Bem-vindo à página ARQUIVO 2006-2016 da Presidência da República Portuguesa

Nota à navegação com tecnologias de apoio

Nesta página encontra 2 elementos auxiliares de navegação: motor de busca (tecla de atalho 1) | Saltar para o conteúdo (tecla de atalho 2)
Visita ao Hospital das Forças Armadas
Visita ao Hospital das Forças Armadas
Lisboa, 19 de janeiro de 2016 ler mais: Visita ao Hospital das Forças Armadas

PRESIDENTE da REPÚBLICA

INTERVENÇÕES

Clique aqui para diminuir o tamanho do texto| Clique aqui para aumentar o tamanho do texto
Discurso do Presidente da República por ocasião da visita ao Município do Porto
Porto, 20 de janeiro de 2012

As cidades são um complexo de múltiplas realidades. São os espaços que acolhem o dia-a-dia das gentes que as habitam e que preservam as memórias de um povo. São os lugares da produção e das trocas. Centros de conhecimentos e de inovação. Pontos de encontro onde se tece a vida que nos une e se constrói o amanhã.

As cidades ambiciosas têm tudo a ganhar se apostarem, mais do que numa política de cidades, numa verdadeira política da cidade.

Nos nossos dias, exige-se que a própria urbe não espere pelo Estado. Muito pelo contrário, será ela a tomar a iniciativa de se organizar de modo a extrair das suas forças vivas o melhor que elas podem dar.

Ora, o Porto é, como disse Júlio Dinis, a “cidade cujo principal título de glória é o ter, em épocas em que a nobreza era tudo, previsto que podia e devia prescindir dela para se engrandecer”. Esta cidade do Porto previu, antecipou, iniciou o que outros continuariam.

Uma verdadeira política da cidade nasce dessa congregação de esforços dos cidadãos, dos agentes económicos, sociais e culturais, de todas as instituições, privadas e públicas. Essa concertação só é possível quando há um forte sentimento de pertença por parte dos munícipes e a afirmação de uma identidade própria, mas raramente se materializa sem uma vontade diretora que funda e promova os entendimentos.

Uma política da cidade supõe ainda uma outra dimensão: a dimensão internacional. No nosso caso, impõe-se, desde logo, que ela tenha uma dimensão europeia.

O crescimento sustentável e equilibrado passa pela partilha de estratégias de desenvolvimento com cidades europeias similares. Importa contribuir para a afirmação da dimensão urbana das políticas europeias. Só a união entre cidades com interesses partilhados deste continente servirá esse objetivo estratégico.

O Porto, cidade ribeirinha e urbe atlântica, quer estar no centro desta nova rede dinâmica e progressiva, feita de cidades.

Este é, não o esqueçamos, o Porto da causa da liberdade. Foram portuenses os que fizeram a revolução de 1820.

Manuel Fernandes Tomás, campeão da liberdade, como o designou Almeida Garrett, seria determinante na edificação desse marco da liberdade que foi a Constituição de 1822. Proclamou, então, que “El-Rei reinará se jurar a Constituição. Senão, não!”

“Senão, não!” – Eis, perfeitamente expressa, a vontade do Porto. O sentimento forte daquela que foi designada por Miguel Torga como “velha e livre cidade”.

Velha e livre, porque marcada pelo respeito das tradições e pelo espírito da liberdade. Mas também cidade livre e nova porque evidencia a todo o momento a vontade granítica de seguir um caminho próprio e a capacidade visionária de definir as avenidas do futuro.

Localizado na confluência das rotas internacionais, desde sempre o Porto viveu, simultaneamente, atraído pelos destinos globais e atraindo os estrangeiros – os comerciantes, os investidores e, cada vez mais, os turistas. Cidade do comércio ancestral e das indústrias criativas, confluem neste Porto os empreendedores e os criadores.

O seu caráter expressa-se nas festas populares e nas tradições arreigadas, tal como se manifesta na Casa da Música e em Serralves. Esta cidade portuguesa que acena ao rio e ao mar largo é um Porto europeu e cosmopolita, povoado de gente inovadora e arrojada.

O seu nome é soletrado em todo o mundo, devido, desde logo, ao seu famoso vinho, mas igualmente, e cada vez mais, por virtude do desporto, da cultura e das artes. E das ciências e da tecnologia.

Aproveitando esta ocasião tão especial, prestamos pública homenagem a três portuenses: o Arquiteto Souto de Moura, a Professora Maria de Sousa e o Engenheiro Francisco Almeida e Sousa. São, todos eles, intérpretes destacados de saberes superiormente cultivados nesta cidade: a arquitetura, as ciências biomédicas e a engenharia. E são, sobretudo, cidadãos exemplares, profundamente dedicados à sua cidade.

