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INTERVENÇÕES

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Intervenção do Presidente da República Portuguesa na Sessão Inaugural do Fórum Ibérico de Barcelona
Barcelona, 5 de Março de 2010

Senhor Presidente da Generalitat,
Senhor Presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Navegação de Barcelona,
Senhor Secretário de Estado da Energia do Governo Espanhol,
Senhor Secretário de Estado da Energia e Inovação do Governo Português,
Senhores Empresários,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Foi com muito interesse e expectativa que tomei conhecimento do Convénio que criou o Fórum Ibérico de Barcelona, celebrado entre a Câmara Oficial de Comércio, Indústria e Navegação de Barcelona e o Consulado-Geral de Portugal nesta cidade. Um dos seus objectivos é promover o debate e o relacionamento económico entre Portugal e Espanha, contribuindo, de forma continuada, para uma cooperação mais efectiva entre os agentes económicos e empresariais dos dois países.

Trata-se de um importante iniciativa que quero, vivamente, saudar, certo de que o futuro lhe reserva o maior sucesso.

Nos últimos anos, as quota partes de Portugal e de Espanha nas relações comerciais e na actividade económica de ambos os países aumentaram substancialmente. Portugal é o terceiro mercado das exportações espanholas, enquanto Espanha é o principal destino das exportações portuguesas, absorvendo cerca de 30 por cento das exportações nacionais de mercadorias.

A região da Catalunha, em particular, constitui hoje o principal parceiro comercial de Portugal no âmbito do Estado espanhol, justificando, ainda mais, a criação deste Fórum Ibérico.

Estes dados não significam, em todo o caso, que estejamos perante um aproveitamento pleno do mercado ibérico e uma cooperação económica entre Portugal e Espanha suficientemente desenvolvida e consolidada.

Note-se, em particular, que as estatísticas de comércio internacional entre Portugal e Espanha podem estar a sobrestimar a real interacção económica entre os dois países, uma vez que parte destas estatísticas apenas reflecte o papel dos dois países como plataformas de passagem de bens, rumo a outros mercados.

É minha convicção que existem, ainda, ganhos importantes a obter no domínio da relação entre os agentes económicos dos dois países, nomeadamente a nível da cooperação entre empresas e da própria integração económica.

As questões energéticas e ambientais constituem hoje um desafio de primeira linha, não apenas para Portugal e Espanha, mas também a nível global.

É, por isso, com satisfação que constato a escolha do tema para esta primeira edição do Fórum Ibérico de Barcelona.

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

A adesão de Portugal e de Espanha à União Europeia e à União Económica e Monetária, em particular, trouxe benefícios importantes às economias de ambos os países: um enquadramento macroeconómico genericamente mais estável, maior facilidade de acesso ao mercado de bens e serviços europeu, e menores custos de financiamento dos agentes económicos - que, aliás, estiveram na base da enorme expansão da procura interna registada nos últimos anos em Portugal e Espanha.

Não obstante a actual instabilidade económica e financeira internacional, estas são, claramente, vantagens relevantes numa perspectiva de médio e longo prazo, que importa ver devidamente aproveitadas.

É sabido que a adesão à moeda única implicou também a perda de instrumentos importantes de ajustamento, nomeadamente no domínio da política económica. A resposta a choques internos e externos passou a exigir mecanismos diferentes dos habituais, porventura mais complexos do ponto de vista estrutural e das suas consequências para os agentes económicos.
No caso de Portugal, o ajustamento a esta nova realidade não tem sido fácil.

O desempenho económico de Espanha ao longo da última década revelou-se mais favorável. A situação mais recente sugere, no entanto, que a economia espanhola também enfrenta opções difíceis.

O desafio principal que se coloca, agora, aos dois países, é o de preparar a recuperação económica, adoptando um caminho de crescimento sustentável, que tire partido das lições aprendidas com a actual crise e que potencie devidamente os seus recursos, no âmbito do novo quadro competitivo global.

É certo que na actual situação se exigem respostas rápidas e de curto prazo no sentido de mitigar o impacto da crise sobre os mais desfavorecidos, de preservar o equilíbrio económico e social, e de combater problemas como o desemprego ou a pobreza.

Mas as recessões, muito embora penosas, podem funcionar também como fenómenos potenciadores da capacidade de reinvenção das economias. É essencial, por isso, olhar para além da actual crise. Evitando a repetição dos erros cometidos no passado, mobilizando vontades e preparando, desde já, o aproveitamento cabal das oportunidades que irão surgindo no período pós-recessivo.

