Os objectivos desta exposição são claros: aproximar o público residente em Portugal da produção realizada lá fora por artistas portugueses e luso-descendentes.
Em complemento, esta exposição deseja atrair mais públicos para a arte contemporânea; e deseja estimular os que estudam as questões da emigração a esclarecer o papel dos artistas que trabalham, progridem e vencem, no estrangeiro; os desafios que se lhes colocam.
A exposição reúne obras de alguns dos muitos emigrantes e luso-descendentes que internacionalmente se dedicam à criação artística. Seria impossível reunir todos e mostrar todos. Por razões de tempo de pesquisa e de espaço de apresentação; por razões de clareza de entendimento das obras mostradas e de coerência e qualidade da própria exposição.
Fixámos os nossos limites nos artistas que se mantêm radicados no estrangeiro, alguns saídos de Portugal nos anos 50; e nos descendentes de emigrantes, muitas vezes económicos e sociais, para quem os novos contextos deram a oportunidade de se dedicarem à criação.
Escolhemos quatro artistas para ilustrar momentos muito diversos do prolongado ciclo da emigração portuguesa contemporânea: Rafael Bordalo Pinheiro, ainda no século XIX, Amadeo de Souza-Cardoso, Maria Helena Vieira da Silva e António Dacosta, ao longo da primeira em metade do século XX.
E considerámos nos restantes artistas a sua capacidade de entendimento, coincidência e ultrapassagem das diferentes linguagens contemporâneas internacionais.
No final, perguntamo-nos se será possível fazer alguma tentativa de interpretação que dê coesão ao vasto grupo reunido. Há uma sensibilidade comum subjacente, uma identidade que ultrapasse fronteiras e espaços, tempos e modas? Poderemos, sem escândalo, perguntar o que se mantém, nestes artistas e suas obras, de Portugal ou de português?
O que significa tão intenso gosto pela auto-representação? Porque é tão generalizado o uso da sombra e silhueta, do esvaziamento, sobreposição e transparência das imagens? Como se detectam, ao mesmo tempo, excessos barrocos no preenchimento de espaços?
O tratamento da viagem e da paisagem, a evocação intensa dos objectos individuais ou dos elementos alimentares diferem do que fazem outros artistas internacionais que trabalham os mesmos temas?
A ligação entre arte e pensamento tem uma dimensão diversa (poética? literária?) da que coloca a arte internacional? E como lidar ou ligar os sucessivos momentos de ironia e desconstrução, crítica ácida e desencanto?
A fragmentação de autorias reproduz a banal fragmentação do mundo contemporâneo ou resulta de uma especial experiência da heteronomia, de uma pessoana pulverização do Eu?
Haverá, finalmente, uma melancolia especificamente portuguesa?
Quem visitar atentamente esta exposição estará certamente mais apto a dar resposta a tantas questões ou a formular outras tantas.
João Pinharanda
Comissário