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10º aniversário da Associação Nacional de Doenças Mentais e Raras – Raríssimas
10º aniversário da Associação Nacional de Doenças Mentais e Raras – Raríssimas
Lisboa, 28 de Setembro de 2012 ler mais: 10º aniversário da Associação Nacional de Doenças Mentais e Raras – Raríssimas

INTERVENÇÕES

Intervenções da Dra Maria Cavaco Silva

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Seminário “Adolescências” da Associação das Aldeias de Crianças SOS (2)
Seminário “Adolescências” da Associação das Aldeias de Crianças SOS (3)

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INTERVENÇÕES

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Discurso da Drª Maria Cavaco Silva na Sessão de Abertura do Seminário "Adolescências" promovido pela Associação das aldeias de Crianças SOS de Portugal
Auditório da Escola Superior de Hotelaria do Estoril, 11 de Maio de 2006
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Cascais, Dr. António Capucho

Senhora Dra. Rosa Araújo, Directora do Centro Distrital de Segurança Social de Lisboa e Vale do Tejo

Senhora Dra. Maria do Céu Mendes Correia, Fundadora das Aldeias SOS

Senhor Presidente da Direcção das Aldeias SOS, Dr. Luís Matias

Minhas Senhoras e Meus Senhores


Começo por agradecer o convite que me dirigiram para estar presente em mais uma iniciativa da Associação das Aldeias de Crianças SOS de Portugal.

É com especial emoção que o faço, não só por ser uma das primeiras intervenções públicas como mulher do Presidente da República, mas, acima de tudo, por se tratar de um acto de reconhecimento pelo excepcional trabalho que esta Associação tem vindo a desenvolver ao longo dos seus 42 anos de existência.

Habituámo-nos a identificar as Aldeias de Crianças SOS como uma das iniciativas pioneiras no acolhimento de crianças desprotegidas em Portugal.

Descobrimos que o sonho de poder proporcionar a cada criança uma Mãe, uma Família, um Lar e uma Comunidade Saudável, pode tornar-se realidade através do esforço, da competência, da dádiva, mas, acima de tudo, do amor com que tantos têm concretizado este projecto.

Sei que é por esse mesmo amor que muitos de vós estão aqui presentes, reconhecendo com a vossa participação a necessidade de reflectir sobre os desafios e os problemas destas crianças.

Numa sociedade que tanto mudou nos últimos 30 anos, esse esforço de encontrarmos melhores soluções para velhos e novos problemas merece ser assinalado.

Mudou, antes de mais, a forma como encaramos os direitos das crianças. Muito se tem feito neste domínio, mas está ainda longe o que todos ambicionamos realizar para tornar estas crianças mais felizes, mais capazes, mais autónomas.

Mudou a sociedade, mas infelizmente o risco de exclusão mantém-se elevado para muitas crianças. Apesar do progresso assinalável registado no nosso país, temos de reconhecer que a pobreza infantil tarda em ser confinada a uma dimensão que não nos envergonhe.

Mudou a família e com ela tornaram-se mais frágeis alguns dos pilares fundamentais que permitiam à criança crescer num ambiente que lhe desse amor, segurança e confiança no futuro.

Hoje, ouço muitos educadores e professores queixarem-se de que as crianças e os jovens se revelam mais imaturos e menos autónomos.

Interrogo-me se, no fundo, eles não se sentirão mais inseguros, menos confiantes e por isso são mais dependentes.

Um velho pensamento, cuja origem se desconhece, diz-nos que “uma criança torna-se adolescente logo que deixa de questionar de onde veio e deixa de dizer para onde vai”. Trata-se de uma reacção de quem procura o seu lugar, de quem busca uma identidade e de quem o quer fazer de forma independente.

Preocupante será uma criança não compreender ou não saber de onde veio e, ao deixar de dizer para onde vai, o faça porque não tem para onde ir.

Esse processo de afirmação poderá ser para alguns um processo de ocultação desse vazio que a vida lhe deixou a descoberto.

Esse processo de afirmação, como salientou há muito Bruno Bettelheim, faz-se na dupla perspectiva da oposição e do mimetismo. Por oposição aos que lhes são mais próximos, especialmente os pais e adultos com quem priva. Por mimetismo, aos que ele admira e a quem pretende associar-se.

É por isso que a adolescência é também a idade da descoberta, da experimentação e inevitavelmente a idade do risco. Um risco a que todos devemos estar atentos, quando notamos que as potencialidades que essa idade representa são ultrapassadas pela expressão, por vezes dramática, que o jovem dá de mal estar e vulnerabilidade pessoal.

Se é assim, para crianças e adolescentes que beneficiaram de um ambiente familiar, como será para aqueles que não tiveram esse bem inestimável?

Partilho convosco estas preocupações, porque elas atestam o quanto representa para mim o vosso trabalho, a importância da vossa reflexão, essa procura incessante de encontrar soluções e caminhos por onde possamos ajudar as nossas crianças a trilhar, dia a dia, um futuro melhor.

Como educadores, professores e técnicos, tendes nas vossas mãos uma responsabilidade acrescida no desafio de “fazer crescer” estas crianças, de as capacitar para poderem enfrentar desafios cada vez mais complexos e inesperados, de lhes conferir as competências e os conhecimentos necessários para que sejam homens e mulheres de futuro.

Desse futuro que todos ambicionamos mais próspero e socialmente mais justo.

Lembro as palavras do Prof. João dos Santos, que dizia com a autoridade de uma vida dedicada aos problemas dos mais jovens, e cito de cor: “toda a criança precisa de ter uma aldeia e uma avó”. Pessoalmente, senti que isso foi fundamental no meu desenvolvimento. Tive avós e tive aldeias.

Como não ficar logo fascinada com a realização desse sonho de dar uma aldeia, uma mãe, irmãos, tias, a crianças que tinham perdido tudo?

É desse fascínio que hoje vos dou conta aqui. Uma aldeia, uma família, amor. Com estas armas todos podemos sonhar mais alto.

Pelo vosso trabalho, pela vossa competência e pela vossa dedicação, quero deixar o testemunho do meu reconhecimento e a expressão dos votos de gratidão pelo que têm feito e pelo muito que irão continuar a fazer pelas crianças do nosso País.

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