Cidade fortaleza e bastião da Fronteira, a Guarda desempenhou, nos alvores da nacionalidade, um papel fundamental para a consolidação do Reino. Ao conceder-lhe Carta de Foral em 1199, D. Sancho I atribuía à Guarda objetivos defensivos, tendo igualmente em vista alargar fronteiras e rasgar os horizontes, numa atitude visionária das potencialidades desta terra e do caráter das suas gentes.
Ao longo dos séculos, o papel que a história destinou à Guarda, de onde se avista não só Espanha mas também a importante malha de castelos erguidos em toda a região, foi garantir a integridade do território nacional. No dizer de Eduardo Lourenço (1), “esta cidade e a velha Beira, que dominava altaneira, foram, não apenas fronteira, mas coração de Portugal”. A cidade simbolizou, acima de tudo, a vontade indomável dos portugueses de permanecerem um povo independente.
Os tempos, no entanto, mudaram. A Guarda assume-se hoje como a ponte estendida às regiões que com ela confinam e que enfrentam dificuldades e desafios semelhantes, cruzamento estratégico dos caminhos entre o litoral e este interior que se perceciona como um verdadeiro cais de partida para um horizonte de terra firme que é toda a Europa.
Terra hospitaleira e de gente franca, a Guarda Forte, Farta, Fria, Fiel e Formosa é principalmente uma Guarda do Futuro, que aposta fortemente na economia, no conhecimento, na cultura e no turismo, enfrentando as incertezas com coragem, determinação, ousadia e confiança.
No Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, celebramos a História evocando o legado do passado e lançando bases sólidas para a construção do futuro. A Guarda, pela expressão da nacionalidade e da identidade nacional, pelo património, pela visão altaneira do país e pela ligação privilegiada à Europa é o lugar certo para a reflexão e interpretação do nosso destino coletivo.
José Albino da Silva Peneda
Presidente da Comissão Organizadora das Comemorações do
Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas
(1) Lourenço, Eduardo. 1999. “Oito séculos de altiva solidão”. Pp. 53-58 in O outro lado da lua — A Ibéria segundo Eduardo Lourenço editado por M.M. Baptista. 2005. Guarda: Campo das Letras/Centro de Estudos Ibéricos.