A 4ª etapa do Roteiro para uma Economia Dinâmica, que aqui encerro, constitui uma justa homenagem ao sector do Têxtil e Vestuário. Saúdo todos os empresários aqui presentes.
Decidi, há um ano atrás, dedicar um Roteiro aos sectores industriais da nossa economia, pelo seu papel central na recuperação económica, no crescimento e na criação de emprego. Os sectores transformadores são o pulmão de qualquer economia saudável. São terreno fértil para a geração de novas possibilidades tecnológicas e de inovação e o principal motor das exportações. É indiscutível a sua contribuição para o crescimento e para o dinamismo da economia portuguesa.
Há duas décadas, vários sectores da nossa economia foram atingidos pelo choque da liberalização do comércio internacional e da redução de barreiras protecionistas, e pela aceleração tecnológica.
Poucos acreditariam então que fosse possível a esses sectores escapar à concorrência pelo preço e criar produtos diferenciados, inovadores, de elevada qualidade e design, projetando estas vantagens através de marcas de prestígio internacional “made in Portugal”.
Contra as expectativas de muitos, assistiu-se na última década a uma profunda reestruturação e à revitalização de diversos sectores industriais. Têxtil e Vestuário, Calçado, Metalomecânica, Pedras Ornamentais, Mobiliário são alguns dos sectores que demonstraram ser capazes de percorrer uma trajetória de recuperação da competitividade e de adquirir um novo poder de mercado.
Num registo a todos os títulos notável, empresas que sobreviveram a tempos difíceis conseguiram formar capital humano e reconfigurar estratégias e modelos de negócio, muitas vezes de forma radical.
Senhoras e Senhores,
O Têxtil e Vestuário é talvez o sector cuja imagem foi mais associada a um certo declínio económico dos vários sectores industriais no final do século XX.
Mas hoje há sinais de que a tormenta está a passar. Os resultados dos últimos anos, e especialmente do ano de 2014, dão-nos razões para otimismo.
Para tal contribuiu a visão dos empresários que acreditaram na viabilidade das suas empresas. A aposta em produtos de melhor desempenho técnico e de maior valor acrescentado, combinada com serviço adaptado às necessidades dos clientes, foi uma das fórmulas encontradas para escapar à concorrência pelo preço. Uma progressiva reorganização da produção permitiu o aumento da flexibilidade e da capacidade de resposta das empresas.
Também os processos tecnologicamente avançados, a adoção de métodos impulsionadores da produtividade e da eficiência, o marketing e a construção de uma imagem de marca nas indústrias da moda, a capacitação profissional, a eficácia de gestão, a Investigação e Desenvolvimento para a inovação, tudo isto, enfim, contribuiu para reforçar a competitividade das empresas do sector.
Assim, e num clima especialmente adverso, foi possível assistir a uma recuperação das margens, com importantes ganhos de produtividade, que cresceu 38% entre 2009 e 2013.
As exportações de têxtil e vestuário tiveram em 2014 o melhor ano da última década, com um crescimento de 8%, representando 10% da exportação nacional de bens. De realçar que 80% da produção foi exportada, uma proporção sem precedentes. O sector agrega cerca de 7.000 empresas, emprega mais de 120.000 trabalhadores e deu um contributo importante para fazer de 2014 um ano de viragem na evolução da economia portuguesa.
O sector conquistou novos mercados e está novamente nas rotas internacionais mais competitivas.
Os têxteis técnicos portugueses têm-se distinguido pela inovação dos materiais e pela sua aplicação na indústria automóvel, no desporto de competição, na defesa, no combate a fogos, entre outras.
Nós devemos divulgar as boas notícias que têm vindo a surgir relativamente à evolução da economia portuguesa e da economia europeia. Se o fizermos, estamos a contribuir para que se concretize uma possibilidade – que foi referida por mim próprio e pelo Secretário-Geral da OCDE, na semana passada, em Paris – de a economia portuguesa crescer 2 % no ano de 2015.
Alguns, aqui no País, tentaram esconder as palavras do Secretário-Geral da OCDE, ao dizer que Portugal poderia crescer 2 % no ano de 2015. É uma atitude que revela algum incómodo incompreensível.
Como sabem, nos últimos dias têm vindo a ser revelados alguns dados apresentados por instituições credíveis e independentes, dizendo que se está a assistir a uma recuperação mais acentuada do que a prevista da economia portuguesa.
Eu continuarei a dar visibilidade aos bons exemplos, a difundir a evolução positiva da economia portuguesa. Porque considero que isso é fundamental para reforçar o clima de confiança que conduzirá a um aumento da produção e da exportação das empresas, para que os empresários tomem mais rapidamente as suas decisões de investimento e para que as empresas criem mais empregos.
Os agentes políticos devem concentrar a maior parte da sua atenção no combate ao desemprego e à pobreza. É aí que está o verdadeiro interesse nacional. A intriga e as polémicas político-partidárias não criam um único emprego.
A mudança no sector dos têxteis e vestuário foi conseguida com coragem, esforço e persistência por parte de empresários, gestores e trabalhadores. Com a intuição e a experiência de décadas, aliada ao saber técnico mais atual.
Mas igualmente com conhecimento e planeamento, melhor organização e uma acrescida cooperação sectorial, ultrapassando o espírito individualista que, no passado, marcou o nosso tecido empresarial.
A proximidade geográfica das empresas e a integração de toda a cadeia de produção é uma vantagem quase única a nível internacional. Esta região onde se insere o cluster do Têxtil e Vestuário tem boas condições para se afirmar numa Europa de regiões economicamente competitivas e tecnologicamente especializadas.
O “Made in Portugal”, no Têxtil e Vestuário, é hoje uma vantagem de que nos podemos orgulhar.
Os empresários do sector estão de parabéns pelo caminho percorrido até aqui.
É por isso com enorme satisfação que termino no CENTI e no CITEVE esta 4a etapa do Roteiro para uma Economia Dinâmica, dedicada ao sector que tem aqui, em Vila Nova de Famalicão, a grande força do seu desenvolvimento.
O CITEVE e o CENTI inserem-se numa rede de investigação e inovação de especial importância. Num momento em que a aceleração tecnológica se intensifica, será cada vez mais necessário que mantenham relações de proximidade com o tecido empresarial.
Senhoras e Senhores,
Nas empresas que hoje visitei, pude constatar a sofisticação da tecnologia utilizada, a qualidade organizativa, a preparação dos seus trabalhadores e a capacidade dos empresários para compreenderem as grandes tendências do mercado e do sector do Têxtil e Vestuário.
O sector está de parabéns, como já disse, pela extraordinária recuperação realizada em condições particularmente difíceis.
Uma palavra de reconhecimento é devida aos empresários, pela sua capacidade de sacrifício e pela sua tenacidade, assim como à sua Associação, a ATP, que felicito pelos seus 50 anos e pelo serviço prestado aos seus associados.
O Plano estratégico para o sector do Têxtil e Vestuário que recentemente foi apresentado é motivo de confiança no futuro.
Identifica desafios, mas traça caminhos para os ultrapassar, refletindo uma clara determinação em continuar a crescer no valor acrescentado e na qualidade do emprego criado.
Foi por tudo isto que quis dedicar o dia de hoje ao sector e prestar-lhe o reconhecimento e a homenagem que tanto merece. É importante que os sucessos alcançados sejam mais conhecidos dos Portugueses.
Tomei, por conseguinte, a decisão de distinguir algumas personalidades que se destacaram, por mérito próprio, e que corporizam, pelas suas histórias de vida, o espírito pioneiro e inovador da Indústria do Têxtil e Vestuário. Através delas, presto tributo a todos os industriais do sector. É com muito gosto que lhes irei impor as insígnias de comendador da Ordem de Mérito Industrial.
Agradeço a vossa presença e, a todos, desejo os maiores sucessos pessoais e profissionais.
Obrigado.
© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016
Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.
Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.