Nesta perspectiva, considero que o principal objectivo das empresas portuguesas e espanholas deve ser o de apostar fortemente na inovação, no reforço da competitividade e na conquista de novos mercados. É nestas vertentes que reside o futuro económico dos nossos países.

A concretização deste objectivo é uma responsabilidade particular das empresas, mas exige, também, o empenho de toda a sociedade, incluindo dos agentes políticos.

Creio que, no domínio político, é essencial prosseguir e aprofundar as reformas estruturais necessárias à criação de condições mais favoráveis ao desenvolvimento da iniciativa privada. Trata-se, por exemplo de modernizar o Estado, de investir no conhecimento e na investigação, de requalificar empresas e capital humano, e de mobilizar os agentes económicos.

Mas é, sobretudo, na iniciativa empresarial que reside a esperança de uma resposta positiva aos desafios que as economias de Portugal e de Espanha enfrentam. Neste contexto, e no âmbito deste Fórum, parece-me importante realçar três aspectos: maior integração, cooperação e responsabilidade social.

Como antes referi, existem ainda ganhos muito relevantes a obter da integração mais efectiva do mercado ibérico. Para isso, é necessário pôr de lado quaisquer tendências proteccionistas que ainda afectem as relações entre Portugal e Espanha, e criar condições propícias para um mais amplo e recíproco acesso das empresas portuguesas e espanholas aos mercados dos dois países.

Num ambiente global cada vez mais competitivo, a resposta fácil do proteccionismo não é sustentável, nem desejável para o bem-estar dos nossos cidadãos. Pelo contrário, devemos continuar a pugnar por uma integração económica cada vez maior, não apenas no plano ibérico mas também no plano europeu, marcada por princípios como a transparência, a acessibilidade e a concorrência justa.

É crucial tirar partido das oportunidades que a integração económica oferece. A abertura à inovação e ao Mundo, a capacidade de integrar conhecimento e de o converter em novas oportunidades de negócio, em novos produtos e em novos métodos de trabalho são a chave do sucesso.

É justamente neste quadro que valorizo a atitude de cooperação que este Fórum preconiza e visa consolidar.

De facto, num mundo fortemente concorrencial, mas também de acrescidas complementaridades e interdependências, é imperativo promover uma cultura de cooperação e de partilha entre as empresas: aumentando o nosso capital de conhecimento e desenvolvendo parcerias, redes de contacto, métodos comuns de trabalho e estratégias coordenadas de internacionalização.

O reforço da competitividade passa também pela cooperação entre as empresas, a troca de experiências e a promoção efectiva de interesses comuns.

Gostaria, por último, de aproveitar este Fórum para sublinhar, mais uma vez, a importância que questões como a responsabilidade social e a ética devem assumir na estratégia de desenvolvimento das empresas.

Na origem da actual crise financeira e económica global, pesaram muito a violação de normas éticas e a adopção de comportamentos de risco que não tiveram em devida conta o seu possível impacto negativo sobre o bem-estar das populações.

Foram muitos milhões de pessoas que perderam o seu emprego e as suas poupanças devido à irresponsabilidade e ao egoísmo de alguns. Não se trata apenas de fazer uma crítica moral a estes comportamentos; trata-se de constatar os enormes custos económicos e sociais provocados por essa violação de normas éticas, com prejuízos que irão perdurar por bastante tempo.

A ausência de valores éticos nos mercados, nas políticas e nas práticas empresariais terá sido um dos principais factores responsáveis pela actual crise. A responsabilidade social das empresas, por sua vez, pode ser um poderoso catalisador da recuperação económica: aproveitando devidamente as oportunidades existentes, utilizando e partilhando de forma justa os recursos disponíveis, gerando condições favoráveis à criação e à manutenção de empregos, e credibilizando a imagem das empresas perante os cidadãos.

Estes são elementos essenciais à coesão social e à confiança dos agentes económicos, e sem os quais não será possível uma retoma sustentada.

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

É indiscutível o progresso que se tem verificado em Portugal e em Espanha, seja a nível económico e social, seja em áreas determinantes para o potencial de crescimento futuro, como a criação de conhecimento, a inovação, a modernização das instituições e as energias renováveis.

Apesar de tudo, temos ainda muito a fazer e a conquistar nestes domínios. Há todo um caminho a percorrer.

A coordenação de esforços, a partilha de saber e de ideias, e a troca de experiências são essenciais neste caminho. Estou certo de que foi também esta a convicção que motivou a criação deste Fórum Ibérico de Barcelona, e é com isso em mente que desejo que os objectivos que se propôs alcançar sejam plenamente atingidos.

Muito obrigado.

© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016

Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.

Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.