É com muito gosto que, mais uma vez, me associo à abertura do Congresso das Comunicações, organizado pela Associação Portuguesa de Comunicações.
Este Encontro representa uma oportunidade privilegiada para discutir o papel das tecnologias de informação e comunicação na atividade económica, na organização da sociedade e na vida dos cidadãos.
Envolvendo uma multiplicidade de protagonistas, provenientes de sectores-chave para a economia, como os transportes, a administração pública, a distribuição e o ordenamento do território, este Congresso será certamente o espaço adequado para identificar desafios de futuro e procurar soluções concretas para os enfrentar.
A difusão de redes de comunicações eletrónicas de alta velocidade tem impulsionado o desenvolvimento da economia digital, um fator essencial de inovação e competitividade, de crescimento económico e de promoção de emprego qualificado.
A economia digital estende-se rapidamente a todos os sectores, sem exceção. O maior impacto das redes digitais verifica-se na modernização das atividades existentes. Estima-se que 75 por cento do impacto da Internet ocorra em sectores ditos “tradicionais” e que a produtividade de uma PME possa crescer 10 por cento em virtude da utilização de tecnologias digitais. O sector das tecnologias de informação e comunicação poderá acrescentar, em 2020, pelo menos 4 por cento ao produto europeu.
Trata-se, por outro lado, de um sector com forte potencial de criação de emprego especializado, a crescer 4 por cento ao ano desde 2000, sete vezes mais do que o crescimento médio do emprego total no mesmo período.
Apesar desta evolução muito positiva, o potencial de criação de emprego no sector corre o risco de ser subaproveitado. De facto, prevê-se que, nos próximos anos, exista uma lacuna no mercado de cerca de 1 milhão de profissionais à escala europeia. Esta é uma oportunidade a que as instituições portuguesas de ensino superior devem estar atentas.
De salientar, igualmente, que os consumidores europeus fazem do acesso à Internet um hábito cada vez mais regular, mesmo entre os grupos menos favorecidos da população. A utilização regular da rede aumentou 11 por cento em apenas quatro anos, prevendo-se que atinja 75 por cento da população europeia já no próximo ano. Portugal é dos países onde se tem registado maior progresso neste domínio, o que aponta para que a Internet venha a fazer parte, num futuro próximo, da vida quotidiana da maioria esmagadora dos nossos concidadãos.
O comércio e os serviços prestados através de canais digitais abrem, além do mais, uma clara oportunidade para ganhos de competitividade e constituem um veículo importante de internacionalização, especialmente para as PMEs, que, através desse meio, veem muito facilitada a extensão das suas atividades para lá do mercado doméstico.
A par deste potencial, os canais digitais irão colocar novos desafios, pelo que não podem ser ignorados nem pelas empresas portuguesas nem pelos decisores dos programas de reforço da competitividade no âmbito do Portugal 2020.
O nosso país encontra-se numa posição excelente para explorar as oportunidades oferecidas pela economia digital, sendo que, para isso, muito tem contribuído o desenvolvimento do sector das tecnologias de informação.
Fruto de uma forte aposta dos operadores nacionais, as redes de nova geração fixa alcançam já 85 por cento dos lares portugueses, nível que se situa bem acima da média europeia.
Por seu lado, a cobertura de redes móveis 4G tem avançado igualmente de uma forma muito positiva, encontrando-se o nosso país no segundo lugar da Europa, logo a seguir à Suécia. O peso dos acessos suportados por tecnologias de nova geração situa-se em mais de metade do total de subscrições de banda larga, o que representa um dos maiores valores na Europa.
A existência de uma infraestrutura fiável e de elevado desempenho abre grandes possibilidades de futuro. Mas há que combater as barreiras à sua utilização, tais como a menor perceção da utilidade, a falta de competências digitais e os custos, barreiras essas que afetam especialmente os sectores mais desfavorecidos da sociedade.
Há que lembrar que, apesar das estatísticas animadoras que atrás citei, o nosso país apresenta ainda uma das maiores taxas da Europa de não utilização da Internet – que se estima em mais de 35 por cento da população, ou seja, muito acima da média europeia –, bem como um dos maiores níveis de trabalhadores sem qualquer competência digital.
Estas fragilidades terão que ser reduzidas ou mesmo eliminadas. A manutenção de um «fosso digital» entre os utilizadores regulares da Internet e os chamados «info-excluídos» é, desde logo, um elemento de desigualdade que abre uma clivagem social, económica e cultural que não podemos admitir num país desenvolvido e justo.
Importa, no entanto, sublinhar que, na última década, se registou um forte progresso na modernização dos nossos serviços públicos, fruto de investimento na aplicação das TICs. Esta aposta traduz-se em visíveis benefícios para a qualidade e disponibilidade dos serviços e em reduções significativas dos seus custos.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Atravessamos um período de mudanças sem precedentes no sector das tecnologias de informação, que terão profundo impacto nos operadores e nos investidores, tal como em trabalhadores e consumidores.
Não devemos esperar facilidades, mas podemos encarar o futuro da economia digital, entre nós, com otimismo e esperança.
Tenho plena confiança nas empresas e nas capacidades dos gestores e técnicos para sustentarem os ciclos de inovação e reinventarem modelos de negócio, tornando assim o sector mais forte, mais competitivo e mais preparado para apoiar o desenvolvimento económico e social do País.
Estou certo de que este Congresso dará, uma vez mais, respostas concretas às necessidades e aos desafios do sector das tecnologias de informação.
Desejo-vos, desde já, um trabalho profícuo e os maiores sucessos para este Encontro.
Muito obrigado.
© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016
Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.
Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.