Passados três anos sobre a inscrição do Fado na Lista do Património Cultural Imaterial da Humanidade, relembramos hoje o justo reconhecimento desta forma tão singular de expressão da nossa cultura.
Além do orgulho que isso traz a todos nós, devemos salientar a renovação do nosso fado, patente na descoberta de novos talentos e de valores e vozes que se destacam no panorama musical português.
O fado nasceu entre o povo, mas desde cedo cativou toda a sociedade portuguesa. Alguns dizem que é expressão de portugalidade, síntese do nosso modo de estar no mundo.
Mais do que discutir as suas origens e o seu sentido profundo, gostaria de salientar um facto simples, mas indiscutível: o fado está profundamente enraizado na nossa cultura, quer como arte, quer como tradição. E, acima de tudo, tem sabido renovar-se, conquistar perenidade, marcando presença viva para além de modas efémeras e passageiras.
Nas últimas décadas, o fado triunfou em todo o mundo e impôs-se nos mais famosos palcos internacionais, sem deixar por isso de manter aquele cunho unicamente português, com o qual nos identificamos.
Além de uma genuína expressão de arte popular, o fado tornou-se uma das marcas emblemáticas da afirmação do País além-fronteiras. Temos de garantir que o seu reconhecimento por parte da UNESCO não se tratou apenas de um galardão simbólico, sem consequências visíveis.
É preciso continuar a trabalhar na promoção desta arte única, através da distinção dos seus intérpretes e criadores mais notáveis, para que o fado alcance o justo lugar a que tem direito no panorama da música universal.
Prosseguindo uma tradição de há quase dois séculos, temos hoje em Portugal uma geração de fadistas que trouxe para o fado uma alma nova, um timbre diferente. Graças ao seu talento, conquistaram-se novos públicos e o fado adquiriu um lugar indiscutível na vida cultural do País.
Mais do que nunca, assistimos a uma ligação cada vez mais estreita do fado com a literatura, na senda de uma linha aberta por Alain Oulman e pela voz eterna de Amália Rodrigues.
A capacidade de renovação do fado é visível no aumento vertiginoso do número de discos editados e vendidos, de espetáculos produzidos e esgotados, de prémios conquistados.
Tudo isto representa um contributo inestimável para a divulgação da nossa cultura e para a projeção de Portugal no exterior.
Mas, para além do seu inegável valor como expressão da nossa cultura, o fado possui também um potencial económico de elevada relevância para o País. O seu impacto positivo nas empresas ligadas ao audiovisual e à produção de espetáculos, e a criação de postos de trabalho, têm sido uma constante nesta trajetória de sucesso.
Tudo isto foi conseguido graças ao talento, à visão e ao empenho de criadores, intérpretes, músicos e empresários.
Esta é, sem dúvida alguma, uma história de sucesso, uma história que merece ser preservada, investigada e divulgada, como tem vindo a ser feito aqui, neste museu que lhe é dedicado. No Museu do Fado cruzam-se as gerações que fizeram dele uma expressão da nossa identidade: músicos e cantores, poetas e compositores, técnicos e estudiosos.
A escola do Museu, a funcionar desde 2002, é essencial tanto para a salvaguarda como para a projeção futura desta tradição secular.
Os cerca de 170.000 visitantes, muitos deles estrangeiros, que passaram pelo Museu no último ano são a melhor prova do papel que esta instituição tem vindo a desempenhar.
Nesta minha visita ao Museu do Fado, quero expressar o meu profundo reconhecimento e a minha admiração pelo trabalho que aqui tem sido feito em prol da nossa tradição e da nossa cultura.
E porque esta é uma casa dedicada aos fadistas, antes de tudo o mais, quero homenagear um conjunto de intérpretes e criadores de excelência, que deram nos últimos anos um contributo excecional para o enorme êxito que o fado tem conhecido: Ana Moura, Carminho, Katia Guerreiro, Mário Pacheco e Ricardo Ribeiro.
A riqueza dos seus percursos individuais, a criatividade e dinamismo já demonstrados, o triunfo que alcançaram nas grandes salas de espetáculo dos quatro cantos do mundo são merecedores de reconhecimento por parte de todos os Portugueses.
Pelo seu empenho e dedicação e pela autenticidade que conferem ao seu trabalho, decidi condecorá-los com o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique.
É com especial satisfação que irei impor as respetivas insígnias aos artistas Ana Moura, Carminho, Katia Guerreiro, Mário Pacheco e Ricardo Ribeiro.
A todos agradeço o que têm feito por Portugal, na certeza de que irão continuar a honrar o País nas sete partidas do mundo.
Obrigado.
© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016
Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.
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