Cidade branca, vens de tempos hispano-romanos, mas adquiriste nome e foral já com Portugal, nos séculos XII e XIII. Sempre foste proa avançada do país, virada para o resto do continente, mas também foste porta firme na nossa defesa. Sempre tiveste excepcional importância política e estratégica. Passaste pelas mãos da Ordem dos Templários, que te governaram e aí construíram belo castelo. Pertenceste mais tarde à Ordem de Cristo. Os nossos reis D. Dinis, D. João II e D. Manuel visitaram-te, protegeram-te, honraram-te, ajudaram ao teu progresso e renovaram-te os forais e a importância, tal como fez mais tarde o rei D. José. Já no século XVIII, foste feita cidade e diocese. Foste capital da Beira Baixa, quando as províncias importavam.
Cidade mestiça, ficas em território de transição. Quase a meio de Portugal, de Norte a Sul. Entre Portugal e a Espanha. Entre as montanhas e a planura. Entre as Beiras e o Alentejo. Entre o campo e a charneca. Entre o granito e o xisto. De todos tens um pouco e de todos fazes o teu carácter. Dedicaste-te à minúcia, ao trabalho perfeito. Entre a doçura do artesanato e a dureza do labor, inventaste os bordados e as colchas de noivado, de linho e seda vindos das tuas terras e das mãos das tuas mulheres. Do brio na obra bem feita, fizeste as tuas armas de nobreza.
Dentro das tuas portas, nasceram homens bons. Um sobretudo, Amato Lusitano ou João Rodrigues de Castelo Branco, judeu, cientista e humanista de renome, perseguido pelos intolerantes, mas reconhecido pelos europeus, cosmopolita, médico do Papa, exerceu em Espanha, na Itália e na Grécia. Hoje, reconheces-lhe o valor e o mérito. Conseguiste reparar a injustiça. E também soubeste, branca cidade, juntar-te aos que defenderam a liberdade e a independência. Foste saqueada e assaltada, nos séculos XVII e XIX, mas resististe e recuperaste a tua dignidade. Por ti e por Portugal.
António Barreto
Presidente da Comissão Organizadora das Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas