Intervenção da Dra. Maria Cavaco Silva na cerimónia de entrega da 7ª edição do "Prémio Mulher Activa" 2007
Lisboa, 14 de Maio de 2007
Um ano passou e aqui estamos de novo, com o entusiasmo de sempre, reunidos numa noite de festa para distribuirmos mais prémios Mulher Activa.
Esta é a sétima edição do prémio e só posso desejar que se multiplique biblicamente 70x7 e, mesmo assim, tenho a certeza que não se vão esgotar as almas de boa vontade com uma obra digna de figurar no painel de candidatas e premiadas destes prémios que, em boa hora, a Mulher Activa promoveu.
Em 7 anos de existência, imaginemos o número extraordinário de mulheres que passaram por esta iniciativa.
Um número de candidatas iniciais, que desconheço mas imagino vastíssimo, porque cada vez vou conhecendo melhor as mulheres do meu país, número esse que a comissão de notáveis tem a difícil tarefa de filtrar.
Para chegarmos esta noite a estes 10 nomes, quantas terão ficado pelo caminho, tão dignas de receberem os prémios quanto estas?
Adivinho um mar de trabalhadoras incansáveis nas tantas e tão necessárias obras de cariz social que todos sabemos existirem e que têm sempre falta da nossa ajuda generosa. Sei que não vão ficar menos motivadas pelo facto de não terem ganho desta vez. Talvez para a próxima…
A única coisa que as imagino a fazer é as chamadas contas de cabeça. Ou, se preferirem, a construir castelos no ar.
Se tivesse ganho, este ano conseguiria construir mais uma casa, pôr a funcionar mais um jardim de infância, mais um centro de formação; conseguiria levar mais crianças à praia na colónia de férias, pôr mais pessoas a actuar no terreno, ajudar mais missionários.
Coisas para fazer há sempre muitas e por isso sabemos que estas mulheres que estão aqui hoje e muitas mais que estão lá fora “não têm mãos a medir”, na feliz expressão popular que todos conhecemos.
Desânimos e desistências é que tenho a certeza que não há, porque são palavras que todas estas senhoras riscaram do seu vocabulário.
Habituaram-se há muito a irem sempre à luta.
As almas que se dão a causas nobres, como estas que aqui temos hoje, nesta noite de festa, também fazem contas.
Aliás, se alguma coisa aprendi, é que fazem, têm de fazer muitas contas, porque as necessidades são muitas e diárias e os subsídios são curtos e não caem do céu.
Há um pequeno poema da minha poetisa de eleição – Sophia de Mello Breyner Andresen – que me acompanha desde a infância. Chama-se Lusitânia e os seus quatro versos resumem todo um projecto de vida.
Os que avançam de frente para o mar
E nele enterram como uma aguda faca
A proa negra dos seus barcos
Vivem de pouco pão e de luar
A vida ensinou-me que só pode viver poeticamente de pouco pão e de luar quem tem já a barriga cheia com qualquer coisa de mais substancial.
As mulheres do meu país, que temos aqui hoje connosco e representam tantas mais que não estão mas também podiam estar, avançam sem medo para o mar de vidas que elas sabem ter mais tempestades do que bonanças e com a proa negra dos seus barcos enfrentam a doença incurável, o abandono social e familiar, a fragilíssima vida em risco, a fome que não se sacia com o luar, quebram as barreiras do silêncio, da indiferença, da incapacidade física e mental.
E sabem que a proa negra dos seus barcos de luz tem de chegar a bom porto.
Os Prémios Mulher Activa são uma ajuda preciosa para que estes projectos não naufraguem.
Por isso mais uma vez repito:
Que se multipliquem 70x7.
E nunca será de mais dizer: tenho cada vez mais orgulho nas Mulheres do meu país.
E com os Prémios Mulher Activa aprendi, como tantos outros aprenderam também, muitos mais nomes de pessoas e de instituições que sem eles estariam condenadas ao anonimato.
Infelizmente sabemos que os nossos tempos não são muito propícios a publicitar o que vale verdadeiramente a pena.
Os prémios Mulher Activa valem muito a pena.
Bem hajam, premiadores e premiados, por perseverarem.