Desde a primeira edição, ocorrida em 2007, que tenho tido o gosto de presidir à entrega do Prémio Champalimaud de Visão.
Como Presidente da República, sinto o dever de sempre sublinhar o exemplo que António Champalimaud legou a Portugal.
Dotado de um extraordinário espírito empreendedor, António Champalimaud mostrou possuir, ao longo da sua trajetória empresarial, uma rara capacidade para vencer as adversidades do presente e para antecipar as potencialidades do futuro. Culminou a sua vida deixando a Portugal uma Fundação dedicada ao estudo e à investigação no campo da Saúde.
Graças à liderança da Dra. Leonor Beleza, que saúdo calorosamente, a Fundação Champalimaud impôs-se desde a sua génese como uma instituição de referência de nível mundial. O trabalho que aqui é feito não serve apenas os Portugueses, serve a Humanidade inteira.
A forma como foi concebida e operacionalizada é o reflexo perfeito daquilo que foi o seu fundador. António Champalimaud esteve sempre à frente do seu tempo, sendo muitas vezes incompreendido por isso. Esteve fora do seu País, mas a ele regressou, pois Portugal era a razão de ser do seu inconformismo. Nunca se conformou com a mediania, ambicionou sempre mais e melhor para a sua Pátria, que nunca renegou.
Poderia, sem dúvida, ter optado por outro lugar, onde encontraria, certamente, espaço e oportunidades para concretizar a sua ambição. Mas foi ao seu País, ao País dos seus pais, que quis legar uma Fundação que tem um só propósito: melhorar a qualidade de vida dos seres humanos.
Este é um exemplo admirável, que deveria servir de modelo e fonte de inspiração. Sei bem que, ao contrário do que sucede noutros países, a tradição filantrópica não se encontra plenamente enraizada entre nós. É justamente isso que, por um lado, singulariza a Fundação Champalimaud e, por outro lado, a converte num modelo que deve ser seguido por outros. A riqueza só faz sentido se colocada ao serviço do bem comum. Só assim dignifica os que a possuem.
Num mundo marcado por tantas carências, num país que atravessa tempos tão adversos, os valores do humanismo e da solidariedade têm de ser redescobertos. Cada qual tem um imperativo para com os outros, sobretudo quando pode, de facto, fazer a diferença, num mundo em que convivemos com situações a que, como seres humanos, não podemos ficar indiferentes.
Ao longo destes anos, o trabalho desenvolvido pela Fundação Champalimaud mostra que esta instituição já não é um sonho nem sequer uma promessa. É uma realidade viva, palpável, que já melhorou a vida de milhares de vidas.
Também este ano, o Prémio Champalimaud de Visão vem distinguir dois projetos que melhoram a vida de milhares de vidas.
O júri deste Prémio, a quem saúdo pela excelência do seu trabalho e pelo seu prestígio, que é mundial, decidiu distinguir duas novas formas de abordagem e visualização da retina: a Tomografia de Coerência Ótica e a Ótica Adaptativa.
Foram premiadas técnicas que irão mudar vincadamente a prática oftalmológica e a compreensão do envelhecimento ocular. Estamos, creio, perante significativos avanços tecnológicos ao nível da captação de imagens da retina e consequente aplicação futura à prática clínica. Um progresso que contribuirá para um diagnóstico mais rigoroso e alargado de patologias oculares e para um melhor tratamento clínico dos problemas da visão e de outras doenças.
Uma vez mais, a Fundação Champalimaud mantém-se fiel aos princípios que animaram o seu fundador: o dinamismo, a inovação, o culto da excelência, o humanismo universalista.
É, pois, com orgulho e com renovada satisfação que aqui estou hoje, uma vez mais, nesta cerimónia de atribuição do Prémio Champalimaud. A minha presença assinala a gratidão de Portugal inteiro ao exemplo filantrópico do fundador desta instituição e ao trabalho desenvolvido pela sua Presidente e pela sua equipa.
A todos os que trabalham nesta Fundação, quero deixar uma palavra de profundo apreço.
Aos galardoados com o Prémio Champalimaud 2012, os meus parabéns, na certeza de que este Prémio não valoriza apenas o que já alcançaram, sendo um estímulo decisivo para que aprofundem as vossas investigações. O que fizerem servirá toda a Humanidade. Aí reside o fascínio e a maravilha da Ciência. Milhares de seres humanos irão beneficiar do trabalho de pessoas cujos nomes, porventura, nunca conhecerão. Por isso, é nosso dever distinguir esses nomes, enaltecer o seu trabalho, premiar o seu esforço. Aos que conquistaram este galardão, entre tantas candidaturas de elevadíssimo mérito, expresso a minha admiração profunda e desejo os maiores sucessos nos vossos trabalhos futuros.
Muito obrigado.
© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016
Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.
Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.