Intervenção da Drª Maria Cavaco Silva no Jantar - Entrega da 6ª Edição do Prémio Mulher Activa
Hotel Pestana Palace, Lisboa, 15 de Maio de 2006
Minhas Senhoras e Meus Senhores
Diz-se às vezes que os portugueses são pessimistas, negativos, agarrados ao destino, principalmente quando ele é trágico.
Vou contar-vos uma pequena história, passada comigo há anos. Estava num almoço oficial no estrangeiro e um senhor belga sentado ao meu lado, declarou-me, com o ar de quem estava a fazer um diagnóstico:
- O meu motorista é português. É um homem triste...
Sorri amavelmente, mas amareladamente, para usar uma expressão de Cesário Verde.
O senhor, provavelmente a achar que tinha o meu assentimento, voltou à carga:
- A minha cozinheira também é portuguesa. Tem sempre um ar de quem se aborrece imenso. Elle est toujours très ennuyée.
Aí achei demais os comentários sobre a depressão crónica, atribuída como um dado adquirido e generalizado aos meus compatriotas, e respondi:
- É verdade! Durante séculos aborrecemo-nos tanto que resolvemos descobrir o Mundo.
A gargalhada que veio a seguir, acompanhada de um comentário lisonjeiro, mostrou-me claramente que o senhor tinha apanhado a mensagem. Touché!
É portanto com muita alegria que aqui estou esta noite para falar do Prémio de uma revista que tem um nome que me agrada muito – Mulher Activa – e que desde o ano 2000 é atribuído a Mulheres extraordinárias que não têm nem feitio, nem tempo para se aborrecerem.
Ao longo deste 6 anos, o Prémio Mulher Activa tem chamado a nossa atenção e dado visibilidade a dezenas de mulheres que dedicam o melhor da sua energia, da sua criatividade, do seu tempo, do seu amor, a projectos que inventaram e desenvolvem a bem da comunidade de que fazem parte.
Este prémio, a quem desejo longa vida, é um incentivo para todos nós.
Mostra-nos que o ser humano é mais rico quando se dá.
Mostra-nos que há pessoas que não se deixam vencer.
Num tempo em que nem tudo o que aparece é o mais importante, o Prémio Mulher Activa dá rosto e voz a muitas mulheres e a muitas obras que sem ele ficariam escondidas no pequeno círculo de privilegiados que beneficiam da sua generosidade, da sua imaginação para ultrapassar os escolhos da vida.
E assim ficamos a saber que há mulheres que lutam contra o cancro em si e nos outros, que lutam contra doenças de corpo e alma, que lutam contra a exclusão, que estendem as mãos à deficiência física e mental.
Há tanto que fazer no mundo. Há tanta gente à nossa espera!
Como podemos nós aborrecermo-nos?
Este é o prémio dos que não se resignam, nem se aborrecem.
É bom dar um prémio que chama a atenção para tantas mulheres de que nos orgulhamos.
É bom receber um prémio que nos diz que vale sempre a pena continuar.
Por isso esta noite estamos em festa.
Vamos entregar os Prémios Mulher Activa e vamos todos dar os parabéns a estas mulheres que todos os dias continuam a descobrir o Mundo.
Dar um prémio é um acto de gratidão.
Receber um prémio é um acto de humildade.
É por isso que esta noite estar aqui a falar-vos do Prémio Mulher Activa é também estar aqui, emocionada e orgulhosa, a falar-vos das Mulheres do meu País.