É com enorme satisfação que hoje me encontro aqui convosco, nesta vila de Castelo de Vide.
Na reabertura do tão bem renovado Cine-Teatro Mouzinho da Silveira, este concerto que o grupo “Os Almocreves” nos ofereceu foi uma comovente forma de assinalar mais um feito para a cultura e para a identidade portuguesas: a inclusão do Cante Alentejano no Património Imaterial da Humanidade onde agora se juntou ao Fado.
O reconhecimento internacional desta forma de expressão tão genuína e singular enche-nos a todos de orgulho e deve servir de estímulo para que as novas gerações saibam ver na riqueza do passado um motivo de esperança num futuro melhor.
A consagração do Cante Alentejano convoca-nos a olhar para o nosso património, o edificado e o imaterial, como um ativo estratégico para o nosso país, algo que nos foi legado, que devemos valorizar e preservar, mas que devemos também saber potenciar como fator de atração turística e de promoção da qualidade de vida das populações.
Nas vozes destes homens, na autenticidade do seu canto, sentimos o pulsar de Portugal e do Alentejo.
É a alma do nosso povo, a força dos Portugueses que ali ouvimos.
A beleza da sua cadência polifónica é de tal modo característica do Alentejo que, onde quer que o ouçamos, nos sentimos transportados para esta extraordinária região do nosso país.
A inclusão do Cante Alentejano no Património Imaterial da Humanidade projeta e valoriza, para além das nossas fronteiras, a imagem do Alentejo, da cultura portuguesa e de Portugal inteiro.
Quero felicitar todos os que se empenharam no sucesso da candidatura. Agradeço, muito especialmente, aos que, com a força da sua voz, se dedicam à salvaguarda desta arte única no mundo.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Castelo de Vide é herdeira de uma história riquíssima, feita da confluência de diferentes tradições culturais e espirituais.
O Rei D. Pedro V terá chamado a esta terra a ‘Sintra do Alentejo’, pela beleza de cada recanto e pela frescura da Serra que a envolve.
A esta beleza surge aliada a hospitalidade das gentes do Alentejo, que saúdo de forma muito fraterna e calorosa.
Visitei há pouco as instalações de uma empresa que recolhe em terras de Castelo de Vide, nas fontes desta Serra, a água que está presente na mesa de tantos Portugueses. Essa água, aliás, é também apreciada em paragens bem mais longínquas. Basta referir que, em 2013, exportaram-se sete milhões de litros recolhidos nas captações da Serra de São Mamede.
Nestas terras do interior profundo do nosso país, onde são sempre mais os que partem do que os que permanecem, o bom aproveitamento dos recursos naturais e do património cultural e paisagístico representam oportunidades que não podemos desperdiçar.
Como tenho vindo a sublinhar em diversas ocasiões, atualmente é aos autarcas que, em larga medida, cabe dinamizar o interior, aproveitando as suas potencialidades económicas e, ao mesmo tempo, valorizando a criatividade e a audácia das populações.
É essencial atrair pessoas, investimento, turistas, eventos, empresas e instituições. Sabemos todos como isso é importante.
Mas, no caso particular de Castelo de Vide, é necessário olhar também para a sua identidade histórica. É isso que tem feito a Câmara Municipal de Castelo de Vide, que saúdo na pessoa do seu Presidente.
Encontramos aqui um dos exemplos mais importantes e bem preservados da presença judaica em Portugal.
Foram cometidos, em diversas fases da nossa História, erros graves contra os judeus, atos de perseguição que muito lamentamos e repudiamos. Ultrapassámos há muito esses erros. Aprendemos a lição da tolerância. Sabemos conviver com a diversidade das nossas origens e com a pluralidade das nossas ideias.
A Rede de Judiarias de Portugal, da qual Castelo de Vide faz parte, e que inclui também a comunidade judaica em Portugal, é um excelente exemplo de como, no mesmo país, pode existir uma relação de amizade e de respeito mútuo entre diferentes tradições religiosas e espirituais.
Portugal é uma pátria de tolerância, um país coeso e plural. Enquanto, pelo mundo, vemos sinais preocupantes de recrudescimento do racismo, da xenofobia, da intolerância religiosa, o nosso país afirma-se como uma terra onde todos podem conviver, no respeito pelas diferenças de cada um.
Senhor Presidente da Câmara,
Agradeço-lhe, uma vez mais, o convite para visitar Castelo de Vide e esta experiência do Alentejo que nos proporcionou.
Faço votos para que esta vila continue a preservar a sua beleza e a riqueza do seu legado multicultural. Estou certo de que, com o contributo de todos, serão abertas novas vias de desenvolvimento e de atração de investimento que irão tornar cada vez mais expressivo o número dos que aqui vivem e dos que aqui chegam.
Muito obrigado.
© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016
Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.
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