Inauguração da Casa dos Marcos, da Associação Raríssimas
Moita, 25 de Novembro de 2013

Chegou finalmente o dia que tantos esperavam e para que tantos trabalharam.
Hoje é tempo para nos alegrarmos com esta Casa, que é tão importante para todos, e infelizmente já são muitos, que precisam dos serviços que ela lhes vai prestar.
Finalmente uma casa para os nossos cidadãos raríssimos.
Tenho muito orgulho em todos os meus afilhados, mas um carinho especial pela Casa dos Marcos, porque a acompanho desde que ela era apenas uma ideia na cabeça da Paula.
E podem crer que leva muito tempo, muito trabalho, muita paciência, muita perseverança, para da ideia passar à casa que temos aqui agora.
Dizem que o sonho comanda a vida e que pelo sonho é que vamos.
Mas quantos sonhos lindos ficaram pelo caminho, porque não tiveram atrás a teimosia de quem trabalhasse a sério para lhes dar alicerces e paredes.
Conheci a Paula e o seu sonho em 2006, assim que cheguei ao Palácio de Belém.
Dirão que sete anos é muito tempo.
“Sete anos de pastor Jacob servia Labão, pai de Raquel, serrana bela;”
Afinal sete anos é tempo curto para o amor que não se deixa morrer, que não se deixa matar. Camões sabia-o.
A Paula e todos, e foram muitos, que percorreram este caminho longo com ela também o sabem.
Porque há amores tão longos que não se deixam desanimar pela “curta vida”.
As famílias, os amigos que hoje estão aqui a regozijar-se porque finalmente este abrigo vai abrir as suas portas e janelas à Vida Rara, são pessoas que conhecem a virtude da persistência, o valor da espera.
Esperar, teimando e fazendo.
Temos aqui o resultado de uma longa e bela teia que se foi tecendo com muitos fios que não deixámos quebrar.
E tantos a puxar esses fios, a entretecê-los, a dizerem sempre que surgia mais algum obstáculo:
- Só falta mais um bocadinho. Não vamos desistir. Vamos lá chegar!
E chegámos. Estamos aqui hoje.
Mas não podemos esquecer que hoje é apenas o princípio de um final feliz.
Temos o Abrigo. O trabalho vai continuar.
Para todos desejo as maiores felicidades nesse trabalho que nos dignifica como comunidade.
Tenho muito orgulho no que o meu país está a fazer pelos seus cidadãos mais vulneráveis.
Fomos aprendizes tão empenhados em recuperar o tempo perdido que, hoje, quando visitamos as nossas instituições que trabalham na difícil e exigente área das fragilidades físicas e mentais, sentimos uma legítima vaidade pelos prémios de excelência recebidos, pelos enormes avanços nas competências humanas e tecnológicas que podemos testemunhar.
Foi tão grande o nosso empenho que hoje já muitos querem aprender connosco.
Há pouco tempo recebi a visita da Primeira Dama da Republica Dominicana que veio a Portugal com o único objetivo de visitar uma instituição ligada ao desenvolvimento infantil de crianças com problemas, para levar para o seu país pistas de trabalho nessa área.
A Casa dos Marcos é mais um marco – desculpem-me o trocadilho – nesse caminho andado.
Vamos continuar a andar.
Obrigada a todos e boa sorte para a caminhada.

Maria Cavaco Silva