Foi com um enorme gosto que anuí ao convite da Fundação Mercedes Calles y Carlos Ballestero para expor os meus presépios na sua Casa de Cáceres.
Várias razões houve para não hesitar muito.
Conheço Cáceres e admiro muito o seu belo conjunto monumental que tanto nos ensina sobre o caminho dos homens e seus edifícios ao longo dos séculos.
Várias vezes emprestei presépios a França, país com o qual tenho mantido contactos frutuosos através desta paixão, que tem mais seguidores do que eu pensava.
Era, enfim, tempo de atravessar a fronteira para o nosso mais vizinho de todos os países da Europa.
Partilhamos há séculos um território, partilhamos fortes aspectos culturais que têm construído aquilo que é a nossa identidade como nações próximas, mas autónomas e diferentes.
O Museu da Presidência, no qual confio totalmente, teve um papel muito importante, porque se apresentou sempre como um grande entusiasta da Fundação.
A Fundação foi, sem dúvida, um argumento de grande peso, dado que persegue objectivos todos eles muito caros à minha maneira de estar na vida: cultura, solidariedade, ambiente, ciência.
Estamos reunidos, nesta belíssima Catedral, para abrirmos em Cáceres o caminho percorrido desde Lisboa pelos presépios da Colecção da mulher do Presidente da República de Portugal.
Esse caminho, geograficamente apenas de Lisboa a Cáceres, tem no tempo uma expressão muito mais longa.
Quando me perguntam como nasceu este meu interesse tão particular por presépios, que me levou a juntar até hoje algumas centenas, tenho dificuldade, ou mesmo impossibilidade, de marcar uma data.
O que acontece com a minha geração, de um pós-guerra muito difícil e austero vivido na cidade de Lisboa, deve ter marcado para sempre a minha infância e as suas vivências do Natal.
Um Natal sem consumismo – sem Pai Natal, sem renas, sem árvore de Natal. Essas tradições nórdicas não fazem parte das pessoas do meu tempo de infância.
Era o Menino Jesus que trazia os presentes na noite de 24/25 de Dezembro, descendo pela chaminé e depositando-os cuidadosamente nos sapatos que as crianças tinham lá colocado.
As cartas escreviam-se ao Menino Jesus e, claro, havia sempre um presépio para O receber com a dignidade que o seu aniversário exigia.
Mais tarde vim a saber do papel de S. Francisco de Assis, um Santo muito da minha devoção, na primeira encenação do Nascimento de Cristo.
Mas as paixões também não se explicam muito e, como adulta e com um trajecto de vida propício a muitos contactos internacionais e muitas viagens, vi-me dona de uma colecção variada em materiais, origens, países e abordagens, ora eruditas ora populares.
Quando estava no Palácio de S. Bento, residência oficial do Primeiro Ministro, todos os anos pelo Natal espalhava presépios nas decorações natalícias, para que a árvore tivesse sempre a companhia do que era para mim o mais português símbolo do Natal.
Aí o interesse tornou-se público, a colecção começou a crescer e não mais parou.
Noto nas novas gerações, para lá da adopção das mais atraentes e coloridas tradições nórdicas do S. Nicolau e da Árvore, um interesse crescente pela cena do presépio.
Temos em Portugal artesãos e artistas que têm dado vida, de uma forma extremamente original e atraente, à ideia base do Nascimento em Belém.
É esse meu mundo que desejo partilhar hoje convosco porque o Natal é tempo de partilha.
Que tenham tanto gosto em recebê-los em Cáceres como eu tive em trazê-los de Lisboa até cá.
Que tengan tanto gusto en recibir mis Belens, como yo he tenido a traherlos hasta aqui!
Muchas Gracias y Feliz Navidad para todos ustedes!