Iniciamos a segunda conferência internacional de um ciclo de iniciativas que designámos por Roteiros do Futuro.
A primeira dessas conferências, realizada em fevereiro do ano passado, foi dedicada aos problemas da demografia portuguesa, com especial atenção para a evolução da fecundidade e da natalidade.
Hoje, o tema que nos reúne é o da presença de Portugal e dos Portugueses no Mundo, fazendo integrar o olhar da história com a reflexão prospetiva em torno das oportunidades de cooperação e de desenvolvimento internacional.
O que nos interessa é o futuro, muito para além do imediato. O que nos interessa e preocupa é construirmos uma visão que nos mobilize e nos una no fundamental.
Afirmámos na sessão de abertura da primeira conferência que “é nos tempos difíceis que devemos ter a ousadia de pensar o futuro. A dureza do presente não nos deve impedir de ver mais longe”. Um ano depois, estas palavras ganham especial significado.
De facto, é sobretudo nas conjunturas adversas que mais importa olhar em frente, perscrutar o médio e longo prazos, identificar o que se transforma e o que permanece. É assim que nos preparamos para não sermos surpreendidos pelo turbilhão da mudança global.
Almeida Garrett, quando publica em 1830 o ensaio Portugal na Balança da Europa, título que inspirou o tema desta Conferência, tinha um objetivo simples: “pôr bem presente na memória dos portugueses as causas e os efeitos dos nossos erros e desgraças, para que no futuro se emendem uns, e se evitem as outras”.
É com o conhecimento do passado, a compreensão do presente e a reflexão prospetiva que se aprende a escolher, a traçar e a trilhar os caminhos do futuro. Só se surpreende quem não consegue antecipar o devir. Aqueles que não conseguem libertar-se dos mitos e das teias do passado, dificilmente poderão despertar a esperança e ajudar a construir um futuro melhor.
Falar de esperança não chega. É urgente concebê-la e transmiti-la através de uma visão fundamentada e coerente, sustentada num propósito onde as pessoas se possam rever.
Essa reflexão torna-se tanto mais urgente quanto é reconhecido existir uma nova geografia económica, cultural e política do Mundo. Os velhos dualismos do desenvolvimento, que faziam destacar, pelo seu contraste, o Norte e o Sul, e, pela sua natureza, o Leste e o Ocidente, tornaram-se pouco representativos das novas tendências das relações internacionais.
A globalização promoveu novas dinâmicas transnacionais, em que a lógica dos blocos tende a ser substituída pela lógica das redes.
As crescentes dificuldades dos Estados em lidar com mercados e tecnologias cada vez mais abertos e globalizados contrastam com as múltiplas oportunidades que pequenas e grandes empresas desvendam um pouco por todo o lado.
A afirmação das Nações tende, cada vez mais, a ser secundarizada face à relevância dos laços culturais e civilizacionais e à desnacionalização das grandes redes sociais e de negócios.
É um outro Mundo que está a ser redesenhado.
É neste contexto que importa refletir sobre o papel de Portugal nesse Mundo tão mudado e sobre o seu posicionamento estratégico nessa nova geografia.
Será que a falta de dimensão territorial e económica poderá ser compensada com relevância estratégica?
Como podemos potenciar o nosso capital de conhecimento e de experiência no relacionamento com a diversidade das culturas e civilizações mundiais?
E o português? A quinta língua mais falada do Mundo: como se poderá transformar esse facto numa vantagem competitiva?
A Diáspora? Representada por centenas de comunidades de Portugueses espalhadas pelo Mundo: que valor acrescentado poderá representar para o nosso reposicionamento estratégico?
E o Mar? Incontornável na nossa História, não deverá constituir-se como uma rota do futuro?
Eis algumas das muitas questões que poderemos formular como ponto de partida para esta reflexão.
Tenho a certeza de que obteremos respostas estimulantes e promissoras no decurso desta Conferência.
A elevada competência e o vasto leque de conhecimento dos nossos convidados dão-nos essa garantia.
Permitam-me que aproveite o momento para a todos agradecer a disponibilidade e a generosidade com que aceitaram o meu convite.
Não esqueceremos o inestimável contributo que representa a vossa presença e as vossas reflexões.
Aos que vão presidir a cada um dos painéis, aos conferencistas convidados, aos representantes do Corpo Diplomático e das instituições portuguesas aqui presentes, o meu muito obrigado.
Uma palavra especial para os jovens cientistas presentes na audiência em representação de todos os centros universitários que se dedicam à investigação e à produção de conhecimento no domínio das relações internacionais.
Esperamos muito do vosso trabalho e da vossa capacidade de criarem um novo olhar e um novo entendimento sobre o papel de Portugal no Mundo. Que esta Conferência possa constituir, também para vós, um incentivo e um voto de confiança para aprofundarem algumas das problemáticas que serão hoje abordadas.
Antes de terminar, desejo agradecer à Fundação Champalimaud, na pessoa da Senhora Dr.ª Leonor Beleza, o apoio que nos concedeu ao disponibilizar estas magníficas instalações para a realização desta iniciativa.
Desejo a todos uma participação estimulante e faço votos de que os trabalhos desta Conferência lancem boas pistas de reflexão sobre o nosso futuro coletivo.
Muito obrigado.
© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016
Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.
Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.