“Chile como modelo”, artigo de opinião de Alain Touraine (PDF em espanhol)
El País, 29/04/2006
“Parachever le rêve latino-américain”, artigo de opinião de Michelle Bachelet (PDF em francês)
Courrier International, 1/12/2006
ABC, 11/05/2006
Mais DocumentosSenhora Presidente, Excelência
Excelentíssimas Autoridades
Senhoras e Senhores
Agradeço, muito sensibilizado, as palavras que Vossa Excelência, Senhora Presidente, acaba de proferir e o caloroso acolhimento que me tem sido dispensado, bem como a minha mulher e a toda a delegação que nos acompanha nesta visita ao Chile.
Foi com grande prazer que aceitei o honroso convite que Vossa Excelência me dirigiu para visitar o Chile, um País que é hoje um modelo para muitos outros, pela forma como tem sabido enfrentar os desafios da consolidação democrática e do desenvolvimento económico e social.
Um País a que Portugal se encontra ligado por laços seculares.
Recordar a História desse relacionamento é obviamente falar de Fernão de Magalhães, cujo nome assinala hoje esse pedaço de terra chilena onde o Atlântico e o Pacífico se encontram.
Mas é também recordar que foi Portugal o primeiro país a reconhecer, em 1821, o então jovem Estado chileno. Ou, mais recentemente, que foi em Portugal que serviu como diplomata e foi Portugal que tanto amou a primeira cidadã chilena a quem foi atribuído o Prémio Nobel da Literatura, Gabriela Mistral.
Mas o passado de pouco valerá se, com base nele, não soubermos construir uma relação de futuro.
O apego aos valores da democracia e do respeito pelos direitos humanos, a crença nas virtualidades de uma economia de mercado que não esqueça a necessária coesão e solidariedade sociais, a defesa do multilateralismo e da integração regional como factores de desenvolvimento, todos eles são factores que nos aproximam.
As últimas décadas do relacionamento entre o Chile e Portugal têm sido marcadas por um intercâmbio de contactos e de visitas de alto nível, de que tem resultado uma ampla variedade de acordos bilaterais.
Impõe-se, contudo, desenvolver esforços adicionais para aproveitar melhor o imenso potencial que as afinidades e a boa relação política entre os nossos países encerram.
Com uma economia pujante e saudável, um significativo grau de desenvolvimento social, uma política de abertura ao investimento estrangeiro, um leque diversificado de relações políticas e económicas com outras nações, além da sua invejável posição geográfica, o Chile destaca-se como um destino atraente e uma excelente plataforma de penetração nos mercados da América Latina, da Ásia e do Pacifico.
Por seu lado, Portugal é hoje uma nação moderna e estável, uma economia aberta, dotada de excelentes infraestruturas, um Estado-membro da União Europeia, em suma, um país que abre portas à iniciativa dos empresários chilenos, que podem, através dele, encontrar novas vias de acesso ao gigantesco mercado europeu e a outros que, fruto da sua História, Portugal conhece bem.
É, pois, tempo de nos empenharmos seriamente no incremento dos fluxos comerciais e de investimento entre os nossos dois países.
É tempo, ainda, de enriquecer este nosso relacionamento com uma cooperação reforçada em áreas como a das novas tecnologias de informação, das energias renováveis, da construção de infraestruturas ou do turismo, domínios de enorme potencial que apenas aguardam pela capacidade empresarial de portugueses e chilenos para se desenvolverem.
A delegação empresarial que me acompanha nesta visita oficial ao Chile vem determinada a estabelecer e aprofundar parcerias e a explorar novas oportunidades de negócio.
Excelência,
O diálogo e a cooperação entre espaços regionais constituem prioridades de política externa comuns aos nossos países. Portugal exerce, durante o segundo semestre de 2007, a Presidência do Conselho da União Europeia e, na linha do que tem sido sempre a sua posição, tudo fará para sublinhar a importância das relações entre a União Europeia e a América Latina, porque acreditamos sinceramente que é isso que responde ao melhor interesse de europeus e latino-americanos.
O relacionamento entre a UE e o Chile assenta num Acordo extremamente abrangente, que visa promover não apenas as relações económicas, mas também o diálogo político. Um diálogo com exemplos concretos, que atestam a singularidade dos laços que nos unem, como a participação do Chile na Operação ALTHEA, que a UE leva a cabo na Bósnia-Herzegovina, e que quero aqui, publicamente, agradecer.
Senhora Presidente,
Vossa Excelência acolherá, nos próximos dias, mais uma Cimeira Ibero-Americana. Também aqui estamos perante uma iniciativa que tem por objectivo a aproximação entre regiões, neste caso, unidas por afinidades muito particulares.
Nesta ocasião, quero sublinhar a importância do tema que Vossa Excelência, Senhora Presidente, escolheu para o nosso debate deste ano: a inclusão social.
Lutar pela inclusão será sempre um imperativo ético. Mas, para lá disso, que já seria muito, é um acto de inteligência. Se não for inclusivo, se não for partilhado, o progresso económico e social arrisca-se a conduzir a tensões que, a prazo, o poderão comprometer. Esta evidência aplica-se a cada um dos nossos países, mas também nas relações internacionais. No mundo globalizado em que vivemos, esquecê-lo será um grave erro estratégico.
Senhora Presidente,
Entendi ser importante que esta visita servisse para sublinhar o muito que nos aproxima, porque acredito que essa afinidade constitui o melhor dos alicerces para a relação de futuro que queremos construir. Tive já oportunidade de referir aqui a História, os valores e os princípios. Propositadamente, deixei para o fim algo que partilhamos e que define a nossa própria identidade como povos: a ligação ao Mar.
Amanhã, terei oportunidade de inaugurar uma exposição subordinada ao tema “Encontro de Oceanos”, na Casa Museu de Pablo Neruda, em Isla Negra.
Não quis que essa ocasião se limitasse a um mero evento protocolar. Assim, para lá da ilustração gráfica e multimédia que atesta da importância do mar na poesia de expressão lusófona, celebraremos, em conjunto com alunos universitários chilenos que aqui aprendem a língua portuguesa, o Mar como valor partilhado por chilenos e portugueses. Será um momento para ouvir o Mar em “chileno”, nos poemas dos grandes Pablo Neruda e Gabriela Mistral e, também, para ouvir o Mar em português, nessa língua que a mesma Gabriela Mistral definia como “... el tocado natural, o si se quiere, el escarpin de seda que mejor conviene a la poesia lirica.”
Será um momento para celebrar o muito que nos une. E é neste espírito de celebração de tudo quanto nos aproxima e de crença no futuro das nossas relações, que peço a todos que se juntem a mim num brinde à saúde da Presidente Michelle Bachelet, ao Povo amigo do Chile e à prosperidade das relações entre os nossos dois países.
© 2007 Presidência da República Portuguesa