Senhor Presidente da Câmara Municipal,

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Aqueles que têm a responsabilidade de decidir em nome da comunidade serão, em primeiro lugar, julgados pelas prioridades que escolhem para orientar a sua ação.

O Porto que continua a proclamar “Senão, não!” quando lhe querem impor caminhos que não são os seus, o Porto que sabe confiar em si mesmo, foi-se nestes anos, sob a vontade diretora do Senhor Presidente da Câmara, Dr. Rui Rio, edificando e consolidando perante os nossos olhos.

Processos desta dimensão são demorados, mas exigem, no imediato, capacidade de decisão; são coletivos, mas exigem que alguém dê o primeiro passo e aponte o caminho.

O Porto tem a felicidade de encontrar no seu seio as pessoas e as forças coletivas que rompem com a inércia, que furam o muro da resignação, que avançam quando os cautos aconselham a ficar onde se está. O Porto tem as pessoas e as forças coletivas que, ao invés de se queixar, preferem agir.

Pessoas e forças coletivas que não esquecem que, nos nossos dias, quem para não fica onde está; pelo contrário, queda-se cada vez mais para trás.

A cidade que conquistou as suas liberdades palmo a palmo continua a saber dizer: “Senão, não!” E a fazer o que tem de ser feito.

Fazer a gestão dos recursos disponíveis com eficácia e eficiência. Dar prioridade ao equilíbrio financeiro. Reduzir o passivo das contas das instituições públicas. Assim se preparou e antecipou o que hoje a todos é exigido.

Melhorar os serviços públicos, torná-los mais eficientes, em suma, fazer mais com menos. Criar uma nova relação com os cidadãos, aperfeiçoando o atendimento, simplificando os procedimentos para, dessa forma, corresponder ao que são as expectativas e as necessidades das pessoas.

O Gabinete do Munícipe da Câmara Municipal do Porto, que centralizou o atendimento ao público num único espaço, e que neste dia pude visitar, é um bom exemplo do que se pode fazer a esse nível.

A cidade também se renova através da reabilitação urbana. O crescimento no espaço não pode mais ser considerado como a principal fonte de dinamização das cidades. Esta dependerá, cada vez em maior grau, da reabilitação do edificado e das áreas degradadas, frequentemente localizadas no seu centro.

O Porto revive na recuperação dos espaços e dos edifícios promovida, por exemplo, pela Porto Vivo. Destaca-se, neste particular, o desafio da reabilitação da habitação social, interpretado com vigor e com determinação, como pude verificar na visita que fiz ao Bairro Social da Fonte da Moura.

Também se prepara e antecipa o futuro investindo, com sentido das prioridades, nos fatores que criarão as condições para a mudança de que tanto necessitamos.

Nessa perspetiva, a educação é um investimento; é, mesmo, o investimento reprodutivo por excelência. No entanto, os seus dividendos demoram a produzir-se. Por isso, o investimento que as autoridades autárquicas fazem no ensino, sem esperar vantagens imediatas, merece ser sublinhado.

Tendo visitado o Centro Escolar das Antas, devidamente renovado, posso atestar que a requalificação do edificado escolar no Porto deixará marca.

Ao nível do ensino superior, o Porto situa-se na vanguarda da ligação da investigação ao tecido produtivo. Nunca é de mais afirmar que a presença de um elevado número de instituições de ensino superior apostadas na aproximação às necessidades do setor produtivo constitui um fator de dinamização económica, não apenas do Porto e da região norte, mas de todo o País.

Coexistem, nesta cidade, um dos maiores polos universitários do nosso País, as sedes de grandes grupos económicos e equipamentos de excelência.

No dia de hoje, permito-me destacar o potencial de crescimento de todas as atividades ligadas às ciências da vida. O Porto dispõe de um importante polo de conhecimento científico e tecnológico na área da saúde, que ficou a partir de hoje muito reforçado com os novos edifícios da Faculdade de Medicina, da Faculdade de Farmácia e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar.

Nesta, como em muitas outras áreas de atividade, o Porto dá um bom exemplo. Continuando a rejeitar com um “Senão, não!” todas as tentativas de o desviar do seu rumo, a verdade é que este Porto sabe dizer sim. Sabe dizer sim ao futuro. E sabe dizer sim ao Portugal que ambicionamos construir.

Felicito-o, Senhor Presidente da Câmara, pelo seu inestimável contributo.

Muito obrigado.

© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016

Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.

Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.