Intervenções da Dra Maria Cavaco Silva
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Muito boa noite a todos.
Nem imaginam a alegria que sinto hoje nesta saudação tão simples. Ao ver a sala cheia de pessoas que querem estar juntas num gesto de solidariedade com significado muito especial, creio que todos sentimos uma vontade enorme de desejar Boa Noite uns aos outros, com um sorriso feliz.
Porque verificamos que, afinal, quando queremos, os nossos dias e as nossas noites, em suma, as nossas vidas podem ser melhores.
São sempre melhores quando ajudam a melhorar as vidas dos outros.
E quando essas vidas estão a começar, onde a nossa ajuda pode fazer toda a diferença do mundo, tudo parece fazer ainda mais sentido.
Nos Roteiros para a Inclusão, que o meu marido em boa hora lançou, num desafio ao país para ser mais fraterno, várias vezes o ouvi dizer, perante pessoas visivelmente emocionadas, como ele próprio aliás, que um país que não trata bem as suas crianças não é digno das novas gerações que elas representam.
Temos a obrigação moral de merecer o nosso futuro.
Respondendo SIM ao apelo do Refúgio Aboim Ascensão, que há mais de vinte anos é um porto de abrigo para os pequenos que as tempestades da vida atiraram para caminhos que nenhum de nós quer para os filhos ou netos, estamos apenas a cumprir um dever de cidadania.
O Refúgio Aboim Ascensão tem sido um exemplo a seguir nesta área tão frágil.
E os números podem ajudar-nos a compreender como a sua acção tem feito a diferença para tantas crianças inocentes que foram atiradas pelos azares da vida para situações de perigo, angústia, abandono.
Desde 1985 passaram pelo Refúgio Aboim Ascensão mais de 2000 crianças.
Um dos objectivos, que considero fundamental em todas estas instituições, é o regresso dos pequenitos à sua família de origem.
Pois também neste aspecto o Refúgio nos dá óptimos resultados: cerca de 65% .
As adopções, que têm vindo em crescendo, são também elas animadoras: cerca de 30%.
Feitas as contas, verificamos, e devo dizer-vos que isso me dá muita alegria e principalmente muita esperança no futuro, que a percentagem de crianças que não encontram outra solução que não seja a passagem para outra instituição, é de apenas 5%.
Há ainda muito a fazer, mas acho que podemos dizer que foi muito bom o caminho percorrido.
O que só nos obriga a ultrapassar o que de bom ou muito bom já foi feito.
Tanta angústia para vidas tão pequeninas.
O que nos pode fazer sentido hoje, neste momento especial, em que estamos reunidos por um objectivo maior, é sabermos que, afinal, há muitas formas de ajudar.
Ajudar é bom e não custa nada. Olhando para os que estão à minha volta diria mesmo que ajudar nos faz felizes.
Integrada no Refúgio temos, desde 1986, uma nova forma de trabalhar nesta área tão sensível das crianças vítimas de abandono, negligência involuntária ou criminosa, maus tratos: a Emergência Infantil.
Para aqueles que não estão familiarizados com o assunto, direi que é um modelo de trabalho que permite uma maior rotatividade das crianças na instituição. Esta nova abordagem posta em prática pelo director do Refúgio, trouxe uma mais valia à instituição, porque agilizou aquilo que é afinal o objectivo primeiro de todos os que trabalham com crianças em risco: a sua integração na sociedade, a sua saída mais rápida da situação de emergência que uma institucionalização, por muito boa e carinhosa que seja – e esta sabemos que o é – representa.
O lema do Refúgio é “Pelo direito ao colo”.
Poderá parecer redundante, porque achamos talvez que onde há crianças há colo.
Infelizmente não era assim.
Felizmente agora já é assim.
Em tantas instituições que tenho visitado do norte ao sul do país, a minha maior alegria tem sido verificar essa grande diferença de atitude.
Tenho encontrado tanto colo, tantos gestos de ternura onde sabia que antes havia apenas resposta para as necessidades básicas de higiene e alimentação que não tenho dúvidas que, enquanto forem necessários os refúgios no nosso país, eles serão, na medida do possível, um porto de abrigo de afectos que tentam substituir temporariamente a âncora que as famílias devem ser, mas às vezes não podem por razões várias que não interessa aqui enumerar.
O meu apelo é apenas este: vamos dar mais colo, com mais ternura e mais qualidade, a estes meninos que passam pelo Refúgio Aboim Ascensão.
É para isso que nos reunimos hoje aqui.
Bem hajam pela vossa presença!
Bem hajam pela vossa generosidade.
Devo, no entanto, dizer-vos que sempre que agradeço a presença de almas de boa vontade nestas reuniões em que o objectivo é juntar fundos para ajudarmos a sobrevivência destas instituições, a minha tentação é não agradecer nada aos que estão presentes e dizer-lhes apenas: estivemos aqui juntos nuns agradáveis momentos de convívio, felizes e a sentirmo-nos bem porque sabemos que a nossa presença tem um significado importante.
Agradecer para quê? O nosso obrigado deve ir todo para as pessoas, e felizmente são tantas, que dão o seu empenhamento, o seu carinho, a sua boa vontade, a sua energia aos que precisam deles.
A todos esses trabalhadores da solidariedade, voluntários ou não voluntários, é que todos nós temos a obrigação de deixar, hoje aqui especialmente, mas em todos os dias da nossa vida, um obrigado enorme por nos ajudarem generosamente a cumprirmos a nossa obrigação para com os mais pequenos, os mais pobres, os mais sós, os mais desprotegidos. Em suma, aqueles que mais precisam da nossa ajuda.
Para todos eles o meu comovido: Muito, muito obrigada!
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