entre os empresários. É importante o debate sobre as áreas onde as empresas portuguesas poderão dispor de vantagens específicas no contexto internacional e sobre qual a melhor estratégia para o conseguir com sucesso.

A afirmação de Portugal no quadro externo implica, também, aproveitar melhor o contexto europeu de que Portugal faz parte, visando o desenvolvimento de redes de contacto e a cooperação competitiva à escala internacional.

A inovação, a ciência e a tecnologia são precisamente as áreas onde a cooperação e a interligação com os nossos parceiros europeus mais se justificam. Ainda recentemente, à luz do debate sobre a Estratégia de Lisboa, emergiu como conclusão fundamental a importância e a vantagem de uma estratégia europeia nestes domínios.

É neste contexto da cooperação internacional que vejo como promissor o esforço de cooperação que a COTEC-Portugal mantém com as congéneres em Espanha e em Itália. É algo que deverá ser continuado e aprofundado.


Senhores Empresários,

O que hoje se exige aos decisores políticos e económicos é, em suma, que pensem global e ajam global.

É nessa perspectiva que quero deixar uma proposta à Direcção da COTEC: a constituição, no âmbito da COTEC, de um Conselho para a Globalização, para o qual estou disponível para dar o meu patrocínio, como Presidente da República. Seria um Conselho constituído por personalidades e líderes empresariais nacionais e estrangeiros, com conhecimento e experiência da economia global.

Seriam três os grandes objectivos do Conselho.

Primeiro, contribuir para a compreensão e a divulgação do fenómeno da Globalização e das suas implicações.

Segundo, criar na sociedade portuguesa o sentido de urgência para as mudanças necessárias ao sucesso no mundo globalizado e mobilizar as energias para a construção de um novo patamar competitivo para Portugal.

Terceiro, criar e estreitar laços entre líderes de empresas internacionais e de empresas portuguesas com ambição de vencer e dar mais visibilidade económica a Portugal.

Se a globalização é a grande envolvente do tempo actual, é preciso explicá-la a todos os Portugueses.

Não está nas nossas mãos travar o movimento da globalização, mas está ao nosso alcance tudo fazer para aproveitar as oportunidades que ela oferece. Insisto, é uma tarefa de todos: governo, parceiros sociais, sociedade civil, empresas, cidadãos.

É preciso aprofundar o conhecimento sobre os factores determinantes da afirmação da economia portuguesa no quadro mundial.

É preciso instituir uma cultura empresarial dotada de agilidade e flexibilidade, sem prejuízo de uma forte responsabilidade ética e social.

É preciso ter cada vez mais empresas capazes de aprender com o mundo e de nele marcar o seu espaço próprio.

É preciso desenvolver uma economia que ofereça oportunidades aos nossos melhores talentos e capaz de competir pela atracção dos melhores recursos para Portugal.

Não queremos continuar a empobrecer com a saída de jovens qualificados, desiludidos com a falta de perspectivas e de estímulos nacionais.

É preciso alargar a comunidade de investidores que está disposta a apostar em novos negócios e produtos de alto valor acrescentado, aportando capital a iniciativas ambiciosas.

Temos de ser capazes de, por um lado, atrair boas empresas de outros países e, por outro, estimular a internacionalização das nossas empresas, com elevada incorporação de conhecimento nos seus produtos e serviços.

Para isso, precisamos também de uma administração pública ágil, célere e transparente, bem como de uma justiça eficiente e credível.

Outros Países, como a Holanda, a Áustria, a Dinamarca, a Finlândia ou a Irlanda, estão a aproveitar bem as vantagens da Globalização.

Se outros conseguiram, porque não há-de Portugal conseguir também?

Existem excelentes exemplos de sucesso em Portugal. As empresas vencedoras do Prémio Inovação COTEC, a ChipIdea na primeira edição, a Primavera Software este ano, são bem o exemplo de PME portuguesas com clara ambição e vontade de afirmação à escala global.

É urgente fazer crescer a capacidade de inovação e competitividade dos portugueses, das suas empresas, das suas organizações públicas, das suas escolas e universidades.

É urgente mobilizar os jovens para que se preparem para este mundo novo em que terão que trabalhar e ter sucesso.

Mobilizar também os autarcas, pois as cidades portuguesas desempenham um papel importante na promoção da competitividade e inovação.

A experiência internacional sugere que a emergência de regiões de forte intensidade tecnológica é fundamental para a criação de um ambiente favorável à inovação.

É urgente mobilizar os trabalhadores e os empresários para a melhoria de competências e da capacidade científica e tecnológica dos recursos humanos, tornando o conhecimento num vector de competitividade absolutamente decisivo.

É urgente mobilizar as escolas, os institutos e as universidades, pois é aqui que começa e se desenha a competição além fronteiras. Há que aprender a empreender, tornar mais eficientes os imensos recursos investidos no sistema de ensino, há que difundir e saber aplicar todo o potencial gerado, integrando jovens qualificados nas empresas. A falta de oportunidades para os jovens é um desperdício intolerável.


Senhores Empresários,

Não nos podemos resignar.

Precisamos de investir muito mais na inovação tecnológica, nas actividades de investigação e na qualificação.

Precisamos de cooperar mais uns com os outros e incorporar mais conhecimento nos produtos e serviços que produzimos. Precisamos de construir novas vantagens comparativas para podermos competir no plano internacional.

Precisamos de ser mais ambiciosos e mais determinados, para transformar Portugal numa sociedade moderna onde cada um tenha a oportunidade de desenvolver o seu talento.

Temos que ser capazes de Pensar Global e actuar com determinação num espaço alargado, em que as fronteiras geográficas deixaram há muito de ser protecção ou obstáculo.

O sucesso no mundo global é a condição para que a nossa economia crie empregos e o País recupere dos atrasos face à União Europeia.

A COTEC e os seus associados sabem que nestes tempos de globalização dos saberes e dos mercados, só através de uma cooperação que envolva empresários, parceiros sociais, organizações da sociedade civil e poder político, é possível marcar um novo ritmo e prosseguir com determinação o caminho que queremos trilhar: o de um futuro em que Portugal se integre entre os melhores.

A COTEC pode contar com todo o meu apoio no desenvolvimento da sua acção.

© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016

Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.

Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.