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INTERVENÇÕES

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Colóquio sobre Liberdade Religiosa no Mundo (5)
Colóquio sobre Liberdade Religiosa no Mundo (1)

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INTERVENÇÕES

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Intervenção da Drª Maria Cavaco Silva no Colóquio sobre Liberdade Religiosa no Mundo
Fórum Picoas, Lisboa, 27 de Junho de 2006
Meus Amigos,

Acabámos de ouvir a apresentação do Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo.

Tomámos contacto com uma realidade que alguns teimam em ignorar, falsamente confortados pela tranquilidade que sentem à sua volta.

Aprendemos que a Igreja sofre. Muitos crentes continuam a sofrer e precisam da nossa ajuda.

Aprendemos que o mártir não é só a longínqua vítima dos leões no circo romano que tantos de nós vimos em filmes de época, tão na moda quando eu era criança.

Mártires são contemporâneos nossos, homens e mulheres, até crianças, que sofrem a perseguição e a opressão, que são vilipendiados e agredidos e que até perdem a vida por amor a Deus.

O Padre Werenfried, o criador da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, disse um dia:

“A nossa missão consiste apenas em enxugar as lágrimas de Cristo, onde quer que ele chore.”

Não podemos fingir que ignoramos que ainda hoje Cristo chora.
Chora pelos homens que sofrem.
Chora pela Igreja que sofre.
Temos de incluir no nosso projecto de vida algum tempo para enxugar essas lágrimas de Cristo.
A liberdade religiosa é a garantia de que cada indivíduo pode viver a sua fé e de que, vivendo-a, pode ser integralmente pessoa.

Ela funda-se na convicção de que cada ser humano possui o direito inviolável de praticar a religião que entender ou de não praticar nenhuma religião.

Que violência pode atacar mais radicalmente a consciência de cada pessoa do que impor-lhe formas de vida que negam as suas convicções mais profundas, como é, para um crente, viver sem viver a sua fé?

O Papa João Paulo II defendeu que na liberdade religiosa se encontra o verdadeiro teste do respeito dos direitos fundamentais, porque ela é “o coração dos direitos humanos” dado que “a religião exprime as aspirações mais profundas da pessoa humana, determina a sua visão do mundo, orienta o seu relacionamento com os outros; fundamentalmente, oferece a resposta à questão do verdadeiro significado da existência, tanto no âmbito pessoal como social”.

Temos de concordar com o saudoso Santo Padre: como pode, com efeito, respeitar e promover outros direitos fundamentais um Estado que não respeite e promova a liberdade religiosa?

A liberdade de praticar uma religião, de deixar de a praticar ou de não praticar nenhuma religião é uma opção fundamental de todos os seres humanos, que deve ser totalmente respeitada pelos poderes públicos.

Por isso, a eliminação de todas as formas de intolerância e de discriminação fundadas na religião tem de ser um objectivo de todos os homens de boa vontade.

Este Colóquio vem dar voz àqueles que a não têm. O Dr. Rogério Alves deu o exemplo tão adequado do Processo de Kafka. O condenado que não sabe o porquê da sua condenação.

Àqueles a quem se recusa a liberdade da fé e a liberdade de denunciar a sua situação.

O silêncio é para eles uma segunda opressão, porque quem, por não poder falar, não é ouvido, julga que está só.

Sentir-se só no meio do sofrimento é uma terceira opressão, porventura a mais dolorosa de todas.

Dar-lhes voz, na medida das nossas possibilidades, mostra, a eles como aos seus opressores, que os perseguidos não estão sós. Sentir a alegria da existência de companheiros, somos nós neste momento, mesmo longínquos, mesmo só em espírito, é uma força que lhes queremos transmitir, temos obrigação de lhes transmitir.

Iniciativas como esta são, portanto, um modo de dar mais alma àqueles que teimam em resistir.

Agradeço aos organizadores desta iniciativa, à qual não tive dúvidas em me associar.

Desejo a todos a continuação de um bom trabalho. Mas, sobretudo, desejo do fundo do coração que os vossos trabalhos sejam mais do que uma trágica enumeração de violações da liberdade religiosa.

Gostaria, penso poder dizer que todos nós gostaríamos de ouvir algumas palavras de esperança. Que nesta Conferência sejam proferidas essas palavras.

Que possamos alegrar-nos com Estados que reconhecem por fim na liberdade da fé um dos garantes da felicidade dos homens. Que nos possamos congratular com líderes de diferentes religiões que encontram um sinal divino na convivência mutuamente respeitadora entre os crentes.

Acredito num mundo sem mártires. Quero acreditar num mundo em que os homens não sofram tormentos em virtude da sua fé, qualquer que ela seja.

Esses são os meus votos. E, se os meus votos se cumprirem, talvez só se torne necessário realizar mais uma Conferência sobre a Liberdade Religiosa no Mundo: aquela na qual nos reuniríamos todos em alegria, porque, pelo menos por uma Igreja que sofre, já não tínhamos mais lágrimas de Cristo para enxugar.

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