É com muita satisfação que participo neste 11º Encontro Nacional de Inovação COTEC, onde se debateu o tema do Talento e se apresentou o estudo “Transforma Talento Portugal”, levado a cabo por iniciativa conjunta da COTEC-Portugal e da Fundação Calouste Gulbenkian, a quem saúdo nas pessoas do Professor João Bento e do Dr. Artur Santos Silva.
A criação de riqueza e a prosperidade de uma economia avançada resultam em muito da capacidade de, através do conhecimento e da tecnologia, projetar o futuro e materializar inovações que sirvam a comunidade.
Ao longo dos anos, a COTEC tem identificado os grandes inovadores na economia nacional, dos quais as empresas da Rede PME Inovação são um excelente exemplo, e tem também distinguido as empresas mais inovadoras através dos Prémios PME Inovação e Produto Inovação.
A este propósito, a COTEC voltou a responder de uma forma muito positiva ao meu desafio e logrou expandir esta Rede que foi criada, recordo, em 2005, com 24 empresas, e que é um caso notável de cooperação empresarial que conta já com 252 empresas. Saúdo pois as empresas recém-chegadas, selecionadas a partir da aplicação de critérios rigorosos, pela ambição de aceitarem o desafio e a responsabilidade de fazerem parte de um grupo de excelência.
Aproveito, igualmente, para endereçar os meus parabéns aos vencedores dos Prémios PME Inovação e Produto Inovação que hoje aqui celebramos.
Numa perspetiva analítica do processo de inovação, a COTEC-Portugal e a Fundação Calouste Gulbenkian quiseram ir mais longe, procurando identificar a “matéria-prima” crítica indispensável ao sucesso da inovação.
O estudo “Transforma Talento Portugal”, ao qual me associei e dei o meu patrocínio, centra a atenção no problema de como identificar, desenvolver e concretizar o potencial do talento humano e elabora um diagnóstico aprofundado de como a inovação pode ser sustentada a partir de um processo de gestão de talento.
Este trabalho permite-nos compreender melhor quais os fatores decisivos do processo de produção de talento nacional e como podemos melhorá-lo.
Temos que reconhecer que a globalização das cadeias de produção das empresas, a abertura do comércio e a internacionalização da cooperação científica, são forças poderosas que estimulam, como nunca, a mobilidade dos profissionais, em especial dos mais qualificados. A intensidade destes fenómenos irá crescer muito significativamente com o aprofundamento da integração das economias.
Em Portugal, identificamos uma insuficiente valorização quer do talento e do potencial de desenvolvimento individual, quer do contributo que este potencial pode representar para as organizações.
Os jovens portugueses ambicionam, muito justamente, ter a possibilidade de afirmar, em Portugal ou no estrangeiro, as suas opções individuais e serem responsabilizados e reconhecidos por elas, alcançando, por mérito próprio, lugares de destaque e bem remunerados.
Temos agora uma maior consciência deste fenómeno, das suas consequências e do sentido de urgência na mudança deste estado de coisas.
Devemos, pois, valorizar o potencial do talento produzido em Portugal e criar condições para trazer de volta aqueles que saíram a contragosto do País.
Há um problema ainda mais gravoso e que urge ser corrigido. Os nossos talentos parecem ser mais valorizados no País quando passam pelo crivo de uma avaliação no estrangeiro. Aparentemente, temos mais confiança nos outros para apreciar o talento do que nos nossos próprios critérios.
Esta é uma mentalidade que terá que ser ajustada à nova realidade de um mundo global, onde a competição acesa pelo talento se traduz num prejuízo efetivo para aqueles que não souberem motivar, cativar e reter os seus próprios valores.
Devemos assumir, em todo o caso, uma visão serena e realista desta nova realidade do mundo global, recusando a ideia de que a emigração representa necessariamente uma perda irreversível para o País. Temos, isso sim, de criar condições de atração para todos, para os que desejam ficar e para os que, estando no estrangeiro, aspiram a regressar ou a vir viver em Portugal.
Para isso, insisto, é essencial que a sociedade portuguesa reconheça e valorize aqueles que, pelas suas capacidades, pelas suas qualificações e, acima de tudo, pelo seu dinamismo, se destacam pela afirmação do talento que possuem.
A gestão do talento é um tema transversal à sociedade portuguesa e uma questão determinante para o nosso futuro coletivo.
No plano interno, importa identificar e estimular as potencialidades dos nossos jovens, sejam eles investigadores e cientistas, empresários ou trabalhadores, criadores e artistas, ou voluntários que dão o melhor de si ao serviço dos outros e do bem comum.
As qualificações e os méritos das novas gerações devem ser enquadrados e transformados em valor. Aqui reside o maior ativo estratégico de Portugal.
A divulgação de exemplos de sucesso e a formulação de propostas concretas para promover o talento são elementos mobilizadores de toda a sociedade, demonstrando que o mérito e a excelência se encontram ao alcance de todos, no quadro de um modelo político, social e económico norteado pelos princípios da justiça e da igualdade de oportunidades.
Trata-se de uma aspiração tão ambiciosa quanto imperativa. O talento nasce em qualquer família, independentemente dos seus recursos, pelo que ninguém deve ser prejudicado pelo contexto da sua situação específica. O País e a economia não podem continuar a dar-se ao luxo de desperdiçar potenciais talentos por falta de oportunidades ou de capacidade para os acarinhar e deixar florescer. Estamos perante desafios que devem ser abordados, desde logo, nos primeiros anos da aprendizagem escolar.
O desafio verdadeiramente central é permitir à escola que seja, ela própria, um meio onde se identificam talentos e, sobretudo, onde se cria um ambiente propício a fazer desabrochar e desenvolver as capacidades de cada um.
O estudo realizado pela COTEC-Portugal e pela Fundação Calouste Gulbenkian representa um contributo de grande importância para um levantamento rigoroso do presente e para uma transformação dinâmica e sustentada do futuro, porque estabelece uma hierarquia de prioridades na organização das soluções e nas medidas e porque identifica bem o papel que, nas respetivas esferas de participação, todos são chamados a desempenhar.
Realço duas das propostas apresentadas:
• Dinamizar a identificação de talentos dos jovens em idade escolar, capacitando os professores para um papel educativo chave na escola do futuro, valorizando a profissão docente na sociedade; e
• Criar práticas organizacionais de formação, avaliação e desenvolvimento dos talentos nas organizações.
São propostas que constituem bases particularmente importantes para uma agenda de mudança orientada para o futuro, uma mudança que é urgente e que é, cada vez mais, relevante para a realização pessoal dos Portugueses e para o nosso sucesso coletivo.
Estou convicto da oportunidade e do mérito do “Transforma Talento Portugal”, que hoje aqui foi apresentado e por isso tenho a expectativa de que se converta numa ferramenta mobilizadora de pais, educadores, empresários, gestores, todos aqueles a quem a força do talento toca. Pelo interesse que despertou, creio que esta iniciativa poderá constituir um contributo de grande importância para o desenvolvimento do País.
Manifesto o mais vivo apreço aos promotores desta iniciativa e saúdo calorosamente os intervenientes e todos os participantes neste Encontro.
Muito obrigado.
© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016
Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.
Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.