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INTERVENÇÕES

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Discurso do Presidente da República por ocasião da Cerimónia de Entrega do Prémio Jovem Empreendedor
Porto, 24 de fevereiro de 2012

É com um enorme prazer que me associo a esta cerimónia de celebração da 12ª edição do Prémio Jovem Empreendedor.

Sendo um dos mais antigos galardões nacionais dedicados ao empreendedorismo, este prémio distinguiu várias gerações de jovens que se têm vindo a afirmar, ao longo dos anos, no plano empresarial português e internacional.

Por isso, é de toda a justiça uma menção de louvor à visão pioneira e ao trabalho das sucessivas direções da ANJE, que muito têm contribuído para a valorização e pleno reconhecimento social do empreendedorismo jovem.

Esta cerimónia ocorre num momento em que Portugal vive um dos períodos mais severos da sua história recente. A correção necessária dos desequilíbrios orçamentais e macroeconómicos é geradora de acentuadas dificuldades de liquidez no mercado e de acesso ao crédito da parte das empresas nacionais, situação que, se não for rapidamente ultrapassada, poderá acentuar as fragilidades do nosso tecido económico e social.

O desafio que hoje se coloca a todos nós é o de sermos capazes de contribuir para uma rápida recuperação da economia portuguesa, sustentada em investimento competitivo gerador de receitas externas e de emprego.

Como tenho vindo a afirmar, o caminho do relançamento da nossa economia está fundamentalmente nas mãos dos empresários e muito particularmente nos jovens empresários.

A nossa economia enfrenta problemas de crescimento e não encontra no mercado interno a procura suficiente para ultrapassar essa situação. E, mesmo fora de uma conjuntura desfavorável, o caminho do crescimento sustentável não pode ser outro que o da adoção de estratégias orientadas para mercados externos.

A aposta em setores de produção de bens e serviços transacionáveis, capazes de competir nos mercados externos, tem, pois, de estar na primeira linha das nossas prioridades.

Por isso, entendi dedicar esta etapa do roteiro para a juventude ao tema do empreendedorismo e às indústrias criativas. Esta escolha não é inédita, pois desde há muito que tenho vindo a apontar este setor como capaz de proporcionar diversificação económica, inovação, crescimento sustentado de exportações e criação de postos de trabalho de elevado valor acrescentado. Trata-se de atividades que favorecem a renovação de áreas urbanas em declínio e a conservação do património cultural e ambiental.

O mercado global das indústrias criativas tem tido, na última década, um dinamismo sem precedentes. Num número significativo de países, a economia criativa tem crescido a um ritmo superior ao da restante economia.

A elevada intensidade de mão-de-obra exigida aponta para que o emprego na economia criativa possa representar um em cada dez trabalhadores. O elevado valor acrescentado decorrente do conhecimento, competências específicas e qualificação da força laboral confere ao emprego na produção criativa características de emprego qualificado e sustentável.

Mas a aposta nas indústrias criativas estende-se para lá da vertente económica e de criação de emprego. Impulsionar as empresas criativas significa também defender o nosso património cultural, a recuperação, preservação e renovação das artes tradicionais, promovendo maior coesão social.

É por isso que tendo procurado destacar, nos vários roteiros dedicados às comunidades locais inovadoras, bons exemplos de projetos que visam a revitalização industrial e, ao mesmo tempo, a coesão social, através da reinvenção criativa de atividades tradicionais.

Em particular, a cidade do Porto e a região do norte do país têm-se distinguido pela dinâmica de uma economia criativa orientada para a produção e comercialização de bens e serviços altamente específicos e diferenciados.

O rico património arquitetónico e cultural, os estabelecimentos de ensino e os equipamentos de qualidade, o capital humano materializado em talentosos criadores, a energia empreendedora, são fatores que alicerçam a competitividade da região Norte e proporcionam-lhe uma justa aspiração de liderança no palco da economia criativa europeia.

