É com o maior gosto que me associo, uma vez mais, à abertura do Congresso da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, dando pública expressão ao meu apreço pelo notável trabalho desenvolvido por esta Sociedade, há várias décadas, em prol da saúde dos Portugueses.
As doenças cardiovasculares continuam a ser, entre nós, a principal causa de mortalidade, além de uma causa muito importante, que não podemos negligenciar, de incapacidade permanente e de sofrimento para muitos Portugueses e para as suas famílias.
Por isso, quero manifestar, antes de mais, o meu reconhecimento a todos os profissionais de Saúde que, para além de exercerem esta especialidade médico-cirúrgica, conferem também especial relevo à educação e à prevenção da doença cérebro-cardiovascular.
Sabe-se, desde há muito, que os hábitos de vida e os padrões de comportamento são essenciais para a prevenção das doenças cardiovasculares. Tenho insistido na necessidade de existir, na sociedade portuguesa, uma consciência mais clara e uma perceção mais informada dos riscos associados ao sedentarismo, ao tabagismo, à obesidade, ao consumo excessivo de álcool, à ingestão imoderada de sal e à própria falta de controlo regular do estado de saúde.
Pela minha parte, procuro adotar um estilo de vida saudável e por isso foi com regozijo que, ainda há pouco tempo, li uma entrevista do meu médico pessoal na Presidência da República, o Dr. Daniel de Matos, em que ele, com humor, praticamente confessava que, comigo, corria o risco de ficar no desemprego.
Não é, naturalmente, o desemprego da classe médica que desejamos. Desejamos, isso sim, que a população esteja mais consciente dos fatores de risco de ocorrência de uma doença com tão elevados níveis de mortalidade. Importa que os Portugueses saibam e compreendam que não foi por acaso que a Organização Mundial de Saúde escolheu, este ano, o tema da hipertensão como fulcro de debate à escala mundial.
Congratulo-me pelo facto de começar a existir, quer por parte das autoridades, quer por parte da sociedade civil, uma consciência mais clara de que há um longo caminho a percorrer. De facto, e como a Sociedade de Cardiologia tem alertado, estamos longe de esgotar o potencial de prevenção das doenças, cérebro-cardiovasculares. Sabemos que cerca de metade destas doenças, em indivíduos com mais de 30 anos de idade, é atribuível à falta de controlo da pressão arterial, 31 por cento ao excesso de colesterol e 14 por cento ao fumo de tabaco.
A vigilância regular da pressão arterial, o abandono do tabagismo, a mudança dos hábitos alimentares e o controlo do colesterol poderiam, inquestionavelmente, reduzir de forma muito significativa a incidência destas doenças.
Existe já muita informação mas é necessário fazer mais. Desde logo, aprofundar o conhecimento destas doenças entre a classe médica, os investigadores, os profissionais de saúde. Depois, sensibilizar a opinião pública através de ações e campanhas de grande impacto. De novo, a Sociedade Portuguesa de Cardiologia desenvolve aqui um trabalho notável. O portal da Sociedade recebe uma média de 40 mil visitantes por mês, que consultam 2 milhões de páginas por ano. A credibilidade desta instituição garante, aos que conhecem o seu trabalho, o acesso a uma informação fiável, circunstanciada e independente. Assegura que todos os Portugueses podem saber que opções devem tomar para melhor defenderem as suas vidas, pois é efetivamente isso que está em causa: defender a vida contra mortes que, em boa medida, poderiam ser evitadas.
A experiência demonstra que as medidas preventivas são benéficas e que deverão ser praticadas em todas as idades, mas é nas idades mais jovens que a educação para um estilo de vida saudável apresenta, naturalmente, melhores resultados.
Há, pois, que dirigir uma especial atenção às medidas preventivas junto dos mais jovens, nem sempre despertos para os elevados riscos associados ao consumo excessivo de álcool ou ao hábito do tabagismo.
O tema escolhido para este XXXIV Congresso – “a evidência, a prática e as políticas” – revela o empenho na prossecução das boas práticas profissionais e na busca de um cruzamento entre provas científicas, práticas médicas e políticas de Saúde. É através desse cruzamento interdisciplinar que se poderá melhorar, quer na prevenção, quer no tratamento, a eficácia do combate às doenças cardiovasculares.
Todos os participantes neste Congresso são, pode dizer-se, combatentes pela vida dos Portugueses.
Quero, muito sensibilizado, saudar-vos por isso e desejar os maiores sucessos para este Encontro e para o vosso trabalho.
Muito obrigado.
© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016
Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.
Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.