É com um gosto muito particular que hoje estou convosco neste II Simpósio de Estudos de Língua Portuguesa.
Talvez alguns dos muitos que felizmente estão aqui saibam que durante muitos anos fui professora de português na Universidade Católica Portuguesa, tanto para alunos portugueses como, depois, para alunos do Programa Erasmus, que vinham de muitos países, não só da Europa, como de zonas bem mais longínquas como Argentina, Venezuela, Estados Unidos da América. Foi uma experiência riquíssima e que me marcou muito.
Desde que o meu marido foi eleito Presidente da República, que, com muito gosto, me assumi como uma espécie de Embaixadora de Boa Vontade da minha amada Língua Portuguesa. Aproveito as viagens oficiais para entrar em contacto com aqueles que ensinam e aprendem a nossa língua e a nossa cultura por esse mundo fora.
Dei uma aula na casa de Pablo Neruda, no Chile; em Berlim, fui a uma escola onde tive o prazer de verificar que os alunos que estudavam português eram todos vindos dos Palop de África; fui a uma Universidade em Ancara à aula de um jovem leitor e poeta que está a fazer um excelente trabalho junto dos jovens turcos. Enfim, glosando o poeta, “se mais mundo houver, lá chegarei…” sempre com a alma em festa por poder partilhar o meu gosto por esta língua que nós, os portugueses, partilhamos agora com mais sete países independentes.
O português autonomizou-se há mais de 700 anos, e nele convivem há séculos duas grandes literaturas e, nas últimas décadas, estão a emergir outras que, apesar da sua juventude, já possuem obras e autores internacionalmente reconhecidos.
A língua portuguesa continua a ser a nossa pátria, como queria Fernando Pessoa ou como, antes dele, já dizia Eça de Queirós: na língua reside verdadeiramente a nacionalidade.
Mas hoje, o português tornou-se uma pátria feita de muitas pátrias, um espaço aberto onde comunicamos e onde florescem diversas literaturas, cada uma delas moldando e enriquecendo à sua maneira a língua comum.
A língua de Camões e Vieira, de Guimarães Rosa e Sophia de Mello Breyner, é agora também a língua de Pepetela, Agualusa e Mia Couto, para referir apenas alguns dos que actualmente vêm sendo traduzidos, com mais frequência, em dezenas de outras línguas.
Não podemos nem queremos subestimar o valor dessa herança, que é um motivo de justificado orgulho para os mais de 200 milhões de falantes do português, mas que deve ser também encarada como um património que estimamos, preservamos e queremos dar a conhecer aos outros.
O simples facto de tantos milhões de pessoas comunicarem em português, seja como língua materna, como língua oficial, ou como segunda língua, faz com que seja imperativo garantir o seu ensino e a sua divulgação a nível internacional.
O português tem de afirmar-se como uma «língua global». É uma língua que se pode ouvir nos quatro cantos do mundo e, por isso mesmo, justifica-se que muitos outros se sintam motivados a aprendê-la como língua estrangeira.
Caros colegas:
O vosso contributo para a realização destes objectivos nacionais foi até hoje, e vai decerto continuar a ser no futuro, não apenas inestimável mas também imprescindível.
Sem a vossa dedicação e o vosso saber, não estaríamos certamente a assistir ao crescente interesse, um pouco por todo o mundo, em aprender português e em conhecer a qualidade e a singularidade de cada uma das literaturas que em português se escrevem.
Quero, por isso, deixar aqui bem expressa e vincada a gratidão de todos aqueles que falam a língua portuguesa, pelo vosso trabalho e por tudo quanto ele representa para o nosso e os vossos países.
Muito obrigado a todos. Tenho a certeza de que este alargadíssimo Simpósio vai ser um êxito, para bem da língua que todos, com orgulho, partilhamos.
Maria Cavaco Silva