Douglas Cavallari Santana, Brasil
Darci Luz, Brasil
Senhor Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro,
Senhor Vice-Prefeito,
Senhores Secretários da Prefeitura,
Demais Altas Entidades aqui presentes,
Senhoras e Senhores,
Permita-me agradecer, Senhor Prefeito e meu caro Amigo, as amáveis e calorosas palavras que me dirigiu, a mim e a Portugal, e que tão bem reflectem o afecto que une os povos brasileiro e português.
É com grande satisfação que participo hoje nas Cerimónias organizadas pela Prefeitura da Cidade do Rio, momento alto das Comemorações dos 200 Anos da Chegada da Família Real ao Brasil.
É difícil não sentir uma profunda emoção perante aquilo que em nós evoca cada passo do Programa, neste dia que permanecerá para sempre na nossa memória e em que assinalamos o desembarque da Família Real e seu primeiro contacto com a cidade que seria doravante a Capital do Império. Assim se respondia, de forma arrojada e visionária, àquilo que, nas palavras do Príncipe da nossa língua comum, Luís de Camões, se classificaria como um sinal dramático de mudança “dos tempos e das vontades”.
Emoção perante o espectáculo e o concerto a que acabámos de assistir, na admiração por esse espaço, magnificamente restaurado, que é a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, antiga Sé Imperial, lugar de aclamação solene e popular de um Rei que aqui chegou como Príncipe do Brasil, para daqui levar o Brasil no coração.
Emoção nesta sala de um Paço Imperial que acolheu a pessoa do Príncipe Regente e sua Família, mas também, advinha-se, a confusão de sentimentos que devia experimentar quem protagonizava um gesto único na História, cujas implicações eram impossíveis de prever.
Gesto percursor de um processo que conduziria ao nascimento da “Pátria amada”, que canta o Hino brasileiro e que tanto portugueses entoam com a convicção que lhes dita a partilha desse mesmo sentimento.
Porque o Brasil e Portugal são exemplo daquele tipo raríssimo de relações entre Estados que, embora profundamente orgulhosos da sua soberania e identidade próprias, sabem que nunca serão Estados estrangeiros um perante o outro, porque nunca um português será estrangeiro no Brasil, nem estrangeiro será um brasileiro em Portugal.
Outra coisa não diz, afinal, esse grande nome da diplomacia brasileira a quem as relações entre Portugal e o Brasil tanto devem e que faz o favor de ser meu amigo, o Embaixador Alberto da Costa e Silva, numa obra com um título belíssimo - “Invenção do Desenho, Ficções da Memória”. A certo momento, quando descreve o seu primeiro período como funcionário diplomático da Embaixada brasileira em Lisboa, constata: “E, no entanto, eu era feliz. (…) Em Lisboa, sentia-me em casa. Tudo me parecia conhecido. (…) A cidade não se gastava aos meus olhos. As ruas da minha infância como nela se prolongavam, e eu ia decorando as suas formas e cores. Não que todas as Praças, avenidas, ruas e vielas fossem bonitas; algumas eram feias, mas eu as queria assim mesmo, feias.” Será difícil dizer melhor e tocar mais fundo.
Senhor Prefeito,
Sei do empenho e dedicação que Vossa Excelência colocou nestas Comemorações. Quero agradecer-lhe por isso, de forma muito sentida e, através de Vossa Excelência, agradecer a todos os que, sob a sua orientação, deram o melhor de si próprios para o sucesso destas celebrações. Um agradecimento que se dirige, desde logo, aos membros da Comissão constituída para este efeito, mas que quero que chegue a todos quantos, no dia a dia, nas tarefas menos visíveis, tornaram possíveis estes momentos.
Quem agradece é o homem tocado pela emoção do que lhe é dado viver, na certeza de que, daqui a 100 anos, alguém falará deste dia como hoje se fala do nascimento da Urca e do empenho do Barão do Rio Branco nas celebrações que, em 1908, mobilizavam a então capital do Brasil.
Mas quem agradece é, também, o Presidente da República de Portugal, pelo contributo que estas Comemorações representam para o reforço dos laços que unem os nossos dois países. Isso que nos une, e que, em qualquer caso, valeria sempre muito, tem, nos dias de hoje e perante os desafios que os países são chamados a enfrentar, um valor estratégico essencial.
Os países cada vez menos se podem dar ao luxo de ignorar quem com eles esteja disposto a fazer frente comum. E se, para certos dentre eles, se torna necessário um intenso esforço de construção filosófica para justificar a parceria, no caso do Brasil e Portugal ela surge naturalmente. Tão naturalmente, que se queda perplexa perante quem, inseguro, não lhe quer ver as vantagens, em nome de complexos históricos sem sentido em duas nações adultas e confiantes.
Por isso, o que mais me motiva, nestes dias em que juntos celebramos um momento central da nossa História comum, é a convicção de que daqui emerge uma mensagem de confiança renovada na construção de um projecto de futuro, feito de uma cooperação bilateral reforçada e de uma parceria cada vez mais estreita na cena internacional.
Um projecto de que as gerações que virão depois de nós se possam orgulhar. Para que daqui a 100 anos, quando alguém relembrar o que foram estes dias, aqui veja um sinal do futuro promissor que estava para vir.
Senhor Prefeito,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
O Embaixador Costa e Silva herdou de seu Pai o dom da escrita. Se há coisa com que não vale a pena lutar, é contra o ADN que nos corre nas veias. O Embaixador Costa e Silva aceitou-o e com ele construiu uma obra notável. Vossas Excelências compreenderão, certamente, que não resista a recordar um poema do Poeta Da Costa e Silva, um poema singelo e enorme, como são tantas vezes as coisa mais simples, um poema “dobrado em quatro”, que Negrão de Lima tirou um dia da carteira, ao cruzar-se com o filho do Poeta, o Embaixador Alberto da Costa e Silva. Rezava assim:
“As Horas cismam no ar parado;
- Passado
As Horas bailam no ar fremente;
- Presente
As Horas sonham no ar obscuro;
- Futuro.”
Saibamos ser dignos do futuro, porque essa será sempre a melhor forma de sermos dignos do passado.
É em nome desse futuro que peço a todos que me acompanhem num brinde à saúde do Prefeito César Maia e à prosperidade desta Cidade do Rio de Janeiro, ontem, hoje e sempre, “cidade de encantos mil”.
Muito obrigado.
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