É com muito gosto que me encontro hoje nesta Cidade Augusta para me associar à comemoração dos 500 anos da Santa Casa da Misericórdia de Braga. Agradeço, muito sensibilizado, a distinção de Irmão Honorário que o Senhor Provedor há pouco anunciou.
Quantas instituições têm o privilégio de celebrar os seus 500 anos, como tem sido o caso das Misericórdias Portuguesas?
Instituições centenárias, geradas por iniciativa de uma Rainha, as Misericórdias são obras, maioritariamente, de leigos congregados em torno das suas Irmandades.
São obras de homens bons, das vilas e cidades de Portugal, que cobrem todo o território nacional e que muito honram a nossa história como povo.
Não obstante a cobiça de que foram alvo e as muitas incompreensões registadas nestes cinco séculos de história, as Misericórdias Portuguesas conseguiram superar essas dificuldades e, nos nossos dias, revelam-se tão atuais e tão imprescindíveis quanto se revelaram na época em que foram criadas.
É precisamente nas conjunturas mais adversas que melhor se evidencia a natureza dos homens e das suas instituições.
Nos tempos difíceis que Portugal atravessa, em que o desemprego atinge dimensões dramáticas (838 mil), em que alastram as situações de pobreza e de exclusão social, em que muitas famílias se veem a braços com quebras de rendimento e encargos de endividamento que não conseguem satisfazer, em que se multiplicam as ruturas dos laços familiares e os novos pobres, é de toda a justiça reconhecer o extraordinário trabalho realizado pelas Misericórdias e outras IPSS e por milhares de voluntários no apoio aos mais vulneráveis da nossa sociedade.
A História da Santa Casa da Misericórdia de Braga encerra muitos exemplos do espírito de abnegação e de solidariedade do nosso povo.
Lembramos D. Frei Bartolomeu dos Mártires, Arcebispo de Braga e Provedor da Misericórdia, que durante a peste de 1570 resistiu a corresponder às missivas do próprio Rei para abandonar a cidade.
Segundo registam as crónicas da época, ele próprio se dedicava a visitar os doentes, providenciando na sua cura ou na administração dos Sacramentos.
É a ação, a obra e a memória das mulheres e homens de benfazer que conferem uma forte identidade às Misericórdias Portuguesas e que justificam a sua existência secular.
Cabe aos governantes saber interpretar a cada momento o papel destas instituições, aproveitar esta poderosa força solidária da sociedade civil para responder aos desafios da pobreza, que ameaça hoje mais de dois milhões de portugueses, e para atender aos grupos sociais mais vulneráveis à doença, à deficiência ou às limitações da velhice, e às crianças em risco de exclusão ou vítimas de maus tratos físicos ou psicológicos.
Senhor Presidente da Câmara,
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Visitei ao final da manhã o Mosteiro São Martinho de Tibães, essa joia da nossa arquitetura religiosa, que experimenta uma nova vida depois da sua magnífica recuperação.
A diferenciação turística do nosso país e de uma região tão ricamente povoada de mosteiros e de igrejas de grande beleza e interesse assume um papel fundamental no desenvolvimento económico local e regional e pode atrair muitos milhares de turistas por ano.
Braga não está debruçada para o passado, mas sim voltada para o futuro. A Universidade do Minho, que tanto tem feito para desenvolver a região, anima a cidade e coloca-a no centro do mundo do conhecimento e da inovação.
Os bracarenses beneficiam de uma rede de infraestruturas físicas, tecnológicas e científicas invejável.
Encontramos em Braga um espírito jovem, que se traduz na prontidão para responder aos desafios do presente e às necessidades do futuro.
Uma cidade que, longe de estar presa nos seus pergaminhos, demonstra tantos sinais de juventude pode afirmar-se como um verdadeiro centro de conhecimento e de talentos empreendedores, como um polo de atração de investimento e contribuir, de forma clara, para a recuperação económica do nosso país e para a criação de emprego.
Senhor Presidente da Câmara,
Senhor Provedor da Misericórdia de Braga,
As autarquias locais e instituições como as Misericórdias desempenham, na nossa sociedade, um particular papel dinamizador do desenvolvimento económico e social justo. Um papel que saberão, estou certo, continuar a desempenhar.
Os cidadãos sabem que os tempos são exigentes, mas a aposta no conhecimento, na inovação, na criatividade e na atração de investimento, aliada ao contributo das instituições sociais no apoio aos mais desfavorecidos, podem ajudar-nos a ultrapassar estes momentos de dificuldade que atravessamos.
Neste tempo de novos desafios económicos, sociais e culturais, o exemplo de Braga pode ser extremamente encorajador.
Termino com uma saudação muito especial à Santa Casa da Misericórdia de Braga, aos membros da Irmandade, mas também aos utentes e a todos os trabalhadores da instituição, pelos seus 500 anos de história e de trabalho.
Que a Misericórdia de Braga e as Misericórdias Portuguesas possam continuar esta sagrada missão de fazer o bem junto dos mais frágeis da nossa sociedade e ajudar a melhorar as condições de vida dos portugueses.
Bem hajam.
© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016
Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.
Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.