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10º aniversário da Associação Nacional de Doenças Mentais e Raras – Raríssimas
10º aniversário da Associação Nacional de Doenças Mentais e Raras – Raríssimas
Lisboa, 28 de Setembro de 2012 ler mais: 10º aniversário da Associação Nacional de Doenças Mentais e Raras – Raríssimas

INTERVENÇÕES

Intervenções da Dra Maria Cavaco Silva

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50º aniversário da Casa de Saúde S. José, Vilar de Frades (6)
50º aniversário da Casa de Saúde S. José, Vilar de Frades (5)

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INTERVENÇÕES

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Intervenção da Drª Maria Cavaco Silva na Cerimónia Solene de Abertura das Comemorações dos 50 Anos da Casa de Saúde S. José
Areias de Vilar, 31 de Janeiro de 2007
Já Fernando Pessoa escreve:

“Sem a loucura que é o homem
mais que a besta sadia,
cadáver adiado que procria?”

Quase todos conhecemos estes versos do poema D. Sebastião, um grande louco da nossa história, e gostamos de os citar, como eu estou a fazer aqui agora.

E estou a citá-los porque quando falamos de heróis e santos é sempre de loucura que falamos.

É uma loucura lúcida, claro.

É a loucura de ultrapassar os limites, de levar o amor a Deus e aos outros – o que é o mesmo – a extremos longe da razão.

Quando estamos numa instituição como esta, em que o fundador é S. João de Deus, as palavras loucos e loucura vêm-nos à mente, talvez porque a Casa de Saúde do Telhal, e tantas outras após ela, estão muito associadas à saúde mental.

Sabemos que no tempo de S. João de Deus a santidade andava mesmo, na sensibilidade popular, muito ligada ao desarranjo mental e a um certo desregramento comportamental.

Não é João Cidade o único a ter esse comportamento mas é com ele que a ligação entre santo e louco se torna, por assim dizer, paradigmática.

João Cidade, pelo seu trajecto de vida vário e acidentado, acaba por se ver assemelhado àqueles a quem dedica prioritariamente a sua atenção – os loucos – talvez por ter sentido na pele os “tratamentos” (entre aspas) a que eram submetidos.

Não se esgota aqui a sua acção porque todo o sofrimento provocava imediatamente nele a vontade de ajudar.

Do muito que aqui vi, ouvi e aprendi hoje ficou a noção do alargamento, aliás no espírito do próprio S. João, que a passagem dos séculos e o empenhamento dos seus seguidores impuseram às actividades da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus.

Longo foi o caminho percorrido desde o pioneirismo de João de Deus no século XVI e não podemos analisar com olhos de hoje o que se fazia ontem, seja em que área for. A evolução dos conhecimentos responsabiliza-nos sempre mais e mais e muito fez João Cidade com o que se sabia no seu tempo.

É com grande regozijo de alma que hoje entrei em contacto directo com uma obra que conhecia teoricamente e que admirava já. Reconheço agora que com pouco conhecimento de causa, porque não há nada como pisar o terreno, conhecer a realidade do dia-a-dia das instituições, saber o que fazem e como fazem, principalmente conhecer as pessoas que empenham coração e vida ao serviço dos outros.

É essa a loucura sã – a loucura lúcida – que dá asas ao ser humano e o faz voar até ao irmão que sofre.

Estive agora na Índia, como sabem. E por lá, na miséria indizível de tantos milhares de pessoas a viver abaixo de um mínimo aceitável, pareceu-me adivinhar um fantasma branco, engelhado, pequenino que espalhava ainda gestos de amor pelos mais pobres dos pobres e lhes dava o seu sorriso.

Madre Teresa de Calcutá, João Cidade e tantos, tantos mais! Exemplos não nos faltam! Assim nós os saibamos seguir e sejamos capazes de estender a nossa mão ao irmão que precisa de nós. Foi isso que eu encontrei aqui hoje: mãos estendidas, mãos agarradas.

Mãos dadas, afinal!

Bem hajam pela lição de amor que aprendi hoje nesta Casa!

No início das comemorações dos 50 anos da Casa de Saúde S. José desejo que este tempo de balanço, como são todos os aniversários, seja frutuoso.

Que se analise o que foi feito no passado para que, com a experiência adquirida com os erros e os êxitos, se construa um futuro sempre melhor ao serviço dos outros.

Muitos parabéns e óptimo trabalho.

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