É com o maior gosto que presido à inauguração de duas modernas unidades de produção de material aeronáutico da Embraer, aqui bem no centro desta bela região alentejana.
A importância desta presença em Portugal da Embraer, uma das maiores empresas aeroespaciais do mundo, merece ser reconhecida e sublinhada. Não sendo este o seu primeiro investimento no nosso País, será certamente aquele que exigiu maior ambição e visão de futuro.
Trata-se, afinal, da decisão de situar em território português o maior investimento internacional da empresa. Uma decisão firme e uma aposta confiante, que reflete bem o espírito das relações fraternas entre Portugal e o Brasil e que vem contribuir para elevar a produtividade e a competitividade da economia através da tecnologia, da qualificação e da inovação. Este é o caminho certo para a recuperação económica de Portugal.
Com o arranque das operações da Embraer, Portugal passa a integrar o exclusivo grupo de países produtores de estruturas aeronáuticas primárias. A cidade de Évora e esta região encontram-se, desde hoje, no mapa mundial da indústria aeroespacial.
Estas unidades, equipadas com a tecnologia de transformação industrial mais avançada, irão desempenhar um papel estratégico nas opções de crescimento futuro da Embraer. E é com enorme satisfação que constato que para tal contribuirão, maioritariamente, trabalhadores portugueses.
Trata-se de um investimento que criará até 2015 cerca de 600 postos de trabalho qualificados diretos e que poderá criar mais de 1.400 empregos indiretos.
E trata-se, muito especialmente, de um investimento que vem exercer importantes efeitos indiretos sobre o tecido industrial nacional, já que estas unidades constituem uma âncora em torno da qual se poderá estruturar o desenvolvimento do ainda jovem setor aeroespacial português. Estamos a falar, por conseguinte, de uma oportunidade ímpar de afirmação numa área de elevadas competências e forte criação de valor.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Este é um momento especial, desde logo, para Évora. Nasce hoje aqui, numa região cujo desenvolvimento económico tem sido tradicionalmente assente na agricultura, no turismo e nos serviços, um polo de qualificação e inovação tecnológica de enorme relevância para a indústria portuguesa.
Numa região afetada pelo progressivo despovoamento, o acerto de uma estratégia de desenvolvimento empresarial e de atração de investimento inteligente e reprodutivo pode não só vencer o fatalismo, como abrir novos horizontes.
Exemplos como os da Embraer e outros que vamos encontrando por todo o país demonstram bem como é importante abrir um caminho com opções estratégicas claras e transparentes, que substituam as dúvidas pela ponderação cuidada, os receios sem sentido pela coragem realista.
A minha presença nesta cerimónia tem também como propósito transmitir e ilustrar a visão confiante que tenho sobre o potencial da economia portuguesa. E é justamente nesse quadro que quero chamar a atenção para a relevância crucial do investimento estrangeiro de qualidade para a resolução efetiva dos desequilíbrios que têm afetado o nosso país.
Não se trata de uma mensagem utópica, mas sim de uma profunda convicção de que Portugal tem capacidades para ser bem sucedido e de que cabe também ao Presidente da República contribuir para a criação de um clima favorável e construtivo e para a melhoria da imagem do País no exterior, requisitos indispensáveis, qualquer deles, para vencermos os desafios do presente.
Relativamente ao investimento direto estrangeiro, são conhecidos os efeitos positivos que, de forma mais ou menos próxima, lhe estão associados. Em termos genéricos, o investimento produtivo externo tende a facilitar a difusão do conhecimento tecnológico, um impacto positivo que se pode estender a toda a economia; cria condições favoráveis à rentabilização de outros investimentos e ao lançamento de novos produtos; facilita a conquista de novos mercados e constitui, de resto, uma forma de financiamento da economia, quer por via direta, quer por via das exportações líquidas que possa gerar.
Acresce, ainda, que muito do investimento estrangeiro de qualidade está associado à utilização de emprego qualificado, constituindo, por isso, não apenas um fator de criação de emprego mas também um estímulo aos nossos jovens, famílias e instituições de ensino no sentido de reforçarem o seu empenho na aquisição e transmissão das necessárias competências.
Nos últimos anos, Portugal tem apresentado resultados favoráveis no domínio do investimento estrangeiro e, mais recentemente, o mesmo se tem verificado a nível das exportações e dos saldos externos. Apesar de tudo, estes resultados são ainda insuficientes e, de algum modo, precários.
A trajetória positiva das exportações revela a determinação dos nossos empresários na busca de novos mercados externos, mas reflete também uma compreensão mais enraizada sobre a importância de desenvolver produtos competitivos internacionalmente, quer para a viabilidade das empresas quer para a sustentabilidade do crescimento económico.
A verdade é que só uma clara reorientação da nossa atividade para o exterior e a mobilização de capitais externos permitirão relançar o crescimento e financiar a economia.
Considero, por isso, que a captação de investimento direto estrangeiro de qualidade é um fator essencial de consolidação desta trajetória de abertura e internacionalização da economia portuguesa, além de ser também um dos mecanismos mais sólidos e eficazes de reforço da nossa competitividade e de melhoria das nossas perspetivas de crescimento.
Julgo, pois, que todos os esforços devem ser feitos no sentido de atrair e manter o investimento externo de qualidade.
Aliás, gostaria que todos os portugueses, a começar pelos agentes políticos e sociais, olhassem para o investimento em geral, e, em particular, para o investimento direto estrangeiro, como fatores chave para a resolução dos nossos problemas conjunturais e estruturais. É que os investimentos são, permitam-me que insista, verdadeiramente fundamentais para Portugal e para os Portugueses.
Daí que a existência de um clima de estabilidade e confiança na economia e na sociedade portuguesas e de um ambiente favorável ao investimento e ao emprego nacional seja imprescindível. Sem confiança, as empresas não investem nem contratam. Sem um clima de esperança e de credibilidade, acrescem as dificuldades de financiamento e os juros suportados pelo Estado e pelas empresas domésticas aumentam.
Portugal é hoje um país muito dependente do exterior. Precisamos dos credores internacionais. Precisamos dos mercados internacionais. Precisamos de ser fiáveis. Precisamos de ser competitivos. A nossa credibilidade e a nossa imagem externa são determinantes para o nosso futuro.
Importa manter bem presente o papel decisivo das empresas privadas e da iniciativa dos empresários, sejam eles nacionais ou estrangeiros. É deles que depende, em última análise, mobilizar o investimento, criar empregos e aumentar a produção, explorando novos mercados e produtos, tirando partido do efetivo potencial da economia portuguesa, dos recursos de que dispomos e das próprias transformações económicas globais, que oferecem oportunidades sem paralelo.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
A inauguração deste projeto ambicioso da Embraer é bem ilustrativa das novas dinâmicas que caracterizam a economia global e das oportunidades de mobilização de conhecimento e de recursos dispersos pelo Mundo que a partir delas se perfilam.
Felicito vivamente a Embraer pela sua visão de futuro e saúdo todos os responsáveis pela materialização destas duas unidades fabris.
Num momento que é de especial alegria para Évora, regozijo-me com este sinal de confiança na economia portuguesa e com as possibilidades que traz à nossa indústria e aos nossos trabalhadores.
Em nome de Portugal, desejo os maiores sucessos a este projeto.
Muito obrigado.
© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016
Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.
Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.