Como afirmei, numa intervenção proferida nas comemorações do 25 de abril, não é de hoje a vitalidade cultural e intelectual Portuense, como não é de hoje o talento e dinamismo das suas gentes, a sua tolerância à influência exterior, a sua determinação em abraçar o que é novo e diferente, a sua propensão para assumir riscos inteligentes.

O Porto, como capital de uma grande região, presta-se claramente a exercer um papel de núcleo dinamizador do engenho criativo nacional. A sua matriz urbana, aliando o tradicional com a modernidade, está progressivamente a converter-se numa marca de projeção internacional e cosmopolita, em que convergem e se entrelaçam criadores de grande talento e empreendedores empenhados e com sentido de oportunidade.

As iniciativas específicas que têm vindo a ser dinamizadas, desde as incubadoras de empresas, o polo das indústrias criativas, os fora de criatividade e empreendedorismo, são bons exemplos de coordenação regional e alinhamento de recursos em torno da prioridade política de transformar o Norte do país numa grande região europeia vocacionada para a economia criativa.

Os jovens empresários têm neste setor um campo alargado de ação. Precisamos de audácia na organização eficiente de novas empresas e no ajustamento da respetiva oferta às reais condicionantes e exigências da procura externa.

É necessário obter ganhos de competitividade pelo aumento da produtividade, pela inovação, pelo desenvolvimento tecnológico, por parcerias e complementaridades. A criatividade, a originalidade e a diferenciação, fatores decisivos para o sucesso, dependem em grande medida da ambição, energia e talento dos jovens.

A reduzida dimensão das empresas que constituem o nosso tecido empresarial, sempre apontada como óbice à sua internacionalização, pode ser uma vantagem competitiva, pela flexibilidade operacional que proporciona, pela criatividade e inovação que estimula e pela maior capacidade de adaptação a mercados globais em permanente mutação.

As empresas, como aquelas que tive a feliz oportunidade de visitar durante este roteiro para a juventude, dedicado às indústrias criativas, embora com origens e percursos diferentes, demonstram bem o acerto do caminho apontado. Algumas, alicerçadas em tradição e estruturas produtivas familiares, são hoje lideradas por jovens empresários, que souberam reorganizar-se e subir a novos patamares de modernidade empresarial. Outras, de criação mais recente, apoiam-se na valorização de novos conceitos de convergência entre a produção criativa, as novas tecnologias e a inovação.

Mas em todas estas empresas sente-se o vigor da juventude e o seu espírito transformador e a sustentação da sua atividade em novas ideias, em estímulos de criatividade, na versatilidade da aplicação de tecnologias, na gestão integrada e adaptável, bem como na proximidade aos mercados.

Como traço comum às muitas empresas criativas que tenho visitado, lideradas por jovens empreendedores, constato uma nova cultura de estímulo à qualidade, ao conhecimento, à competência e à qualificação de quadros.

Os jovens empresários que acreditam, mesmo num clima adverso, que é possível transformar uma boa ideia num negócio florescente são a seiva de uma economia próspera e representam um eixo de futuro fundamental para a competitividade e a influência global da economia portuguesa.

Quero por isso felicitar os vencedores do Prémio Jovem Empreendedor. São a nova geração de uma linhagem de notáveis empreendedores que têm vindo a ser distinguidos por esta iniciativa de mérito indiscutível. Para vós, os meus votos de sucesso empresarial, alicerçados na certeza de que darão uma contribuição relevante para a melhoria do bem-estar dos portugueses.

Quero deixar uma última palavra de apreço à justa homenagem que a ANJE entendeu prestar à memória de Diogo Vasconcelos, e à qual me associo, sublinhando a sua contribuição única para a causa do empreendedorismo e da Inovação. Diogo Vasconcelos, de cuja capacidade criativa e visionária beneficiei, é um exemplo que não devemos esquecer.

Obrigado.

© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016

Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.

Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.