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Imposição das insígnias de Membro Honorário da Ordem do Infante D. Henrique no estandarte do Instituto dos Pupilos do Exército
Imposição das insígnias de Membro Honorário da Ordem do Infante D. Henrique no estandarte do Instituto dos Pupilos do Exército
Lisboa, 25 de março de 2011 ler mais: Imposição das insígnias de Membro Honorário da Ordem do Infante D. Henrique no estandarte do Instituto dos Pupilos do Exército

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Discurso do Presidente da República nas Comemorações dos 200 anos da Batalha do Buçaco
Buçaco, 27 de Setembro de 2010

Senhor Ministro da Defesa Nacional,
Senhor Chefe do Estado-Maior do Exército,
Senhor Presidente da Câmara da Mealhada,
Sua Alteza Real o Duque de Kent,
Minhas Senhoras e meus Senhores,

Naquela manhã de 27 de Setembro de 1810, por esta hora, ainda se combatia. A sorte da batalha, porém, estava já decidida.

Os ciprestes que ainda hoje se erguem na Mata do Buçaco são os mesmos que contemplaram os combates desse dia. E que testemunharam a guerra em toda a sua dimensão: a angústia do sofrimento humano lado a lado com o esplendor da coragem e do patriotismo. A raiva dos vencidos e o júbilo dos vitoriosos.

O nosso exército, desmembrado em consequência da primeira invasão francesa, tinha sido reconstituído a partir de 1808, com o forte apoio da Inglaterra, a nossa aliada histórica. Muitos dos oficiais que enquadravam as nossas tropas eram britânicos. Muitos outros eram portugueses. Esta era a sua primeira grande batalha, sob a liderança do General Wellesley, futuro Duque de Wellington.

O imperador francês, quando contabilizava as forças em presença, ignorava os nossos homens, não considerando que pudessem ter qualquer papel a desempenhar. Por isso, tomava como certa uma vitória fácil do Marechal Massena, comandante das forças invasoras. Enganou-se. Enganou-se redondamente.

Se dúvidas havia do nosso lado, e é natural que as houvesse, com tropas pouco preparadas e oficiais inexperientes, naquelas horas nasceram certezas sobre o valor do nosso exército. Os portugueses distinguiram-se sobretudo no combate corpo a corpo, à baioneta, olhando nos olhos o inimigo, aí onde a coragem individual é submetida à maior das provas.

Wellington afirmou, então, e passe alguma nota de paternalismo, que “as tropas desta nação hão mostrado que o trabalho e desvelos que com elas se tiveram não foram baldados, e que se tornam dignas de combaterem nas mesmas fileiras das tropas britânicas pela tão interessante causa, à qual elas oferecem as melhores esperanças de salvação.”

Este foi um daqueles momentos na história em que estava tudo em jogo, num único lance. Uma batalha verdadeiramente decisiva.
O Marechal Massena deixara-o claro na véspera, no dia 26 de Setembro, quando anunciou, peremptório:

“Amanhã vou capturar Portugal!”

Sucede que os portugueses não queriam ser capturados. A nossa sorte dependia daqueles soldados. E eles sabiam-no.

Superaram-se. E o melhor exército do mundo, aquele que parecia imbatível, aquele que toda a Europa temia, foi vencido. Saiu vencido porque não lhe foi permitida a vitória final.

Os actos comemorativos são evocações solenes do passado. Tornam presentes, no espírito dos portugueses de hoje, acções sublimes que nos comovem e nos inspiram.

Respeitamos a coragem de todos os que combateram e inclinamo-nos em memória dos que caíram nessa manhã longínqua. Encontramo-nos aqui em cumprimento de um compromisso solene: o de manter viva a memória do seu exemplo de dedicação à Pátria.

Em ocasiões como esta, sentimos a necessidade de compreender como é possível preparar homens para o combate decisivo. O que terá sido dito pelos oficiais portugueses para empolgar os seus soldados?

A nossa causa era tão evidente e a missão dos nossos soldados era tão bem compreendida por estes que, como disse o Marechal Beresford, mesmo “às tropas que não entraram em acção directa eu lhes observei o mais ardente desejo de se medirem com o inimigo.”

Para homens dessa fibra, não teriam sido necessárias, possivelmente, grandes palavras de incentivo. Mas podemos imaginar um oficial português que, instantes antes da refrega, olha os soldados que o vão seguir na batalha. No local em que nos encontramos, quase poderíamos ouvir a sua voz, trémula de emoção, mas determinada, quebrando o silêncio com estas palavras:

Soldados de Portugal.

O exército que invadiu a nossa terra está a subir as encostas desta serra. Dentro de minutos vamos combatê-lo sem quartel. E vamos vencer.

Temos de vencer, porque nós não combatemos para conquistar, mas para não sermos conquistados.

Nós não combatemos para invadir, mas para obrigar o invasor a retroceder.

Nós não combatemos para mudar os outros, mas para que não nos mudem a nós pela força.

Lutaremos como os nossos antepassados lutaram.

Lutaremos como lutarão os portugueses do futuro.

Porque nós combatemos para defender a nossa Pátria.

Combatemos para defender a nossa terra.

Combatemos para defender os nossos filhos e as nossas famílias.

Defendemos a nossa vida, a nossa maneira de viver, produto deste encontro feliz entre a terra, o sol e o mar, que deu ao mundo uma história gloriosa e uma língua universal.

Defendemos a nossa sobrevivência como Nação soberana, para que possamos continuar a ser quem somos e a ter o direito de agir de acordo com a nossa vontade.

Defendemos, em suma, a nossa liberdade.

Por isso, vamos vencer.

É assim que imagino o sentido das palavras de exortação que poderiam ter sido proferidas naquela manhã de Setembro de 1810 e que ainda hoje nos deveriam inspirar a todos, na nossa vida colectiva enquanto povo.

No passado os Portugueses souberam, sempre, vencer a adversidade e decidir, em liberdade, o seu próprio futuro como Nação soberana e independente. Quando necessário, com o apoio dos nossos aliados. Mas contando, principalmente, com as suas próprias virtudes e capacidades.

Também hoje, para vencer os grandes desafios que enfrentamos, dependemos sobretudo da nossa determinação e do nosso esforço colectivo. Temos o dever, perante os nossos antepassados e perante nós próprios, de nos unirmos em torno de soluções corajosas, justas e responsáveis que permitam assegurar um futuro de desenvolvimento, segurança e bem-estar para Portugal.

© 2007-2016 Presidência da República Portuguesa

Acedeu ao sítio de arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.

Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.