Primeiras palavras
Quando, em 2006, o meu marido tomou posse como Presidente da República, tomei consciência de que iria ter uma vida mais facilitada, pela existência na lei, desde 1996, do Gabinete de Apoio ao Cônjuge do Presidente da República (GACPR).
A minha antecessora, a D. Maria José Ritta, foi a primeira a beneficiar desse importante apoio que, sei-o agora por experiência pessoal, tanto nos ajuda nas tarefas que, não tendo nós um papel institucional, somos sempre chamadas a desempenhar.
Quando o meu marido foi Primeiro-Ministro, entre 1985 e 1995, acompanhei muito a Dr.ª Maria de Jesus Barroso, a quem presto aqui tributo de respeito e afeto, nas atividades em que se entendia que, para lá da mulher do Presidente da República, devia também estar presente a mulher do Primeiro-Ministro.
Dessas presenças recordo, como obrigação que nem se questionava, o Natal dos Hospitais e o Bazar do Corpo Diplomático, que constituíam uma convivência saudável, sem protocolos rígidos, entre duas mulheres que tanto se encontravam em atos oficiais.
Sei que a Dr.ª Manuela Eanes e a Dr.ª Maria de Jesus Barroso tiveram um papel que todos os Portugueses sentiram como muito importante.
Quero agora, e acho que devo, abrir a porta às atividades que desenvolvi, como mulher do Presidente da República.
Quando cheguei a Belém em 2006, começaram a surgir pedidos de presença, apoio, alto patrocínio, audiências.
Percebi que a minha presença iria ser muito mais solicitada do que para os casos em que se partia automaticamente do princípio que a mulher do Presidente da República fazia parte do acontecimento.
Além disso, eu também não tinha chegado lá de mãos vazias, ou de ideias vazias para ser mais correta, e o Gabinete tornou-se proativo rapidamente, com muito gosto não só em responder aos pedidos, mas também em mostrar-se disponível para ajudar no que fosse possível ou desejável.
E é esse mundo, que se nos abria como se tivéssemos sempre estado à espera de entrar nele, que a Fernanda, a Margarida e eu própria abraçámos logo como nosso, como se fosse a nossa casa, o lugar onde queríamos estar.
Uma experiência que agora quero partilhar com todos os que enriqueceram tanto a nossa vida que nunca lhes agradeceremos suficientemente.
Deram-nos um outro olhar sobre as dificuldades tão pesadas que uma grave crise nos impôs, um outro olhar sobre como enfrentar tudo o que de mais duro nos pode acontecer na vida.
E a capacidade de não desistir nunca de ajudar quem precisa de nós.
A capacidade de estar com o outro de uma maneira que lhe faça sentir que o seu sofrimento e as suas dificuldades não nos são indiferentes, que nos tocam e, se não nos for possível fazer mais nada, talvez lhes possamos dar voz.
Somos muito melhores do que pensamos e o caminho percorrido durante estes anos veio-nos ensinar que temos muito a aprender uns com os outros e, quando nos respeitamos e trabalhamos juntos, conseguimos sempre mais do que quando caminhamos sozinhos.
Maria Cavaco Silva
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