Celebramos o Ano Europeu do Voluntariado, causa que me é, diria que nos é a todos os que estamos aqui hoje, muito cara.
Com os prémios Mulher Activa, celebramos também o nosso voluntariado.
Na semana passada, o Príncipe Carlos de Inglaterra fez uma alusão elogiosa à alma voluntária do seu povo.
E eu, que nos anos 70, quando vivi em Inglaterra, entrei em contacto com essa realidade que muito me estimulou, dei comigo a pensar que já podia fazer também um grande elogio aos voluntários do meu país.
Que bom! – pensei. Como foi rapidamente e bem percorrido o caminho do voluntariado em Portugal.
Conheço uma portuguesa, radicada há muitos anos na área financeira em Nova York, que me tem ensinado muitas coisas, muito úteis. Tem uma profissão muito exigente (eu imaginaria que, com um emprego daqueles, estaria a maior parte do tempo amarrada a uma secretária e a um telefone) e para lá disso corre maratonas - nesta altura já vai muito para lá das 100 - e passa os dias de férias dando uma mãozinha a organizações não governamentais em partes difíceis do mundo.
Um dia em que, como voluntária, me acompanhou numa visita ao MET - NY, disse-me uma coisa que nunca mais esqueci:
“Se queres alguma coisa bem feita, pede a uma pessoa muito ocupada”.
Parecia um disparate mas, quando pensamos bem, faz todo o sentido.
A minha experiência dos últimos anos tem-me mostrado como isto é uma verdade quase do senhor de La Palisse: quem mais faz está sempre mais disponível para ajudar os outros e fazer mais ainda.
Temos connosco hoje cinco mulheres sempre disponíveis, porque muito, muito ocupadas.
Minhas senhoras, tenho muito prazer em vos apresentar a Emília, a Joana, a Margarida, a Rosário e a Sandra, as candidatas ao Prémio Mulher Activa 2010.
Este ano, se a minha amiga Alice deixar que eu use o título da sua estória na Activa de Abril, chamar-lhes-ei as mulheres dos dias úteis.
Se a saída da crise que nos sufoca e não é mais possível ignorar é, como já ouvi e li várias vezes, gastar menos e trabalhar mais, aqui temos cinco belos exemplos no feminino.
Devemos muito a estas mulheres que, em diferentes áreas, não quiseram ficar na total dependência do Estado e meteram mãos à obra.
Puseram os seus talentos, no sentido bíblico do termo, à disposição da comunidade e todos ficámos mais ricos. Elas também. Todos sabemos as obrigações do Estado. Mas todos sentimos que corações partidos e animais abandonados, para dar só dois exemplos, nunca foram uma especialidade estatal.
Estas mulheres dos dias úteis não precisaram de tempos difíceis para porem os seus talentos ao serviço dos outros.
Só estamos verdadeiramente vivos quando nos abrimos ao outro e nos aproximamos dele com um olhar amigo, sem julgar.
Não julgues para que não sejas julgado.
A partir de uma experiência difícil, às vezes angustiante, é possível recomeçar e envolver outros nesse recomeço.
Outros que queremos trazer connosco a uma nova esperança de vida, outros que vão trabalhar connosco nessa vida renovada que a solidariedade fez renascer.
É como a multiplicação dos pães. Quando olhamos à volta, a semente pequena que estas mulheres de coragem puseram a germinar já é uma obra maior do que elas, muito maior do que a dor donde nasceu, talvez mesmo muito maior do que os sonhos que estão na origem de todos estes projectos a que estão ligados o nome e o trabalho das nossas candidatas de hoje.
Comecei a fazer contas por alto e cheguei à conclusão de que são milhares as pessoas a que chega a ajuda das instituições que estas senhoras dos dias úteis inventaram.
Não tenhamos ilusões: o voluntariado é muito bonito mas não é um campo de flores para onde possamos avançar cheios de impulsos líricos. É um mundo real, bem mais difícil do que o nosso habitual dia a dia, na nossa zona de conforto.
Reparem só nas áreas onde trabalham estas nossas heroínas do quotidiano e percebem logo o que quero dizer. É um mundo duro, onde encontram diariamente muitas lágrimas que têm de enxugar. Onde há com certeza momentos em que apetece fugir, porque os resultados não aparecem, porque os recuos, por vezes, são mais do que os avanços. É preciso ter os pés bem assentes na terra e, nos tempos que correm, eu diria que é também preciso saber fazer contas.
Talvez seja pelo facto de a Rosário ser tão boa em contas que o Centro Comunitário da Senhora da Boa Nova vai de vento em popa.
Este prémio é também uma ocasião, infelizmente quase única, de chamarmos a atenção para algumas mulheres notáveis que fazem um trabalho importantíssimo para a sociedade.
Um trabalho em áreas tão diversificadas como dar ânimo a quem sofreu a dor maior de ter perdido um filho.
Na teimosia da investigação científica que exige, a quem a ela se dedica, a capacidade de começar de novo várias vezes ao dia.
Num Banco de Informação especial para pais com filhos diferentes, que se sentem sempre tão perdidos quando nasce uma criança que precisa diariamente de cuidados vários e muito exigentes.
Na dignificação de toda uma comunidade de milhares de pessoas que sem essa ajuda diária e constante continuaria no Fim do Mundo. Agora já é uma Comunidade de Boa Nova.
De querer dar resposta a um problema, mais agudo ainda em épocas de crise: o abandono de animais de companhia.
São pessoas que não têm os holofotes da comunicação social em cima todos os dias. Nós é que temos de ir procurá-las.
Por isso quero também deixar aqui um grande agradecimento a todos os que as propuseram para o prémio e chamaram a nossa atenção para o seu valor. No fundo é uma rede que nos ajuda a dar visibilidade a quem verdadeiramente a merece.
Desejo muito que para o ano estejamos todos aqui de novo a homenagear outras mulheres notáveis como estas, dizendo-lhes, com este prémio, quanto as admiramos.
Ganhe quem ganhar, o prémio fica em mãos que o vão utilizar bem ao serviço dos que mais precisam.
Termino com a frase que digo todos os anos na atribuição do Prémio Mulher Activa:
Tenho muito, muito orgulho nas mulheres do meu país.