A atribuição do Prémio Leya constitui um motivo de particular regozijo para nós, Portugueses, e para todo o mundo lusófono.
O prémio destina-se a incentivar a produção de obras originais de ficção em língua portuguesa. Nos breves anos que já leva de existência, foi atribuído a um autor brasileiro, a um moçambicano e a dois portugueses. Está, portanto, demonstrada a sua razão de ser e a sua vocação autenticamente lusófona.
Em pouco tempo, o Prémio Leya consagrou-se como um estímulo e uma oportunidade para a revelação de novos valores, em qualquer uma das várias literaturas que hoje se exprimem em português.
O êxito da iniciativa deve-se, antes de mais, à visão dos seus promotores, um grupo empresarial que soube interpretar o sentimento e a vitalidade do mundo lusófono, lançando um projeto editorial cujo horizonte de possível expansão se alarga a vários continentes.
Em 2009, aquando da entrega do prémio Leya ao seu primeiro vencedor, tive oportunidade de afirmar: «Para que a lusofonia seja uma realidade, e não apenas um eco do passado, é preciso que no seu espaço se criem e desenvolvam projetos económicos e culturais dinâmicos. É preciso haver homens e empresas que saibam traduzir, em iniciativas concretas, todo o potencial que reside no facto de partilharmos com tantas nações uma língua comum».
Volvidos quatro anos, dou os meus parabéns ao Grupo Leya, em particular por ter sabido manter este prémio, que é um símbolo do que poderá vir a ser a comunidade de nações e Estados lusófonos.
Quero também felicitar o premiado deste ano, o engenheiro Nuno Camarneiro, cujo romance «Debaixo de algum céu» foi distinguido por um júri constituído por escritores e académicos de Angola, Brasil, Moçambique e Portugal, a que presidiu o poeta Manuel Alegre.
Ter sido escolhido entre centenas de candidatos dos países lusófonos, alguns deles a viver como emigrantes em França, no Canadá ou no Reino Unido, é a melhor prova de que o talento evidenciado por Nuno Camarneiro merece a nossa admiração e o nosso aplauso.
Quero, por isso, congratular-me com o sucesso alcançado por este seu segundo livro. Desejo-lhe as maiores felicidades. Oxalá consiga realizar os seus melhores sonhos e prosseguir com êxito a vocação literária de que já deu provas.
Espero também que o Grupo Leya mantenha esta sua iniciativa, que tanto poderá fazer, através do estímulo dado aos escritores, pela consolidação da rede global em que estão interligadas as cerca de 250 milhões de pessoas que têm o português como língua oficial.
Na realidade, sem os escritores, a lusofonia seria um projeto a que faltaria alma.
São os escritores que, através da sua imaginação e criatividade, mantêm uma língua viva.
São eles que constroem e exprimem em palavras essas pontes imateriais que ligam as pessoas e os povos, cimentando identidades coletivas.
Uma política de promoção da língua portuguesa não poderá ignorar as obras literárias que em português se escrevem e que são um dos seus principais veículos de projeção no mundo.
É certo que todos os Estados lusófonos se mostram empenhados em estreitar os laços que os unem. Sabemos que essa união contribuirá para o desenvolvimento e a prosperidade das populações.
Mas aquilo que nos une é mais do que uma simples arquitetura política e diplomática, que pudesse estar à mercê das circunstâncias e do voluntarismo dos decisores.
Para além de estarem politicamente associados e partilharem a mesma língua, os povos que integram o projeto lusófono têm séculos de história em comum.
A lusofonia está assente num lastro de sentimentos e cumplicidades, um conjunto de memórias e valores que todos cultivamos, não obstante as diferenças que existem entre as culturas que são próprias de cada uma das nossas nações.
É esse, aliás, o sentido da decisão do Conselho de Ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa que consagrou o dia 5 de maio como o Dia da Língua Portuguesa e da cultura na CPLP, «tendo em vista», como diz a resolução oficial, «a sua afirmação crescente nos Estados-membros e na comunidade internacional».
A melhor prova dessa comunidade que estamos a construir, apesar das diferenças que nos separam, são iniciativas como o Prémio Leya, que convocam, num mesmo certame, escritores oriundos de um universo tão diversificado como é o das literaturas que se exprimem em português.
Há que saber exponenciar e tirar partido dessa realidade que é a projeção crescente da literatura de língua portuguesa no panorama internacional, onde se têm multiplicado as traduções e a curiosidade pela ficção em português, nas suas diversas tonalidades, nos seus vários modos de falar e de sentir.
Há igualmente que reconhecer a importância que esse fenómeno poderá ter para a identificação e afirmação de um espaço internacional, que tem raízes históricas e culturais, mas cujas potencialidades se estendem a muitos outros domínios.
Num mundo em que as chamadas «fronteiras espirituais» se estão a impor crescentemente, a consolidação do espaço lusófono deve ser uma tarefa prioritária.
Renovo, por isso, os meus parabéns ao autor premiado e ao Grupo Leya, fazendo votos pelo sucesso do seu trabalho em prol da divulgação da literatura em língua portuguesa.
Muito obrigado.
© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016
Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.
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