Bem-vindo à página oficial da Presidência da República Portuguesa

Nota à navegação com tecnologias de apoio

Nesta página encontra 2 elementos auxiliares de navegação: motor de busca (tecla de atalho 1) | Saltar para o conteúdo (tecla de atalho 2)
Inauguração do Centro de Acolhimento Temporário para Crianças Refugiadas, Casa Caçula
Inauguração do Centro de Acolhimento Temporário para Crianças Refugiadas, Casa Caçula
Lisboa, 15 de Maio de 2012 ler mais: Inauguração do Centro de Acolhimento Temporário para Crianças Refugiadas, Casa Caçula

INTERVENÇÕES

Intervenções da Dra Maria Cavaco Silva

INTERVENÇÕES

Clique aqui para diminuir o tamanho do texto| Clique aqui para aumentar o tamanho do texto
VII Conferência Crianças Desaparecidas e Exploradas Sexualmente promovida pelo Instituto de Apoio à Criança
Assembleia da República, 24 de Maio de 2013

Tem sido longo e doloroso o caminho de alerta para o problema das crianças sexualmente abusadas e exploradas, vítimas de rapto e de violência. Por toda a Europa o esforço das organizações cívicas e dos Governos tem sido real e permitam-me destacar o papel inestimável que, em Portugal, o Instituto de Apoio à Criança tem vindo a desempenhar.

É um esforço que tem dado alguns frutos, mas receio que se revelem insuficientes face ao incontrolável número de casos que todos os dias nos confrontam com uma realidade envolta numa impenetrável e terrível cortina de silêncio e de desconhecimento da verdadeira dimensão do problema, quer em Portugal, quer na Europa e no Mundo.

A Convenção do Conselho da Europa contra a Exploração Sexual e os Abusos Sexuais, conhecida internacionalmente como a Convenção de Lanzarote, foi um marco histórico neste esforço de combate a uma das mais repugnantes formas de violência sobre as crianças. Registo com agrado o facto de a referida Convenção ter entrado em vigor em Portugal no passado dia 1 de Dezembro de 2012.

Mas, infelizmente, os factos não nos deixam repousar sobre a consagração na nossa ordem jurídica do compromisso que essa convenção representa. É necessário identificar a verdadeira dimensão do problema e desta constante ameaça sobre as nossas crianças. Temos de desenvolver mais investigação e melhor conhecimento sobre estas práticas de forma a que, para além da criminalização, se possa desenvolver uma verdadeira política de prevenção que envolva desde o simples cidadão, aos pais, às organizações cívicas, às instituições públicas e aos governos.

Os números, mesmo que as estimativas assumam uma considerável margem de erro, não nos deixam descansar porque são assustadores.

- Estima-se que 27 milhões de adultos e 13 milhões de crianças em todo o Mundo são vítimas de tráfico humano. Deste total quase 80% estão associados ao negócio do sexo. E mais de metade do tráfico e escravidão sexual incide em crianças e jovens com menos de 16 anos.

- Em 2008, 30% dos casos identificados de tráfico envolviam crianças destinadas à indústria de sexo.

- De acordo com a UNICEF, estima-se em cerca de 2 milhões as crianças, na sua maioria raparigas, que são exploradas pela indústria do sexo.

- Em 54% dos casos de tráfico humano o angariador é um estranho, mas nos restantes 46% o recrutamento é feito por pessoas próximas da vítima, senão mesmo familiares.


- Calcula-se que 30.000 seja o número de vítimas do tráfico sexual que anualmente morrem por abuso, doença, tortura ou negligência. Cerca de 8% dos que são traficados para escravatura sexual, têm menos de 24 anos e alguns não têm mais de seis anos.

A indústria do sexo ganhou uma dimensão nunca antes conhecida com o desenvolvimento da INTERNET e com a globalização e massificação do turismo sexual. Hoje as redes de tráfico de crianças estão organizadas à escala global e a comercialização das imagens e dos vídeos digitais representam um dos negócios mais volumosos e mais lucrativos. Em 2009, uma equipa do Centro Nacional das Crianças Desaparecidas e Exploradas (Estados Unidos), identificou mais de 10,5 milhões de imagens pornográficas de crianças disponíveis na internet.

Deixámos que o “monstro” crescesse e possivelmente acordámos tarde para a destruição silenciosa que está a provocar.

Temos de redobrar os esforços porque acções isoladas podem ser muito meritórias mas não são eficazes.

Mas, por muito que nos custe, é preciso reconhecermos que o global, infelizmente, por vezes começa à nossa porta.

Desejo que os trabalhos desta Conferência abram novos caminhos que nos permitam enfrentar com atos concretos este flagelo da nossa civilização.

 

© 2006-2016 Presidência da República Portuguesa