Bem-vindo à página oficial da Presidência da República Portuguesa

Nota à navegação com tecnologias de apoio

Nesta página encontra 2 elementos auxiliares de navegação: motor de busca (tecla de atalho 1) | Saltar para o conteúdo (tecla de atalho 2)
Visita ao Serviço de Pediatria do Hospital Central de Maputo
Visita ao Serviço de Pediatria do Hospital Central de Maputo
Maputo, Moçambique, 19 de Julho de 2012 ler mais: Visita ao Serviço de Pediatria do Hospital Central de Maputo

INTERVENÇÕES

Intervenções da Dra Maria Cavaco Silva

INTERVENÇÕES

Clique aqui para diminuir o tamanho do texto| Clique aqui para aumentar o tamanho do texto
Intervenção da Dra. Maria Cavaco Silva na cerimónia da 10ª Edição da Entrega do Prémio Mulher Activa
Casino Estoril, 8 de Março de 2010

No ano passado celebrámos pela primeira vez as nossas Mulheres Activas no dia da Mulher.

Achei bem a mudança. Afinal, se estamos a homenagear as nossas mulheres fantásticas, para usar a terminologia da capa da Activa de Março, porque não fazê-lo precisamente no dia que, em todo o mundo, é dedicado à Mulher.

Este ano ainda há mais razões de peso para estarmos todos aqui hoje, 8 de Março, a pensar um pouco mais empenhadamente nas Mulheres do nosso país – faz cem anos que se comemora no mundo o Dia Internacional da Mulher e o Prémio Mulher Activa faz uma década.

Este prémio apresentou ao país, nesses dez anos, cem mulheres notáveis.

Neste dia 8 de Março, quero, no entanto, aproveitar para de novo chamar a atenção para os números, que continuam a ser assustadores, de vítimas de violência doméstica.

Em 2009, entre os 18 e os 35 anos, foram assassinadas onze mulheres.

Entre 36/50 anos o maior número – treze – e duas acima dos 50.

O que é ainda mais perturbante nestes números, já de si terríveis, é que houve um aumento de 40% na faixa etária mais jovem.

Isto tem de nos pôr a pensar. Que se passa connosco? Consideramo-nos uma sociedade evoluída e não conseguimos eliminar esta praga?

As gerações mais novas, que são a nossa esperança, estão a seguir, de forma acelerada, os maus exemplos dos mais velhos. Porquê?

Não temos, infelizmente, resposta para estas questões, mas temos o dever de as denunciar publicamente.

Mas o que nos reúne aqui hoje é a entrega de um prémio a mulheres portuguesas que, com a sua actividade e o seu exemplo de vida, nos ajudam a construir um mundo melhor.

Em 1998, Arundhati Roy, uma jovem nascida na Índia em 1961, ganhou o Booker Prize com o seu primeiro livro “O Deus das Pequenas Coisas”.

É um romance fascinante e fantástico, na verdadeira acepção da palavra.

Lendo os bem elaborados textos que me ajudam a conhecer melhor as nossas nomeadas, antes de subir a este palco para as homenagear, veio-me à ideia esse mundo mágico no sul da Índia, que tanto me atraiu quando li o romance, que teve êxito mundial.

Afinal todas estas mulheres, como todas as outras que vieram antes delas e perfazem o número cem até hoje, são “deusas das pequenas coisas”.

E são as pequenas coisas e as pequenas pessoas que, quando se agigantam, fazem avançar o mundo.

São pessoas normais, que num determinado momento a história confronta com um destino fora do normal e encontram em si capacidades que nem elas próprias sabiam que tinham.

Estas dez mulheres, estas cem mulheres, estas “deusas das pequenas coisas” não precisaram de ser confrontadas com um destino excepcional para serem capazes de fazer grandes coisas.

Puseram apenas em prática a parábola do bom samaritano que nos ensina quem é o nosso próximo: o que está perto e precisa de nós.

Catarina Fonseca, no seu texto super-heroinas, alerta: “Desunhamo-nos pelo Haiti, mas fugimos dos vizinhos.”

Felizmente a Catarina tem uma tia Adélia que leva sopa aos vizinhos.

Felizmente eu tive uma avó materna com a qual passava apenas algumas semanas nas férias de Verão que, quando lhe perguntava – Avó, porque faz tanta comida se somos só três? – me respondia com naturalidade – Então, filha, e o cão e o gato?

A Maria Pinto Teixeira e a Luísa Barroso teriam adorado esta minha avó.

Eu também a adorava, garanto-vos.

Quero acreditar que estas “deusas das pequenas coisas” – das quais temos aqui hoje dez – têm um imenso glamour, Catarina Fonseca.

Tenho a certeza, como a Rosária Barreto, de que há muitas heroínas neste nosso país.

As super heroínas do quotidiano, como a Madalena, que tem toda a legitimidade do mundo para declarar: “Tenho um enorme respeito pela vida”.

Como a Margarida Lancastre, que do alto dos seus fresquíssimos “já alguns anos”, afirma:

“Deslumbro-me constantemente com todo o Universo”.

Eu também Margarida. E gosto imenso desse deslumbramento.

Como a Leonor Festas, que é multimilionária porque trabalha muito e não ganha dinheiro.

Como a Luísa Beltrão, que uma filha diferente fez nascer de novo.

Como a Eugénia Saraiva, a quem a solidariedade ainda consegue surpreender.

A mim também, Eugénia. E ainda bem!

Como a Teresa Ricou, a palhacinha mais séria que eu já conheci.

Tété, gostei de saber que nasceu com o umbigo muito bem organizado.

O meu também não está mal…

Como a Ana, da minha casa, Universidade Católica Portuguesa, que quer dar uma língua aos surdos.

Tudo isto é: Avassalador! - como diria a Margarida Pinto Correia.

Eu também acho, Margarida!

Nós, as mulheres, fomos programadas para dar a volta às dificuldades. Por isso Muhammad Yunus iniciou o seu micro-crédito com mulheres.

Por isso, uma jornalista, que esteve agora em campo no Haiti, me disse que a ONU decidiu fazer a distribuição da comida às mulheres, deixando os homens de lado, a ver.

Minhas queridas “Deusas das pequenas coisas”:

Perseverai no vosso caminho e não haverá crise, dificuldades ou desânimo que as vossas famílias, as vossas causas, o vosso país não consigam ultrapassar.

Deixem-me terminar dizendo, como sempre:

Tenho muito, muito orgulho, nas mulheres do meu país.

Muitos parabéns a todas.

Bem hajam!

Maria Cavaco Silva
 

© 2006-2016 Presidência da República Portuguesa